Por uma reconciliação, afinal todos tem muito a dizer, aprender e ensinar

Há sinais de movimentos no governo, os quais ainda timidamente, buscam abrir com a sociedade um diálogo que pode representar o início da necessária autocrítica



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Há sinais de movimentos no governo, os quais ainda timidamente, buscam abrir com a sociedade um diálogo que pode representar o início da necessária autocrítica à qual me referi noutro artigo [1].

Patrus Ananias, Ministro do Desenvolvimento Agrário, prevendo grande derrota do PT nas eleições municipais deste ano minimiza a tragédia anunciada dizendo que faz parte do processo político, mas afirmou categoricamente que: 

É o momento de o partido fazer uma reavaliação, um exame de consciência, uma autocrítica construtiva" [2].

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E Jaques Wagner, Ministro da Casa Civil, também criticou o PT por não ter feito a reforma política e ter se lambuzado no modelo de financiamento privado de campanhas, foi igualmente categórico: 

"Errou [o governo] ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo Lula. E aí não mudou os métodos do exercício da política. Ficou usando ferramentas que já eram usadas. Talvez, porque nunca foi treinado para isto, deve ter feito como naquela velha história: 'Quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza'" [3].

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 A provável derrota da esquerda nas eleições municipais de 2016.

As eleições municipais desse ano marcarão significativa derrota da esquerda. E aqui no estado de São Paulo será a segunda derrota, pois o dia 05 de Outubro de 2014 foi uma espécie de “18 Brumário” para esquerda no estado.

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É verdade que alguns fatos importantes ocorreram e merecem destaque como a vitória do PCdoB no Maranhão, impondo derrota acachapante ao clã Sarney e a vitoria do PT na Bahia em 1º. turno, fato eu desmoralizou os institutos de pesquisa que indicavam que o petista não teria mais que 20% dos votos, mas em São Paulo foi um fiasco.

Isso mesmo, em 05 de outubro de 2014 milhões de brasileiros elegeram governadores, deputados, senadores e levaram ao segundo turno os postulantes ao cargo de principal governante do país, mas a esquerda em São Paulo colheu uma derrota constrangedora e isso não foi ainda objeto de analise, pública, humilde e honesta dos dirigentes partidários, esse seria o papel deles.

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O PT e o PCdoB em São Paulo não foram exatamente “varridos do mapa” naquele em 05 de outubro, mas a votação de Aécio Neves no estado, quase 11 milhões de votos, contra pouco mais de 5 milhões de votos dados à presidente Dilma, a diminuição significativa da bancada de esquerda na Câmara dos Deputados, a perda de uma cadeira no Senado, perda de cadeiras na Assembléia Legislativa e o desempenho sofrível de Alexandre Padilha ao governo representam, no meu ponto de vista, que a esquerda perdeu o apoio de setores que sempre a apoiavam historicamente, pois esses setores não vêem a esquerda como seu representante.

É verdade que a mídia bandeirante, propagandista do neoliberalismo, foi implacavelmente contraria ao PT e amplamente favorável a Aécio, esse é um elemento importante a ser considerado, mas não é a causa principal. Cometem-se erros e eles têm de ser assumidos publicamente.

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Apesar de a Presidente Dilma ter liderado e vencido no 1º. e no 2° turno a corrida presidencial, setores da própria esquerda foram seus maiores adversários e poderiam, lamentavelmente, levar a presidente à derrota. 

A quais setores da esquerda eu me refiro? Aos que, diferentemente de Lula e Dilma, passaram a crer que o país não existia antes deles, aqueles que se tornaram desprezíveis burocratas e distanciaram-se das ações socialmente validades e sustentáveis; falo da burocracia partidária, a qual assemelha-se às castas, pelo fato de encontrar-se sempre pronta a cerrar os olhos perante os mais grosseiros erros dos seus chefes em política geral se, em contrapartida, estes lhe forem absolutamente fiéis na defesa dos seus privilégios.

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ü  Paralelo entre 05 de outubro de 2014 e o “18 Brumário”.

Por isso penso ser possível fazermos um paralelo entre a derrota da esquerda no estado de São Paulo em 05 de outubro de 2014 e o que ocorreu na França do século XVIII, quando a pós-revolução burguesa foi derrotada pela aristocracia com apoio da própria burguesia.  

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No “18 Brumário[4] de Luiz Bonaparte” elaborado por Marx, procura-se compreender por que do fracasso da revolução na França e as razões do golpe de Estado de Luiz Bonaparte. Nas quatro primeiras partes Marx faz um resumo do “Luta de Classes na França” e segue tratando dos fatos que ocorreram e culminaram com o Golpe de Estado de Luiz Bonaparte. Ele procurou analisar e explicar porque a revolução pós-burguesa, que se instalou depois da revolução burguesa de 1789, fracassou.

Esse é o fato histórico que pode ser usado para comparar com a derrota da esquerda no estado de São Paulo nas eleições daquele 05 de outubro e prever o próximo “18 Brumário” corretamente previsto por Patrus.

Bem, a revolução pós-burguesa fracassou porque a burguesia francesa do século XVIII impediu sua evolução e continuidade, em razão do viés social e popular que a revolução de 1789 tomou. E como a burguesia fez isso? Ela [a burguesia] renunciou ao poder político, mas manteve intacto o poder econômico, o manteve sob seu controle absoluto.

Nasceu o bonapartismo e foi apresentada à História uma face pragmática da burguesia, seu desejo de poder através do controle da economia, sua face de classe e sua natureza não democrática. A revolução foi domesticada e depois disso ocorreu o golpe de Estado de Napoleão. Teria sido a militância petista domesticada pelos 12 anos no poder?

ü  O que fazer?

O 5 de Outubro de 2014 revelou que a esquerda tem de refazer suas alianças com a classe média, com os micro, pequenos e médios empresários, e para isso tem de assumir seus erros e afastar de seus quadros todos os que estejam comprovadamente envolvidos com malfeitos que sempre combateu. Ou seja, temos de recorrer à sabedoria da minha avó Maria, ela dizia: “Quem fala a verdade não merece castigo”, tem de conversar com a sociedade e falar a verdade.

Temos de falar a verdade sempre, caso contrário os setores conservadores, que cooptaram a classe média de diversas formas haverá de destruir o sonho de uma sociedade de iguais, varrendo essa possibilidade como foi varrido por Bonaparte (com ajuda da burguesia, ocorrendo o retorno dos aristocratas e a ascensão da aristocracia burguesa).

O 05 de Outubro de 2014 representou a ascensão de setores conservadores, mas não sua vitória, pois ainda há muito o que ser feito. 

Cabe às direções partidárias, à militância e aos simpatizantes reconhecerem que o PT hegemonizou um processo novo na política brasileira, apresentou políticas sociais de reconhecido sucesso, investiu, multiplicou o PIB, gerou milhões de empregos, retirou duas dezenas de brasileiros da miséria, ou seja, fez o que se espera de um governo social-democrata inserido num mundo liberal. Deixou, portanto, legados inegáveis, mas precisa dialogar com a sociedade e fazer uma autocrítica pública e humilde dos erros cometidos.

A verdade é que em 13 anos o governo de coalizão capitaneado pelo PT fez muita coisa boa, algumas excepcionais, mas não promoveu nenhuma reforma estrutural necessária; nem agrária, nem tributária, nem política. Por que não fez? Lula chegou a ter mais de 80% de aprovação e folgada maioria no congresso nacional. E o que é pior, vê seus quadros envolvidos em questões que sempre combateu. 

Bem, penso que temos de nos manter nas fileiras dos setores progressistas, dos trabalhadores, do micro, pequeno e médio empresário, confiantes e com a certeza de que o Brasil pode e deve seguir avançando nas mudanças iniciadas em 2003.

Não tenho duvida que enfrentaremos turbulências, por isso creio ser fundamental uma reflexão honesta acerca do projeto estratégico e uma autocrítica pública dos movimentos táticos, das ações no governo e, buscar a reconciliação com antigos companheiros do PSB, PSOL, PV, REDE, PCdoB, PDT, RAIZ, na esquerda do PMDB e em figuras da estatura de Bresser Pereira, afinal todos tem muito a dizer, aprender e ensinar.

 

Pedro Benedito Maciel Neto, 51, advogado, sócio da MACIEL NETO ADVOCACIA, autor de “Reflexões sobre o estudo de Direito, Ed. Komedi, 2007.

 

 

 

 

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