Pra não dizer que não falei de Neymar
Temos tudo pra ganhar a Copa sem Neymar. Já ganhamos Copa sem Pelé. E Neymar não é o Rei
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Vamos parar com isso. Não há críticas a Neymar porque o brasileiro é ingrato, sacana, diferente do povo argentino que cultua Messi e do pessoal português que ama Cristiano Ronaldo. Critica-se Neymar por causa de Neymar, porque ele, sim, é arrogante, mau cidadão posto que sonegador contumaz, politicamente questionável, eticamente discutível. Porque fora do mundinho dele, para ele, não existe mais nada ou mais ninguém.
Critica-se Neymar porque ele é que faz tudo para parecer um mau brasileiro, ingrato e sacana. Para começo de conversa, tudo tem que girar em torno dele, nunca em benefício do coletivo e do País. Ser eleitor e cabo eleitoral de Bolsonaro é um direito de qualquer um. No caso de Neymar, ser garoto propaganda de um regime fascista não é agravante. Apenas, consequência natural.
Vai ser difícil pesquisar a vida do “menino Ney” e encontrar algum posicionamento sensato, solidário, em defesa de quem realmente precisa e não apenas dos “parças”. Mimado e criado numa redoma, pelos pais, pela mídia e por alguns colegas, ele se basta. Dentro do seu conjunto da obra, é complicado, com um mínimo de distanciamento, encontrar virtudes extra bola pra mostrar.
Sua relação com os amigos de bola é de uma idolatria doentia. Um deles, o ponta Rafinha, chegou a por no mesmo balaio de “maus brasileiros” toda a torcida brasileira: “O problema dele (Neymar) é ter nascido no Brasil”. Não é, não, Rafinha. O problema dele é viver cercado de gente com o senso crítico semelhante ao seu.
Falar no treinador da Seleção, aí então é chover no molhado. Para Tite, os atuais aparentes 12 anos do seu Peter Pan deve ser compreendido e admitido, incondicionalmente. A relação dois dois é inversa. Neymar parece o verdadeiro comandante. Há quem aposte que tem o dedo do jogador na convocação do vetusto lateral direito Dani Alves, o nome mais contestado do grupo escolhido pelo treinador (Tite).
No campo, na estreia brasileira contra a Sérvia, Neymar Jr. chegou a aprontar. Partida, diga-se, na qual ele não esteve entre os melhores até se machucar e sair. Não foi surpresa ver a sua reação ao receber um abraço caloroso do astro do jogo, o centroavante Richarlisson, que acabara de marcar um dos dois gols que fez, e reagir blasé, distante, de braços arriados.
A volta do intervalo foi outro exemplo comportamental de um legítimo Neymar. O “menino” adentrou as quatro linhas com a camisa principal nas mãos. Já em cancha, demorou quase 1 minuto e meio para terminar de se arrumar, vestir a camisa (não poderia até ter levado cartão amarelo?) e amarrar as chuteiras, com o jogo já rolando. Um espetáculo de estrelismo.
Não é o caso de se torcer para ele ter se machucado seriamente e ter que ficar de fora. Humanamente, não. Mas, digo isto com certa surpresa, o Brasil demonstra ter, nesta Copa, um time arrumado, sobretudo no ataque. Ao contrário dantes, a ausência de Neymar não significará o fim do mundo. Não é um "sem ele, levaremos de 7x1", como dirão os "neymáticos". Ou "neyssonaros", como queiram.
Não há mais a dependência de Neymar. Nesta Copa, a tirar pela estreia, o talento brasileiro perderia muito mais com a ausência de Vinícius Júnior, de Paquetá ou de Richarlisson. Talvez a equipe canarinha jogue até mais à vontade.
Com o ataque farto e entrosado, chegamos ao Catar podendo repetir o que houve na Copa de 1962, no Chile, quando perdemos Pelé no segundo jogo e o céu não caiu. Pelo contrário, na época, tínhamos em Amarildo um reserva mais do que à altura e em Mané Garrincha o novo protagonista do torneio, no lugar do Rei contundido.
Sem querer comparar dois jogadores que só se assemelham no 10 da camisa, temos tudo pra ganhar a Copa sem Neymar. Já ganhamos Copa sem Pelé. E Neymar não é o Rei.
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