Por que pessoas fazem coisas estúpidas?
As Fake News conseguem reverberar um determinado ponto de vista, difamar a reputação de outra pessoa ou grupo
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Notícias falsas não são algo novo, eu me lembro que quando Armstrong pisou na Lua a irmã mais velha do meu avô Pedro, a “Bainha” (apelido carinhoso da minha tia-avó Sebastiana Benedicto Maciel), ao ver meu álbum de figurinhas sobre a chegada do Homem à lua afirmou, para desespero de um menino de cinco anos: “é tudo mentira, as fotos foram realizadas numa praia à noite”, conforme ela ouvira das colegas “da costura” na Igreja Nossa Senhora de Fátima.
Compreensível a incredulidade da Bainha em relação ao fato - afinal ela era pessoa extremamente simples e nascida no final do século XIX em Frutal, MG -, assim como era compreensível a sua fé em falsas afirmações.
Mas o que faz com que pessoas relativamente jovens e instruídas, que foram alimentadas na infância e que, presumivelmente, têm e mantém interação social saudável com o mundo, acreditem no absurdo, no irreal e no bizarro?
A que me refiro? Bem, fomos visitar Rosangela e o Professor Lejeune Mirhan, um dos intelectuais mais produtivos e irrequietos da cidade; ele mora ali no Chapadão e quando chegamos na altura da Escola de Cadetes, nos deparamos com cerca de duas dezenas de pessoas em vigília aguardando um tal “relatório do exército” – que comprovaria as fraudes nas eleições - e orando por uma intervenção militar, pelo fechamento do STF e do Congresso.
Nada mais exótico que essa visão.
Nos perguntamos: como aquelas pessoas, vestidas com as camisetas da corrupta CBF, envoltas em bandeiras do Brasil e em aparente estado de histeria ou delírio, assumiram pautas que são essencialmente criminosas? Por que essas pessoas fazem coisas tão estupidas?
Tudo sustentado em falsas notícias que circulam pela internet, com objetivos bem definidos, os quais passam pela necessária manipulação das massas através da criação de realidades convenientes aos interesses dos cyber-criminosos e seus senhores.
As Fake News ou, em bom português, notícias falsas, divulgadas intencionalmente como se fossem informações reais e verdadeiras, conseguem reverberar um determinado ponto de vista, difamar a reputação de outra pessoa ou grupo. E tudo acontece rapidamente, atinge diversos públicos, quase sempre utilizando de conteúdo emocional àqueles que consomem o material.
Deveríamos ter chorado quando muitos acreditaram que Lady Gaga, Mia Khalifa, atriz pornô, e a cantora do Abba, eram juízas de Haia; foram “transformadas” pelas Fake News em importantes magistradas do “Tribunal de Haia” e que, cada uma delas, determinaria o cancelamento das “fraudulentas” eleições no país.
Os delirantes chegaram a comemorar: (i) a falsa prisão do ministro Alexandre de Morais, (ii) outros, financiados por interesses privados, fecharam rodovias por todo país, (iii) há os que cantaram o hino nacional para um pneu e (iv) quem rezasse para um muro, dentre muitas outras coisas estupidas.
O que sustenta esse fenômeno?
Evgeny Morozov, autor do livro “Big Tech: ascensão dos dados e morte da política, citado numa matéria da FORUM, afirma que a disseminação das fake News acontece principalmente porque o capitalismo digital de hoje faz com que seja altamente rentável produzir e compartilhar narrativas falsas que atraem cliques. Peço “ajuda aos universitários”, pois, não consigo me posicionar em relação a essa hipótese.
Há questões a serem conhecidas e debatidas para a democratização da rede, uma delas é a necessária “neutralidade da rede”, prevista no “Marco Civil da Internet”.
A “neutralidade” impõe aos provedores dos serviços de internet a obrigação em não privilegiar determinados fluxos de dados na web, mantendo o acesso igualitário, independente do conteúdo. Mas não funciona assim, pois alguns operadores de celular que oferecem planos de celulares privilegiam “uma ou outra” rede, conforme seu interesse econômico.
Acredito que não há uma lei específica e adequadamente trate de fake News. É verdade que no âmbito eleitoral, há o artigo 297 do Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65) e o artigo 33, § 4º, da Lei das Eleições (Lei n. 9.504/97) criminalizam, respectivamente, as práticas de impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio e divulgar pesquisas eleitorais fraudulentas — mas para qualquer outro campo não há muitos caminhos que possam ser seguidos.
Mas há muitos pontos frágeis, por exemplo: de quem é a responsabilidade pelo controle das fake News?
Acredito que uma das soluções seria aplicar multas pesadas nas empresas de tecnologia que permitem a difusão de fake News, que lucram com isso, já que sua lógica de negócios é manter o usuário ativo para vender anúncios e coletar seus dados pessoais.
Há um mercado lucrativo no mundo das “fake news” e alguém, mais capaz que eu, poderá escrever sobre isso, pois é muito importante conhecer o funcionamento desse mundo criminoso e lucrativo das redes.
Outro ponto a ser considerado é a relação entre as “notícias falsas” e o “totalitarismo”.
Hannah Arendt afirmou que o domínio total no totalitarismo advém do controle do “domínio de tempo” — domina-se o passado, para conquistar o presente e o futuro.
O que Hannah informa como “domínio do tempo” está relacionado ao controle da história, isto é, como aquilo que já aconteceu é apresentado para as gerações subsequentes — o que inclui o revisionismo histórico. Exemplo? Afirmar criminosamente que “não houve ditadura militar no Brasil”.
Esses são fatos e, se antigamente os governos totalitários possuíam estruturas robustas de controle de imprensa e profissionais altamente capacitados para difundir notícias falsas de seu interesse e “dominar o tempo”, hoje em dia qualquer pessoa “no conforto de seu lar” pode começar uma campanha maciça para difamar a imagem de uma pessoa através das redes sociais.
Já vivemos uma crença de que o acesso à Internet poderia fortalecer a democracia, mas o que vivemos recentemente e o que vimos a caminho da casa do Professor Lejeune, mostra que a internet serve melhor ao totalitarismo.
Por quê? Porque a comunicação não é como era antigamente, onde o ato de mandar uma carta continha o único objetivo de se comunicar. Hoje, o ato de comunicar tem valor econômico, as pessoas envolvidas na comunicação, o meio utilizado e o conteúdo da mensagem tornaram-se produtos.
Noutras palavras: a democracia está em perigo justamente por essa mudança radical na forma em que produzimos e consumimos informações. O que “vale” atualmente é a lógica de negócios das empresas de tecnologia e comunicação: coletar dados, que ajudam algoritmos extremamente sofisticados a tomar decisão e influenciar pessoas de forma mais efetiva — seja para te recomendar uma série no Netflix, recomendar páginas para seguir em redes sociais ou escolher seu novo presidente.Enfim, as pessoas fazem coisas estupidas porque se despem do necessário senso critico.Essas são as reflexões.e.t. o relatório, que não era do Exército, mas do Ministério do Defesa, portanto do próprio governo, não trouxe nada que pudesse macular o resultado das eleições. Espero que alguém vá explicar isso aos cantores de hinos a pneus e adoradores de muros.
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