Por um Brasil sem castas

O princípio constitucional da presunção da inocência no Brasil de hoje foi jogado no lixo. Portanto, trata-se de uma imensa hipocrisia dizer que são contra as investigações da Lava Jato todos aqueles que votaram ou são a favor da emenda que penaliza juízes e promotores que cometem crimes contra o cidadão

Renan Moro Gilmar Mendes 1/12/2016
Renan Moro Gilmar Mendes 1/12/2016 (Foto: Chico Vigilante)


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A Constituição brasileira diz em seu artigo 5 que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Entende- se, por óbvio, que temos todos os mesmos direitos e deveres.

Não podemos, portanto, defender a existência de castas na sociedade que não possam ser julgadas por seus eventuais atos ilícitos ou crimes.

O Brasil e os brasileiros devem despertar para a discussão crítica de questões importantíssimas que se colocam atualmente, sem rotular de cara seu interlocutor como direita, esquerda, coxinha ou petralha.

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O rótulo imediato divide o país entre nós e eles e não ajuda em nada.

Pressupõe discordância obrigatória e estúpida, como a que vem ocorrendo a respeito da aprovação pela Câmara dos Deputados da emenda que incluiu punição para o abuso de autoridade de juízes e procuradores no pacote anticorrupção do PL 4.850/2016 na madrugada da quarta-feira, 30/11.

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Para avançar temos que, não concordar em tudo, mas analisarmos programaticamente o que é melhor para tirar o país da crise em que se encontra.

A divisão alcança aqueles unidos quando a questão era o impeachment de Dilma Rousseff. Agora se encontram em clara rota de colisão o juiz Sergio Moro e o ministro do STF, Gilmar Mendes.

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Em sessão no Senado para discutir lei do mesmo teor em tramitação na Casa, Moro disse em relação ao projeto aprovado na Câmara que "essas emendas da meia-noite não permitem uma avaliação por parte da sociedade de tema tão sensível".

Qual seria o momento adequado, Sérgio Moro? Daqui a pouco vamos ter que buscar um ano sabático das operações para que o Congresso delibere sobre um tema como esse?, ironizou Gilmar, também presente à sessão.

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O que está acontecendo é simples: o MP montou um projeto contra a corrupção, que chamam de iniciativa popular mas que na verdade não foi escrito por nenhum movimento social, nem pela população. Foi montado nos gabinetes de juízes e procuradores.

Tem pontos positivos? Tem sim. Conseguiu apoio popular? sim, com ampla propaganda feita com dinheiro público.

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O projeto deve ser intocável? Não. O projeto foi emendado e aprovado na Câmara - como exercício de direito claro e cristalino do Poder Legislativo. Se o Congresso disputa poder com o Judiciário ai já é outra questão.

O que o MP fez depois? foi à tevê e qualificou a lei como "lei da intimidação", insinuando que foi feita para impedir a Operação Lava Jato.

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Não é nada disso. A lei - entre outros tantos pontos bons e ruins, que a sociedade deve discutir um a um – trata também de colocar juízes, procuradores e promotores responsáveis pelo que eventualmente façam de errado. Onde está a injustiça de tratá-los como eu, como você ?

Quem não deve não teme, é o lema de muitos juízes e promotores diante de seus réus, nos lembra em recente artigo o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão.

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A máxima deve servir também pra eles: se não fizerem nada de errado a lei não poderá ser usada.

A realidade brasileira mostra que na atualidade alguns senhores meritíssimos acusam sem provas e por razões políticas, apenas pelo que chamam de "domínio do fato".

Isso aconteceu no Mensalão e acontece agora na Lava Jato, principalmente em relação ao ex-presidente Lula, mil vezes acusado e agora inocentado por todos seus supostos acusadores.

O princípio constitucional da presunção da inocência no Brasil de hoje foi jogado no lixo. No lugar do Estado provar que o cidadão praticou um crime, o acusado é que tem que provar que não fez nada de errado. Vivemos o assassinato do estado democrático do direito.

Portanto, trata-se de uma imensa hipocrisia dizer que são contra as investigações da Lava Jato todos aqueles que votaram ou são a favor da emenda que penaliza juízes e promotores que cometem crimes contra o cidadão.

A medida apenas garante igualdade. Se errou, seja um médico, um professor, uma dona de casa, um juiz, estaremos sujeitos a pagar por isso na forma da lei.

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