Preparada pra parada?
Detesto ser literal, mas me pareceu que a moça não tinha medo de Jesus, nem aversão, nem ódio. E não vi o menor sinal de desrespeito ao Cristo
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Eu vi diversas imagens da performance, neste último domingo 7, da belíssima modelo Viviany Beleboni sobre um trio elétrico, na 19ª edição da Parada LGBT.
Com o corpo ensanguentado, e o busto nu, a transexual estava pregada a uma cruz, numa clara alusão à paixão de Cristo.
No lugar do INRI, lia-se: Basta de Homofobia LGBT.
Pastores de araque e fundamentalistas desmiolados partiram para cima da modelo, choveram xingamentos, insultos e pedradas.
Feliciano chamou o gesto de Cristofobia.
Fraude.
Detesto ser literal, mas me pareceu que a moça não tinha medo de Jesus (fobia é medo), nem aversão, nem ódio.
E não vi o menor sinal de desrespeito ao Cristo.
Muito pelo contrário, onde houver seres humanos sendo mal tratados, assassinados, escarnecidos, torturados e desprezados, Cristo deve estar presente.
Ali era o lugar.
E oh, um dos fundadores do cristianismo, São Paulo, nada mais era que um assassino. Perseguia e matava aqueles que criam no Cristo.
Não tô vendo ninguém jogar pedras em Paulo, vejo todos lendo e recitando seus escritos.
Escritos, estes, ratificados por Constantino, o imperador sanguinário que usou a imagem da cruz como amuleto para vencer batalhas e matar inimigos.
Constantino chegou a pintá-la nos escudos de seus soldados. Profanação?
Quando escrevi o artigo Je Ne Suis Pas Charlie, entendia que os cartunistas assassinados - embora não merecessem a morte - zombavam de forma ridícula, infame, aviltante e inaceitável, de alguns símbolos religiosos.
Enfiavam coisas no ânus de Maomé, cravejavam de balas um que segurava o Corão... desdenhavam da fé e dos fiéis; eram, em suma, uns babacas intolerantes.
Por outro lado, Viviany não cuspiu na cruz, não fez sexo na cruz, não a tratou com desrespeito. Ela a usou na sua mais direta acepção cristã.
A cruz é um instrumento de tortura criado pelos persas. Mais tarde foi adaptada pelos romanos, que também a utilizavam como propaganda do terror.
Esse marketing grotesco que o ISIS faz hoje Wlad, o draculesco Empalador, já o fez outrora e os romanos também.
Certa vez crucificaram milhares de pessoas e as deixaram penduradas ao longo de um caminho. Para que todos soubessem do que os romanos eram capazes.
A cruz foi o primeiro outdoor.
O cristianismo fez deste símbolo de morte e sofrimento, a imagem da ressurreição, do trunfo do amor e do perdão contra a violência.
E era exatamente isso que Viviany queria dizer quando se deixou crucificar, "para representar a agressão e a dor que a comunidade LGBT tem passado".
Onde o desrespeito?
A Brasil é um país cruel. Aqui se mata mais travestis do que em qualquer outro lugar do mundo.
Gays e lésbicas apanham covardemente nas ruas, e alguns grupos religiosos, liderados por falsários, legitimam toda essa violência quando fazem coro com os intolerantes.
Jesus era um homem que preferiu viver com as minorias, os doentes e os pobres.
Cristo, pelo que consta, curou cegos, leprosos, coxos, entrevados, chegou até a ressuscitar um cabra, mas jamais se incomodou ao ver um homossexual.
E ele os viu e aos montes, porque eles sempre houveram e em todos os lugares; e ademais, entre romanos e gregos - que estavam sempre ali por perto - isso não era um comportamento tabu.
E quando Jesus se meteu em assuntos de alcova, ele o fez para proteger uma prostituta da turma do Malafaia e do Feliciano, que já estavam com as pedras em punho, prontos para extravasarem seu ódio, sua intolerância e sua hipocrisia.
É por isso que eu aceito o que vem de Deus, mas abomino o que vende Deus.
Esses que fazem de Jesus uma mercadoria, que distorcem sua palavra para pregar o ódio, é que desrespeitam o crucificado.
Uma moçada religiosa entendeu isso e apareceu na Parada com cartazes bacanas dizendo que Cristo cura a homofobia.
Cura, sim.
Palavra da salvação.
PS: foi-se o tempo dos viados. Aqueles tipos magros, frágeis, lépidos e campeiros. Não que eles estejam ameaçados de extinção. Mas é que agora o que tá bombando é o seu primo bombado, o alce. Bicha, como tinha alce nessa Parada, uns cabra forte, anabolizados!
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