Pragmatismo em excesso
"A decisão do PT de abortar a candidatura de Marília Arraes em Pernambuco talvez tenha sido a mais equivocada dos últimos tempos. Mais do que impedir a provável e triunfante volta da família Arraes ao palácio Campo das Princesas, o centralismo democrático petista retirou da militância o mais contagioso ingrediente do processo político: a esperança", diz o colunista Ricardo Bruno; ele afirma ainda que "sacrificar Marília talvez seja o mais notório indicador de que o próprio PT considera remotíssima a possibilidade de Lula se candidatar"
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A decisão do PT de abortar a candidatura de Marília Arraes em Pernambuco talvez tenha sido a mais equivocada dos últimos tempos. Mais do que impedir a provável e triunfante volta da família Arraes ao palácio Campo das Princesas, o centralismo democrático petista retirou da militância o mais contagioso ingrediente do processo político: a esperança. Após anos de baixa, durante o qual suas lideranças de proa foram abatidas uma a uma – quase sempre injustamente – o PT tinha em Marília o primeiro sinal candente de renovação. No universo partidário, ninguém inspirava tanta confiança e esperança. Marília era a chama de um novo PT que começava a ser construído na terra de Lula e pelas mãos de uma neta de Miguel Arraes. Essa combinação de elementos históricos da esquerda brasileira, somada ao seu jeito afável e carismático, a fez símbolo da esperança ressurgente no maior partido da esquerda brasileira. Retira-la de campo, em nome de uma frouxa aliança com PSB, foi um golpe na militância.
Obvio que não se pode tratar com romantismo o xadrez eleitoral; há que se ter pragmatismo. Mas em dose correta, sem exageros que retirem do processo a utopia que empresta beleza e paixão à política. Esta sempre foi a diferença a afastar os partidos de esquerda do bloco de siglas à direita, onde prevalecem sempre, a qualquer custo, em qualquer situação, os interesses eleitorais rasos e imediatos.
Não é apenas este o problema do PT. A provável ausência de Lula na disputa é o outro elemento a retirar paixão da militância. O quadro traz algum desalento: a mais nova e promissora liderança petista foi forçada a se retirar da partida; e o mais forte e carismático líder da sigla está impedido de entrar em campo. São duas razões e tanto para desmotivar e fazer baixar o moral da tropa. Ainda que se lance um outro nome – Jacques Wagner ou Haddad – para substituí-lo com o jogo em andamento, o perigo é a torcida perder o ardor para empurrar o time em direção a vitória.
Some-se, ao equívoco do conteúdo da deliberação, a forma desastrada com que a direção nacional conduziu o processo. Ao invés de trazer Marília para o centro das negociações , de modo a fortalecê-la, os dirigentes petistas a fizeram vítima de uma conspiração de cúpula. Aos olhos da opinião pública, o sonho da neta de Arraes foi interrompido por uma maquinação do comitê central, abortando o projeto mais vigoroso de renovação partidária.
Sacrificar Marília talvez seja o mais notório indicador de que o próprio PT considera remotíssima a possibilidade de Lula se candidatar. Convenhamos, não seria fundamental para sua candidatura um apoio frouxo e pouco efetivo do PSB. A liderança e a presença acachapante do candidato no Nordeste prescindem de um apoio ralo como este. Já um substituto não poderá abrir mão da força do PSB na região para consolidá-lo junto ao eleitorado. A insistência com que o partido buscou este apoio revela que hoje a direção nacional já trabalha efetivamente com a possibilidade de um outro nome. A conferir.
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