Por um mundo mais justo
De acordo com a ONU, a extrema pobreza tinha de ser reduzida pela metade até 2015 em relação aos níveis de 1990. O Brasil adotou metas mais rigorosas e estabeleceu a redução a um quarto desse mesmo nível, o que foi cumprido já em 2012
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Dois bilhões de habitantes do mundo vivem na miséria, uma situação de "brutal desigualdade", segundo estima a Organização das Nações Unidas (ONU).
Relatório sobre a população mundial o Fundo de Populações da ONU no México afirmou que um dos sinais da grande distância que separa os maios ricos dos mais pobres é que a renda per capita em 17 países superava 20 mil dólares por ano, mas que 21 países sobreviviam com uma renda per capita de menos de 1.000 dólares por ano.
Em um dos extremos da escala estavam a Tanzânia e Serra Leoa, com rendas per capita de menos de 500 dólares por ano. Por que não podemos ter um mundo mais justo?
Para o Professor da PUC-SP Ladislau Dowbor o problema da pobreza no mundo não é propriamente econômico, pois se produz hoje 10,5 mil dólares per capita por ano em riquezas, há riquezas na sociedade capitalista para uma vida digna e confortável para todos. Então por que há miséria? Onde estaria o problema, se o problema não é a carência de recursos?
Bem, a questão da desigualdade na distribuição da riqueza produzida está no cerne dos conflitos políticos, opondo duas posições; de um lado os liberais de direita, que creem que apenas as forças do mercado, a iniciativa individual e o aumento de produtividade é que poderão, no longo prazo, a melhora da renda e das condições de vida dos menos favorecidos e, de outro a posição tradicional da esquerda que afirma que somente as lutas sociais e políticas são capazes de atenuar a miséria dos menos favorecidos produzida pelo sistema capitalista.
Curioso que ambos, liberais e esquerdistas, prometem que se atingirá justiça social se o seu caminho for seguido.
Não há espaço aqui para esse debate, que é feito com brilhantismo por Thomas Piketty no seu “A economia da desigualdade” que todos devem ler, mas há espaço para lembrar que a ONU afirma que países ricos poderiam acabar com a miséria no mundo se arcassem com a ajuda prometida.
Os países ricos comprometeram-se a investir 0,7% do seu PIB anualmente em ajuda ao desenvolvimento, com isso mais de 500 milhões de pessoas poderiam deixar a linha da miséria e dezenas de milhares escapariam da morte, concluiu o relatório “Investindo no Desenvolvimento: Um Plano Prático para Atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” [1], divulgado pela ONU.
De acordo com o relatório, 11 milhões de crianças morrem a cada ano de doenças que poderiam ter sido evitadas; mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vive com menos de US$ 1 por dia; 840 milhões convivem com fome crônica; e outro bilhão não tem acesso à água potável.
Vale lembrar que o economista Jeffrey Sachs, coordenou a pesquisa, que foi elaborada por 265 especialistas e que a iniciativa para o documento surgiu em 2002, quando a ONU propôs para alcançar o objetivo de reduzir à metade a pobreza do mundo até este 2015; o que todos os países se comprometeram a fazer ao assinar as Metas do Milênio, em 2000, mas nem todos os signatários do documento cumpriram satisfatoriamente as metas.
A boa noticia para nós brasileiros é que o Brasil cumpriu integralmente dois dos oito Objetivos do Milênio (ODM) das Nações Unidas (ONU) com anos de antecedência. A (i) meta de reduzir a mortalidade infantil em dois terços em relação aos níveis de 1990 até 2015 foi cumprida em 2011 e a (ii) meta de reduzir a fome e a miséria foi outro objetivo cumprido.
De acordo com a ONU, a extrema pobreza tinha de ser reduzida pela metade até 2015 em relação aos níveis de 1990. O Brasil adotou metas mais rigorosas e estabeleceu a redução a um quarto desse mesmo nível, o que foi cumprido já em 2012. Os dados estão no Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio[2].
A construção de um mundo mais justo é possível através de políticas públicas que sejam capazes de compreender a realidade e enfrentá-la com projetos estruturados na generosidade, pois como se referiu Desmond Tutu[3] a nossa humanidade está indissoluvelmente ligada à do outro, somos humanos porque vivemos em sociedade, porque se somos capazes de sentir compaixão, acolher, compreender, sermos generosos e dispostos a compartilhar somos capazes de produzir justiça. A humanidade dá às pessoas a resiliência, permitindo-as sobreviver e emergir mais humanas, apesar de todos os esforços para desumanizá-las. Somos humanos porque estamos abertos e disponíveis aos outros e porque sentimo-nos assegurados pelos outros, somos um e por sermos um merecemos um mundo mais justo. Feliz 2016!
[1] https://www.unric.org/html/portuguese/uninfo/MDGs/MDGReport-Overview-pt.pdf
[2] http://www.pnud.org.br/docs/4_relatorionacionalacompanhamentoodm.pdf
[3] Desmond Tutu, Nobel da Paz – 1984
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