Por uma nova sociedade

Vivemos tempos em que um obscuro secretário nacional de Juventude, um tal de Bruno Júlio, defendeu novos massacres nos presídios brasileiros. São tempos sombrios em que que a sociedade e os governos nada fizeram ou fazem de válido e eficiente para a construção e uma política prisional transformadora e capaz de reinserir na sociedade o detento, a tal ponto que no Amazonas outra tragédia matou pessoas que estavam sob a tutela do Estado



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Esses tempos de intolerância estão causando situações surreais em nosso cotidiano...

A recente tragédia campineira, verdadeiro feminicidio, é fruto desse tempo de intolerância, machismo e reflexo da inegável da inflexão conservadora que vivemos, fruto do discurso e da cultura do ódio e da intolerância semeada pelos bolsonaros e suas certezas corrosivas. Sim, a tragédia de Campinas é um feminicidio, pois o crime que vitimou a família e a cidade tem fundamento no ódio baseado no gênero, amplamente definido como o assassinato de mulheres.

Esse tempo de intolerância é percebido até nos pequenos fatos do dia-a-dia. Uma amiga querida foi vitima de uma decisão colegiada num certo ambiente de convívio social e tal decisão é resultado desses tempos de desmedido "olho por olho", tempos em que a temperança e a pacificação nas relações são substituídas por relações e decisões belicosas, triste e desnecessariamente belicosas...

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Vivemos tempos em que um obscuro secretário nacional de Juventude, um tal de Bruno Júlio, defendeu novos massacres nos presídios brasileiros, ele teria afirmado: "Eu sou meio coxinha (sic) sobre isso. Sou filho de polícia, né? Tinha era que matar mais. Tinha que fazer uma chacina por semana”, foi demitido sumariamente, mas será que deveria ter sido nomeado?

São tempos sombrios em que que a sociedade e os governos nada fizeram ou fazem de válido e eficiente para a construção e uma política prisional transformadora e capaz de reinserir na sociedade o detento, a tal ponto que no Amazonas outra tragédia matou pessoas que estavam sob a tutela do Estado.

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A verdade é que não houve, nem nos 502 anos de governos servis aos interesses do mercado ou nos 13 anos de governo socialdemocrata, debate válido acerca de uma política pública prisional, não houve elaboração de um plano e, portanto, não houve nada além do que a construção de presídios.

Aliás, a ONU propõe regras mínimas para tratamento de prisioneiros. Tais regras foram adotadas pelo 1º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e Tratamento de Delinquentes, realizado em Genebra, em 1955, e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social da ONU através da sua resolução 663 C I (XXIV), de 31 de julho de 1957, aditada pela resolução 2076 (LXII) de 13 de maio de 1977. Em 25 de maio de 1984, através da resolução 1984/47, o Conselho Econômico e Social aprovou treze procedimentos para a aplicação efetiva das Regras Mínimas. Por isso antes de o ministro Pinóquio da justiça do governo golpista tentar “reinventar a roda”, seria adequado que ele visitasse tais regras, especialmente porque no atual sistema penitenciário não há efetiva ressocialização dos reclusos no Brasil e, s.m.j., esse seria o principal objetivo de o Estado manter o sistema penitenciário. 

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Ninguém, de forma honesta, debate a existência de poder e sistema antinômico sob eficiente coordenação do crime organizado, o qual coexiste com o nosso sistema constitucional e legal. Essa antinomia deve ser reconhecida e compreendida antes de ser combatida.

Fato é que vivemos na sociedade do cansaço como diz Leonardo Boff, na qual a aceleração do processo histórico e a multiplicação de sons, de mensagens, o exagero de estímulos e comunicações, especialmente pelo marketing pessoal e comercial, pelos celulares com todos os seus aplicativos, a superinformação das mídias sociais, etc., acabam até produzindo doenças, depressão, dificuldade de atenção e perda de sentido real da nossa existência.

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Esses fatos nos transformam em vitimas desse verdadeiro fim dos tempos.

Penso que temos de lutar contra isso e ter bem claro que esses tempos de relações disciplinadas pelo Código de Hamurabi não nos servem, por isso temos de recuperar o tempo em que as relações pessoais eram reguladas pelas virtudes humanas e divinas, tais como a amizade, compreensão, justiça, amor, generosidade, temperança, honestidade, respeito, perdão etc.

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E como fazemos isso? Vivendo tudo o que aprendemos em nossa caminhada, praticando as virtudes acima citadas e buscando a pacificação das relações com temperança, amizade e fundamentalmente a compreensão que fundamenta e possibilita o perdão.

Antigamente, eu já sou de “antigamente”, as pessoas conversavam entorno de uma mesa para, direta e pessoalmente, encontrarem solução fraterna para quaisquer questões, sem transformar todos os mal-entendidos em questões a serem apuradas "no rigor da lei"; as famílias se visitavam para lanches da tarde e, sempre fraternalmente, compartilhavam alegrias e inquietações. Esse compartilhar está distante de uma sociedade de relações virtuais ou liquidas como diz Bauman... Relações liquidas, amores líquidos e uma sociedade liquida.

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É isso que penso: temos que semear e cultivar virtudes e não fomentar o tempo todo tensão ou declarar decisões que definirão quem está certo ou errado, pois a vida é uma experiência breve, mas muito boa quando se percebe que o que importa é o afeto genuíno entre as pessoas; o afeto e a boa educação são a porta de entrada para uma vida virtuosa e feliz. É isso que eu penso.

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