Porquê Itaú tem medo de Lula

Itaú
Itaú (Foto: Pilar Olivares/Reuters)


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As declarações de Alfredo Setúbal, herdeiro do Banco Itaú, de restrição à candidatura Lula, que levaram o ator petista Zé de Abreu a cancelar sua conta corrente, no banco, num claro gesto político, que, se seguido, seria explosivo para os interesses daquela casa bancária, mostram, claramente, a raiz do medo dos banqueiros: as finanças públicas estão em bancarrota, não, só, no Brasil, mas em toda a praça capitalista, como mostra a reportagem de Russian Today(RT) abaixo; desde o crash de 2008, a situação se agrava, seguidamente, colocando em risco maior ainda os bancos que compram os títulos do governo, cujas dívidas já ultrapassam 100% do PIB. 

No Brasil, tal situação ficou explosivamente exposta depois do golpe de 2016, apoiado, amplamente, pelo mercado financeiro, com aprovação da PEC 95, que congela por vinte anos gastos públicos não financeiro(saúde, educação, infraestrutura etc) e salário mínimo, reajustando-os, tão somente, pela inflação, sem nenhuma correção real adicional; o resultado nesse período(2016-2021) é aprofundamento da insuficiência de consumo que aumenta concentração de renda, desigualdade social, instabilidade cambial, fuga de capital, recessão, estaginflação etc. Não à toa tornou-se necessário, com processo de privatização neoliberal da Petrobrás, parte fundamental da PEC 95, reajustar semana sim semana não os preços dos combustíveis que levam a população ao desespero. 

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CANDIDATURA FOGUETE

Nesse cenário, a candidatura Lula sobe que nem foguete; se fortalece permanentemente com a subida do desemprego, da fome e das mortes dos desempregados, especialmente, no ambiente da pandemia sanitária; a queda seguida das chances de Bolsonaro, nas pesquisas, em decorrência das denúncias de corrupção praticadas pelo governo, na contratação de vacinas, que implicam em mercantilização total da saúde e da privatização acelerada do SUS, acendeu sinal vermelho na banca; o que ela quer, que é uma candidatura alternativa a Bolsonaro – uma terceira via –, não se viabiliza aos olhos do pragmatismo dos políticos, que se preparam para desembarcar na candidatura com chances de vencer no primeiro turno; vale dizer, Lula.

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Quanto mais vai se firmando essa possibilidade, no contexto da crise econômica e social, que só se agrava, mais os banqueiros vão se conscientizando do fato de que terão, no ambiente de subconsumismo econômico que promovem, de negociar com quem não gostaria de fazê-lo, ou seja, Lula e seu programa nacionalista de governo, ao qual acaba de aderir o ex-ministro Delfim Netto; o ex-czar da economia, no tempo da ditadura, durante a qual exercitou posições nacionalistas-varguistas, descola-se da bancocracia especulativa da qual é crítico, para evitar que a economia seja engolida pela previsão catastrofista de Marx, de que o  capitalismo padece deste seu nascimento de crônica insuficiência de consumo; essencialmente, a negociação Lula-banqueiros, no cenário em que a candidatura lulista ganha velocidade, envolve mudança no quadro econômico que massacra, seguidamente, a base eleitoral de Lula, que aposta nele como a esperança de mudança. 

COLAPSO À VISTA DA FINANCEIRIZAÇÃO NEOLIBERAL

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A arrogância dos banqueiros, que, no contexto da financeirização econômica neoliberal, dão as cartas na economia, tenta se impor como imperativo categórico dos interesses das finanças sobre os demais interesses de classe, mas, sem o poder político, correm riscos de bancarrota, quanto mais se expande a luta de classe político-ideológica; tal negociação tem objetivo claro: remoção dos tetos dos gastos sociais, impostos ao Congresso pelos golpistas de 2016; a banca, que apoiou e promoveu o golpe vive, agora, sua maior contradição: fortaleceu com o bolsonarismo neoliberal ultrarradical, mas a desorganização econômica promovida por tal neoliberalismo abre-se à anarquia econômica que vira maior inimiga das finanças públicas em frangalhos; os títulos da dívida em mãos dos banqueiros viram, na financeirização, instabilidade alarmante aos olhos deles; Lula, do ponto de vista da banca, transforma-se em demônio comunista contra o qual Bolsonaro se prepara para ataca-lo em campanha eleitoral. Desse modo, o anti-bolsonarismo esboçado pela banca não passa de cinismo falso moralista.

RETOMADA ECONÔMICA INVIÁVEL

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Sem remoção da pré-condição neoliberal expressa no teto de gastos sociais, não há chances concretas de retomada sustentável da economia; os desajustes neoliberais, expressos nas reformas da previdência e trabalhista, ao lado da imposição do teto de gastos, aprofundaram insuficiência crônica de demanda global, cujas consequências são paralização dos investimentos; a luta ideológica clássica entre estruturalistas e neoliberais se acirram; deixa de valer, por ser fakenews, o diagnóstico neoliberal de que a economia não padece de insuficiência de consumo, como determina Marx, em O Capital, mas de novos investimentos, como defendem liberais estruturalistas neokeynesianos; ocorre que com aprofundamento crescente do subconsumismo, quem há de investir, comprando máquinas novas para ficar ao lado das que já estão paradas?

LULA PORTA-VOZ DOS SUBCONSUMISTAS

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Os banqueiros, com o teto de gastos, aprofundaram, com ajuda do Banco Central Independente, no qual dão as cartas, a lógica da financeirização, descolando capital da produção para a especulação, onde sua taxa de lucro depende da crescente taxa de juro, que inviabiliza produção e consumo; predomina a economia fictícia, sujeita a chuvas e trovoadas, como alertam gerentes do Morgan, maior banco dos Estados Unidos.

Lula é o porta voz dos subconsumistas, defensor da valorização dos salários e dos investimentos públicos, que o herdeiro do Itaú quer eliminar do processo eleitoral; ele sabe que sem novos investimentos na economia paralisados pela insuficiência de consumo, resta aumentar a taxa de juros que o fenômeno subconsumista impõe como preço ao risco econômico estrutural; mas Lula está diante do fenômeno da fome que exige a pregação de Gilberto Gil: se se tem fome, dá de comer, urgente; entra em choque o dá de comer de Gil com a taxa de juro que tira da boca o alimento de quem está esfomeado.

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