Povo brasileiro 2, Bolsonaro 0
"Antes mesmo da posse, Bolsonaro enfrenta oposição popular a duas medidas importantes de seu governo, a venda do controle de armas e a submissão da diplomacia brasileira aos Estados Unidos", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "A rejeição popular a essas propostas mostra que as contradições entre Bolsonaro e o eleitorado tendem a se acentuar com o tempo, na medida em que o novo governo for levado a mostrar as verdadeiras intenções, muito bem escondidas numa campanha presidencial sem debate político real, apoiada em fake news. A reforma da Previdência é o próximo ponto da lista", prevê PML
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Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Jair Bolsonaro sequer tomou posse mas os sinais de que chegará ao Planalto após uma campanha sem um debate político real, para defender propostas que contrariam a vontade da maioria da população, já se tornam evidentes.
Sabemos que na diplomacia, Bolsonaro fez da subordinação ao governo norte-americano de Donald Trump o ponto fundamental da colocação do Brasil no mundo.
O diplomata escolhido para o ministério das Relações Exteriores é autor um artigo no qual se refere ao presidente dos Estados Unidos, país com o qual o Brasil até possui pontos de vista convergentes mas também conserva um histórico de resistência a um esforço permanente de hegemonia e mesmo dominação, como a última esperança de salvação. Fala em "Deus de Trump". Na mesma toada, em visita aos EUA, Eduardo Bolsonaro, o mais visível dos filhos presidenciais, chegou a vestir um bonezinho da campanha Trump 2020.
Apesar disso, quando o Data Folha perguntou aos brasileiros o que eles estão achando disso, a resposta foi fulminante: 66% condenaram a prioridade da diplomacia aos EUA.
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Hoje, na véspera da posse, outro ponto se encontra na berlinda: a compra de armas de fogo.
Dois dias depois do próprio Bolsonaro ter anunciado que pretende facilitar a posse de armas por um simples decreto, e o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, ter comparado a propriedade de um revólver a propriedade de um automóvel, os brasileiros informam que tem outra opinião. Um total 61% são contra a posse de armas e apenas 37% são favoráveis. É uma diferença respeitável, de 24 pontos, muito superior, àquela que Bolsonaro obteve no segundo turno da campanha presidencial (55 a 45). Também é uma opinião consistente. Há pelo menos cinco anos que, perguntados sobre a posse de armas, uma maioria de brasileiros se coloca contra. Antes do placar apurado em dezembro de 2018, resultado sempre foi na mesma direção, com diferenças no placar: 68 a 30 em 2013, 55 a 43 em junho de 2017.
A falta de compromissos reais de Bolsonaro com a democracia impede que se tenha qualquer ilusão de que poderia curvar-se à opinião da maioria e fazer necessárias correções de rumo. Não é por aí.
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A rejeição popular a duas propostas essenciais do novo governo mostra um fato importante, porém. As contradições entre Bolsonaro e o eleitorado brasileiro tendem a se acentuar com o tempo, na exata medida em que seu governo for levado a mostrar a verdadeira face e as verdadeiras intenções, muito bem escondidas numa campanha presidencial inundada por fake news, na qual ele escapou de todo debate real. O placar 2 a 0 é o primeiro sinal disso. Outros virão, mais cedo do que os amigos do novo governo gostam de imaginar. A reforma da Previdência é o próximo ponto da lista.
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