Prêmio Nobel denuncia esquema que sustenta Putin
A quem Putin protege, com tanques e mísseis que ameaçam produzir uma carnificina que envergonhará a memória deste século?

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Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, um dos mais competentes representantes do pensamento econômico progressista no planeta, lança um questionamento de fundo no debate sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, escreve Paulo Moreira Leite, do Brasil 247.
Num artigo intitulado "Lavagem de dinheiro, a fragilidade de Vladimir Putin" (New York Times, 26/2/2022) Krugman faz a pergunta que não quer calar: quais interesses econômicos estão por trás da invasão da Ucrânia? A quem Putin protege, com tanques e mísseis que ameaçam produzir uma carnificina que envergonhará a memória deste século?
Referindo-se sem eufemismos à "vasta riqueza estrangeira dos oligarcas que cercam Putin e o ajudam a permanecer no poder", Krugman recorda que "todo mundo já ouviu falar sobre iates gigantes, franquias esportivas e casas incrivelmente caras em vários países. Há tanto dinheiro russo altamente visível no Reino Unido que algumas pessoas falam sobre 'Londongrado", acrescenta, com ironia.
O Prêmio Nobel também cita economistas respeitáveis -- entre eles Thomas Piketty, do clássico O Capital no século XXI" -- para lembrar que nos últimos 30 anos a economia russa registrou um quadro patológico de desigualdade e concentração de riqueza, acumulando enormes superávits, camuflados artificialmente pelas estatísticas oficiais.
"Como isso é possível?", pergunta Krugman. Ele mesmo responde: "A explicação óbvia é que os russos ricos estão roubando grandes somas e as estacionando no exterior", escreve, citando uma estimativa de 2015 segundo a qual a riqueza russa escondida no exterior "equivalia a 85% do PIB do país", fatia colossal que causa espanto até mesmo a quem conhece outros casos de riqueza camuflada e desigualdade social escancarada.
Ao definir a lavagem de dinheiro da oligarquia russa como a principal contribuição do Ocidente à sustentação de Putin, Krugman oferece uma reflexão útil para discutir o futuro da guerra -- fora dos campos de batalha.
Descreve um sistema de mão dupla, no qual a oligarquia conta com a boa vontade dos endinheirados do Ocidente -- muito bem remunerados, diga-se -- para proteger seus interesses e partilhar seus ganhos.
Na sua visão, o futuro de Putin e seu governo não será resolvido nos campos de batalha, por mais dolorosos que sejam os sacrifícios da população. A questão essencial é saber se a elite financeira global terá disposição de cortar o oxigênio de associados tão endinheirados.
Krugman aplaude uma medida em discussão, a exclusão da Rússia do Swift, o sistema belga para pagamentos de recursos internacionais, mesmo recordando que a medida pode levar a uma contrapartida dramática -- "interrupção no fornecimento de gás russo," numa conjuntura na qual o hemisfério norte se aproxima dos rigores do inverno.
O Prêmio Nobel explica, contudo, que o enquadramento dos oligarcas russos só será efetivo caso os centros financeiros internacionais tenham disposição de ir atrás de "todos os lavadores de dinheiro, de onde quer que eles venham --e embora os plutocratas russos possam ser os campeões mundiais nesse esporte, eles não são únicos".
Sua conclusão é uma advertência simples e clara.
"Tomar medidas efetivas contra a maior vulnerabilidade de Putin exigirá enfrentar e superar a própria corrupção do Ocidente," adverte, deixando suas dúvidas no ar: "descobriremos nos próximos meses".
De minha parte, nada a acrescentar.
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