Povo da floresta amazônica ajuda no equilíbrio climático do planeta e nem luz tem para viver
As comunidades tradicionais devem esperar mais algumas décadas para terem acesso aos benefícios da energia elétrica, de valor infinitas vezes menor que o papel que elas exercem, há séculos, de preservar a floresta que mais ajuda a equilibrar o clima do planeta, entre outros valiosos ativos ambientais que oferece ao mundo
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Uma das manchetes do jornal Folha de São Paulo desta quinta-feira, 28/03, diz que “as comunidades na Amazônia começam a troca diesel por energia solar”, mas logo abaixo do título vem a ressalva de que “projetos com fontes renováveis, porém, esbarram em acesso e falta de apoio”.
Essa ressalva significa certamente um dos maiores paradoxos do mundo atual, pois tais comunidades são formadas por índios, seringueiros, ribeirinhos e outros povos amazônicos, que há séculos fazem um bem incalculável para toda a humanidade preservando, protegendo e cuidando da maior floresta tropical do mundo, absolutamente essencial para o equilíbrio climático de todo o planeta e o bem-estar de seus habitantes.
Ou seja, tudo é ainda muito difícil quando se trata de beneficiar esses povos tradicionais – tão importantes e benéficos para a saúde ambiental da Terra – com energias alternativas aos derivados do petróleo que podem tirá-los da eterna escravidão do preço elevado e da poluição que o óleo diesel e o querosene levam para dentro da floresta.
O óleo diesel é usado há décadas para movimentar as usinas termelétricas que geram eletricidade em grande parte da Amazônia. Sem energia elétrica alguma, as comunidades amazônicas mais longínquas dependem de velas e do querosene para abastecer as lamparinas e os candeeiros que evitam a escuridão total no interior da grande floresta.
Em matéria publicada em 11 de fevereiro deste ano, o site Expresso Amazônia (www.expressoamazonia.com.br) assinala que um dos graves problemas sociais e econômicos ainda pendentes na Amazônia é a ausência de energia elétrica em favor de dois milhões de pessoas da região, o que equivale a 10% de sua população de 20 milhões de habitantes.
A matéria do Expresso Amazônia assinala, ainda, que a organização não-governamental Instituto Socioambiental (ISA) garante que em parte das comunidades isoladas na região da grande floresta mundial, a eletricidade só existe por causa de alternativas socioambientais não provenientes dos meios convencionais proporcionados pelas grandes distribuidoras de energia do país (ver matéria AQUI).
Na matéria da Folha de São Paulo, a repórter Ana Carolina Amaral diz que Ciro Campos, assessor do ISA, ressalta que as empresas distribuidoras de energia no país ainda não contam com capacidade técnica para atender às regiões remotas da Amazônia com energia renovável.
Outro gargalo, segundo o assessor da ONG, é a falta de empresas qualificadas no setor de renováveis, que poderiam ser contratadas pelas concessionárias para atender às comunidades da Amazônia. “O governo precisa sinalizar para o mercado com um plano de metas, assim o mercado se prepara para atender isso, investindo e capacitando pessoal”, assinala Campos.
Também ouvido pela Folha, Paulo Cerqueira, coordenador de políticas sociais do programa federal Luz Para Todos, lembra que as empresas concessionárias de energia elétrica são obrigadas a levar energia às regiões remotas do país.
O que, em se tratando do governo de Jair Bolsonaro, que já deixou claro que não dá o menor valor a índios, meio ambiente e pobres, significa dizer que os povos da floresta dificilmente terão qualquer ajuda da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ou de qualquer outro órgão federal para cobrarem a obrigação das empresas concessionárias de energia de lhes fornecerem eletricidade.
Na última terça-feira, restou ao coordenador do programa Luz para Todos pedir aos representantes das comunidades da floresta, presentes no simpósio “Energia e Comunidades”, realizado em Manaus (AM), que solicitem a energia elétrica às concessionárias.
O que significa dizer, em outras palavras, que as comunidades tradicionais devem esperar mais algumas décadas para terem acesso aos benefícios da energia elétrica, de valor infinitas vezes menor que o papel que elas exercem, há séculos, de preservar a floresta que mais ajuda a equilibrar o clima do planeta, entre outros valiosos ativos ambientais que oferece ao mundo.
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