Por que odeiam tanto os índios?
É sobre o ódio racista na Bolívia que quero falar; porém, permita-me uma breve digressão
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É sobre o ódio racista na Bolívia que quero falar; porém, permita-me uma breve digressão.
Quando li as primeiras notícias de que Evo renunciara, e que partiria em um voo para um auto exílio no México, eu pensei:
Com mil diabos, Evo fugiu, se acovardou, traiu sua luta e seu povo em troca da paz e da segurança familiar em terras ignotas?
Por que diabos Evo se foi, deixando seu país e seu povo em ruínas, arruinados pelos predadores de sempre.
É para lutar que aquele homem foi feito.
Questões enigmáticas.
No entanto, aproximando-me mais, percebi que só se pode lutar estando vivo.
Quando nos chegou aquela terrível imagem de uma prefeita sendo humilhada nas ruas: os racistas a espancaram, urinaram nela, rasparam sua cabeça e jogaram tinta em seu corpo.
E, concomitantemente, vimos a bandeira wiphala (símbolo indígena) sendo queimada em praça pública, sede de agremiações e casas de políticos sendo depredadas e a casa de Evo Morales sendo invadida e destruída, percebi melhor o gesto de Morales.
Foi só aí que me lembrei de Muammar Gaddafi. Evo escapou por pouco de não sofrer a mesma brutal carnificina que tirara a vida do líder Líbio.
Gaddafi você bem o lembra, era um filho de beduínos que derrubou um rei na Líbia, enfrentou o império, lutou bravamente contra toda forma de colonização e pela independência das nações africanas, elevou o padrão de vida do seu povo, propôs a formação de um exército único africano e...
Sofreu um golpe do tipo “primavera”, desses levantes populares erguidos pelo império, e acabou nas mãos das hordas de milicianos, exibido nas ruas, ao vivo e em cores, humilhado, espancado e morto como um cão.
O império não perdoa quem lhe faz frente.
Sem dúvida, se permanecesse em seu país, Evo teria o mesmo fim.
Dito isto, digo mais.
Espancar índios e queimar a wiphala em praça pública fala muito sobre quem está falando agora na Bolívia.
A whiphla, segundo a Wikipédia é, para os quíchuas e aimarás, a expressão do pensamento filosófico andino, e seu conteúdo manifesta o desenvolver da ciência, tecnologia e arte, é também expressão dialética de Pacha-Kama e Pacha-Mama, é a imagem de organização e harmonia de irmandade e reciprocidade nos Andes.
A usurpadora loira que se aboletou no lugar de Evo, auto proclamando-se presidente do país, portando uma Bíblia enorme nas mãos, vociferou contra o seu próprio povo, acusando os indígenas de práticas satânicas.
Ela se referia aos cultos ancestrais da população indígena. mas, com esse gesto abjeto, demonstra apenas ódio racial e desinformação.
Satã é uma criatura desconhecida pelos indígenas, o diabo chegou aqui acompanhado pelo macho branco, no conforto de uma caravela, embrulhado naquela Bíblia que ela trazia nas mãos.
E essa senhora Jeanine, Bíblia em punho, corrobora e incentiva, com seu racismo pseudo-religioso, com a onda de agressões racistas que estamos a ver nas ruas de La Paz, de Cochabamba e Santa Cruz de La Sierra.
Uma horda de homens selvagens, em suas pick ups e carrões modernosos, chicoteiam, dão pauladas e, até, tiros, em seus compatriotas de sangue indígena.
E o que fizeram os índios, o que fez Evo pelos indígenas para merecerem tanto ódio?
Simplesmente, Evo elevou o padrão de vida da sua gente, fortaleceu a economia e inclui os excluídos no orçamento, distribui a riqueza do povo para o povo, deu poder político aos desvalidos, buscou a integração racial, a formatação daquele país, finalmente, em uma nação.
Mas o macho branco disse, não!
O privilégio é sedutor demais, tentador demais, poderoso demais.
O macho branco tem um vício atávico, ancestral, pelo poder exercido por meio da força bruta, da mentira, da covardia e da destruição.
Porém, esse poder, longe ser uma força real, é uma armadilha psicológica, uma proteção artificial, uma redoma contra o medo de si mesmo, de se confrontar e se descobrir.
Os livros de história, escritos pelo macho branco como exaltação de si mesmo, é uma compilação de mentiras, invenções, amplificações grotescas e omissões covardes.
O ódio ao índio é, na verdade, o medo do índio, de tudo o que ele representa e significa.
O índio é o ser que preserva sua ancestralidade sagrada, sorora e fraterna, sua comunhão com o outro, com a terra, com o cosmos e com a espiritualidade.
O índio traz consigo tudo aquilo que o branco ocidental desprezou, escondeu de si mesmo e renegou ao longo do tempo com o único propósito de se querer superior.
Mas é aí que a sua inferioridade aflora.
Essa selvagem demonstração de força, que eles confundem com poder, é, antes de tudo, e acima de tudo, uma lamentável demonstração de covardia, uma fobofobia paranoica que os persegue desde sempre.
Numa tentativa de obliterar a história e os traços de nações e povos sabidamente superiores, os machos brancos esbranquiçaram os egípcios, roubaram-lhes a primazia da medicina, da engenharia, da arquitetura, da astronomia e de outras habilidades.
Esbraquiçaram o Cristo, Adão, o diabo.
Construíram seu império com roubos, saques, pilhagens... vejam seus museus o que trazem dessa gatunagem.
Se apropriam, patenteiam e seguem, pateticamente acreditando nas próprias mentiras.
É triste ver a mulher branca, nas ruas da Bolívia, a seguir seus pares de cor.
A mulher branca racista se vangloria das migalhas que obtém desse banquete imundo servido pelo macho branco, esquecendo-se, ela, de que também é uma vítima, que também, ela, sofre pela dominação cultural dessas criaturas.
Esquecem-se de que o macho branco não deixava de incluir o estupro em suas conquistas.
Que o macho branco conquistador de buteco é um souvenir desse arquétipo violador e misógino.
A mulher branca se esquece, quando se junta ao macho branco racista, de que ele, o macho branco, a queimou em fogueiras por sua tentativa de emancipação, ela a relegou a um cantinho na Santa Igreja dos Brancos, a despreza em conversas em mesas de bar, a espanca em lares, a humilha nas ruas com suas cantadas grotescas e depreciadoras, e matam, cada dia mais, as suas companheiras.
O macho branco nunca dividiu o poder com a mulher branca; ao contrário, ele sempre procurou usurpar sua força, se apoderar do seu ventre, se apropriar de suas entranhas, ser dono do seu corpo, da sua mente, da sua alma.
Esse ódio ao índio, antes de ser apenas e tão somente uma agressão político-ideológica, é uma guerra ontológica, é o ethos do macho branco que a figura do índio afronta.
Esse espécime, o macho branco, vive uma ambivalência opressiva, opressora e autossabotadora.
Trocaram a fragilidade de sua humanidade por uma pseudo sensação de superhomidade!
Por isso, o macho branco jamais fará o saudável exercício do escrutínio da própria alma, do próprio ethos.
Jamais fará a imprescindível escavação psico-arqueológica (da qual falava Clarissa Pinkola sobre as ruínas do mundo subterrâneo feminino) para escarafunchar as ruínas sombrias do processo asqueroso que fez a sua formação como tal, sua formatação como pessoa.
O macho branco seguirá, de forma ambivalente, sendo esse entrave para o desenvolvimento de um eu profundo em troca da noção vazia do technosapiens, desse ser que se basta e se sacia com as inovações tecnológicas, dos seus brinquedinhos que piscam, com os remédios que lhe aliviam as dores dessas conquistas sem sentido e lhe garantem mais anos de vida, enquanto sua alma segue doente, enferma, ínfima.
Esse desalmado é um animal seu anima.
Palavra da salvação.
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