Possibilidades pós-crimes

Sérgio Moro é o rato político em evidência e pode estar se cacifando para futuras eleições como o candidato da extrema direita, provavelmente na sucessão do general Mourão. Mas, ao que tudo indica, se conseguir delatar Bolsonaro em detalhes será também réu confesso pela omissão e prevaricação ao longo do último ano e meio.



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Sérgio Moro é o rato político em evidência e pode estar se cacifando para futuras eleições como o candidato da extrema direita, provavelmente na sucessão do general Mourão. Mas, ao que tudo indica, se conseguir delatar Bolsonaro em detalhes será também réu confesso pela omissão e prevaricação ao longo do último ano e meio. A justiça poderá amenizar a pressão sobre ele, dependerá de supremos humores e de outros cálculos políticos, bem o sabemos.

Alexandre de Moraes, por seu turno, surpreende com sua altivez na decisão de suspender a nomeação do amigo da família Bolsonaro para a Polícia Federal. Ainda que o ministro seja o homem de Michel Temer no STF e seu ato possa representar apenas briga de facções criminosas, a suspensão poderia levar um pouco de critério a tal indicação para impedir a investigação dos crimes da familícia presidencial. Porém, pelos contínuos rompantes do presidente e de seus tresloucados apoiadores, vemos que o triunfo da ética não dura até a publicação deste artigo.

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A pandemia revelou não apenas um presidente criminoso, como também um Congresso Nacional covarde. Face à participação em atos antidemocráticos, clamando por um golpe, Bolsonaro deveria ser destituído e preso. Porém, nesse teste de limites do poder, podemos assistir a mais uma negociação militar, como a que inocentou o capitão em 1987 quando planejou explodir o sistema Guandu de abastecimento de água no Rio de Janeiro e depois mentiu sobre entrevista concedida. Não seria espantosa uma renúncia anistiada para colocar o general na Presidência da República.

Mesmo continuando o pesadelo com outro nome, o impeachment de Bolsonaro mostraria um pouco de atenção das instituições republicanas à tragédia que a extrema direita está praticando no país. No mais, a solução definitiva seria a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão por ter usado disparo em massa de mensagens eletrônicas com fakenews para ganhar as eleições de 2018. Mas isso é sonho. Fiquemos com a realidade.

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Outro personagem que começou a aparecer no início da pandemia e se ocultou foi Luciano Huck, representante da mesma facção política, talvez um pouco menos extremista. Talvez, fique bem registrado, por ter o beneplácito de alguns tucanos de alta plumagem. Luciano Huck nos apresentou mais um artigo cheio de ideias e boas intenções no primeiro de abril, querendo discutir a questão das periferias e sua situação precária. No entanto, o trabalho de urbanistas, arquitetos e outros profissionais da ciência e do conhecimento sobre a conservação ambiental, habitabilidade e convivência social tem sido feito – e desprezado – há muito tempo. Como na medicina, somente face a uma pandemia é que são reconhecidos para apresentar soluções. Isso inclui a preservação de áreas como Fernando de Noronha para entender essa dinâmica e evidenciar os verdadeiros interesses por trás da ocupação criminosa de nosso território. O apresentador praticou crime naquelas ilhas e, com certeza, não é o melhor interlocutor para tais questões. Mas ele tenta encontrar algum nicho em que possa discursar e manter espaço na mídia que assiste a esse suposto embate Moro-ogro.

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