Porrada em quem resiste é marca registrada do fascismo

A prisão de Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, sob a alegação de desobediência, enquanto tentava negociar o adiamento da desapropriação à espera de que um recurso fosse apreciado pelo Judiciário, espelha o estado policial e de exceção no qual vivemos

Guilherme Boulos
Guilherme Boulos (Foto: Bepe Damasco)


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Para além de mais uma ação repressiva do governo Alckmin contra os que lutam por direitos,  a desapropriação das 700 famílias da Ocupação Colonial, na Zona Leste de São Paulo, feita à base de bombas, balas de efeito moral e com a tropa de choque distribuindo porrada nos sem teto a torto e a direito, traz à tona mais uma evidência cristalina de que a repressão em escala cada vez mais brutal é a condição essencial para a manutenção do governo fascista de Temer.

A prisão de Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, sob a alegação de desobediência, enquanto tentava negociar o adiamento da desapropriação à espera de que um recurso fosse apreciado pelo Judiciário, espelha o estado policial e de exceção no qual vivemos. Mas os próprios policiais acabaram entregando os verdadeiros motivos da detenção : Boulos vinha sendo monitorado e filmado pela polícia nas manifestação de rua contra o golpe.  

No Brasil de 2017, um cidadão é  preso pelo "crime" de se expressar livremente. A liberdade de expressão, assegurada pelo artigo 5º, inciso IV, da Constituição da República, vale tanto quanto o caráter do usurpador que ocupa de forma ilegítima o Palácio do Planalto. A criminalização dos movimentos sociais, com suas reivindicações transformadas em casos de polícia, é a pedra angular dos regimes autoritários e antidemocráticos.

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É um engano, porém, creditar o recurso  sistemático à violência a mais uma entre as milhares de trapalhadas protagonizadas pela camarilha golpista em pouco mais de seis meses. Tem inteligência e planejamento por trás dos ataques às mobilizações dos movimentos sociais. O cálculo é simples : com o congelamento dos investimentos em saúde e educação, as reformas da previdência e trabalhista, a terceirização indiscriminada, o aniquilamento do SUS, o desemprego recorde e a provável inabilitação de Lula, não há como a classe trabalhadora não reagir e os movimentos não radicalizarem seus protestos.

E a estratégia dos Alexandres Moraes e generais Etchegoyens da vida é sustentar o governo fazendo correr sangue e prendendo lideranças populares. E a democracia que se dane. Mas o que significa mesmo democracia para quem rasga a Constituição, hein ? Até o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, sempre que pode esgrime o artigo 34 da Constituição, o qual abre brechas para a intervenção da milicada, para "pôr termo a grave comprometimento da ordem pública." 

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Pelos cálculos dos velhacos golpistas, depois de os pobres serem retirados do orçamento e quando não restar nenhum vestígio do Estado social consagrado pela Constituição cidadã de 1988, o caminho estará livre para a realização do sonho da elite mais vagabunda do planeta : um governo voltado para, no máximo, 40 milhões de pessoas, que zele dia e noite exclusivamente pelos interesses dos privilegiados. Falta, no entanto, combinar com os russos. 

Para os verdugos do povo, resgato Salvador Allende, herói do povo chileno, em seu último discurso, durante o cerco e bombardeio do Palácio de La Moneda pelos gorilas e facínoras a soldo de Pinochet, em 11 de setembro de 1973 : "Saibam vocês que mais cedo que tarde outra vez se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor."

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