Por que o mensalão não destruiu o PT nem ajudou a oposição

O que se viu nos últimos dias no país, portanto, não passou de mais do mesmo, daquele circo todo que se mantém armado desde 2005 e que já colheu tantos fracassos de bilheteria – em 2006, 2010 e 2012

O que se viu nos últimos dias no país, portanto, não passou de mais do mesmo, daquele circo todo que se mantém armado desde 2005 e que já colheu tantos fracassos de bilheteria – em 2006, 2010 e 2012
O que se viu nos últimos dias no país, portanto, não passou de mais do mesmo, daquele circo todo que se mantém armado desde 2005 e que já colheu tantos fracassos de bilheteria – em 2006, 2010 e 2012 (Foto: Eduardo Guimarães)


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De quinta-feira (14) para cá, após a decretação da prisão dos réus do julgamento mensalão pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, a dinâmica dos fatos surpreendeu tanto os que temiam quanto os que ansiavam pelas cenas de aprisionamento daqueles condenados, que, supostamente, constituiriam um duro golpe para o PT.

Porém, não é a primeira vez que isso acontece em relação a um processo judicial que pretendeu ser, na visão dos que o engendraram, o grande golpe que destruiria eleitoralmente o PT, recolocaria o PSDB no poder e devolveria aos conglomerados de mídia o poder de indicar ao povo em quem votar, como conseguiam fazer até 1998.

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O ano de 2005 marcou o início de inegável campanha de grandes conglomerados de mídia contra o PT. Atiraram-se contra o partido e contra o seu símbolo maior, Lula, com muito mais avidez do que os adversários declarados deles, PSDB e DEM à frente.

Com a mídia fazendo o trabalho, os partidos de oposição ao governo federal petista e ao próprio partido desse governo puderam se dar ao luxo de criticar comedidamente o escândalo do mensalão, deixando a “indignação”, o “rasgar de camisa” a colunistas amestrados, coincidentemente todos afinados com a opinião dos patrões.

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Até o início de 2006, a certeza de que aquele noticiário desmoralizante se revelaria devastador para a reeleição do primeiro governo Lula, era monolítica. A tese de deixá-lo “sangrar” partia do pressuposto de que com a criminalização não só do PT, mas de seu líder maior, da militância do partido e até de seus simpatizantes, a volta do PSDB ao poder seria inevitável.

Era apenas o quarto ano do governo Lula, que recebera o país economicamente devastado, com uma dívida externa de centenas de bilhões de dólares, sem reservas cambiais, com desemprego e inflação em dois dígitos, desigualdade em alta, empresas em estado falimentar, dívida pública quase impagável e com a moeda nacional tendo metade do valor que tem hoje.

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Não se pode dizer que em 2006, ao fim dos quatros anos do primeiro governo Lula, a situação falimentar em que o país estava no início daquele governo fora revertida. Ainda havia muito desemprego, a pobreza era extremamente maior do que é hoje, a economia crescia pouco, mas havia percepção de que as coisas estavam melhorando rapidamente.

Mas, mesmo assim, como seria possível que, mesmo com o povo sentindo sua vida começando a melhorar, fosse esquecida toda a tragicomédia de 2005 e que prosseguia ao longo do ano eleitoral de 2006, com jornais, telejornais, rádios, revistas semanais, grandes portais de internet, empresários, artistas e intelectuais decretando a “falência moral do PT”?

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Ninguém acreditava que, com o PT sendo condenado pela mídia sem apelação e com certa elite criminalizando qualquer um que pensasse diferente, o partido conseguiria não só reeleger o presidente da República, mas também, ao longo de todas as eleições seguintes, eleger a sucessora de Lula e manter a grande bancada que elegeu em 2002.

Veja, no quadro abaixo, a evolução das bancadas dos partidos na Câmara dos Deputados ao longo das das quatro últimas eleições federais – o Senado não é comparado porque os mandatos naquela Casa se renovam a cada oito anos e, assim, ela não ilustra bem o clima político em cada período, apesar de a bancada petista ter crescido muito, por lá.

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O resumo da ópera que o gráfico acima apresenta, é o seguinte: o PT elegeu 59 deputados federais em 1998, 91 em 2002, 83 em 2006 e 88 em 2010. Pode-se dizer que o efeito “devastador” que se esperava do mensalão contra o partido, não “rolou”. O que “rolou” foi um efeito – esse, sim, devastador – para os que deveriam colher os benefícios diretos da pretensa debacle petista.

Entre 1998 e 2002, PSDB e DEM vieram afundando ano após ano a despeito de a mídia não só fustigar seu adversário mortal como também proteger esses partidos dos escândalos que, ocorrendo nas hostes oposicionistas onde elas eram governo (nos Estados e municípios), eram solenemente minimizados ou até ignorados por aqueles impérios de comunicação.

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Em 1998, enquanto o Brasil quebrava, o PSDB elegeu 99 deputados e o PFL (hoje DEM), por sua vez, elegeu incríveis 105 deputados, tornando-se, então, a maior legenda da Câmara.

Todavia, o estelionato eleitoral que os dois partidos praticaram naquele ano – quando reelegeram Fernando Henrique Cardoso prometendo não desvalorizar o real – lhes custaria muito caro.

Em 2002, o PSDB elegeu 70 deputados e o PFL (DEM), 84; em 2006, quando deveriam colher o benefício da pretensa desmoralização do PT no âmbito do escândalo do mensalão, um elegeu 66 deputados e o outro, 65. Em 2010, os tucanos e os demos elegeriam em torno de metade do que haviam conseguido uma década e pouco antes; o PSDB elegeu 53 deputados e o DEM, trágicos 43.

Como é possível que com toda a mídia criminalizando o PT, com alguns de seus principais líderes sendo indiciados, julgados e condenados por corrupção e por outros crimes igualmente desabonadores, o partido se mantenha tão vigoroso, eleitoralmente?

Antes que alguém se levante e grite “É a economia, estúpido!”, vale refletir que, de acordo com o que diz a imprensa assumidamente oposicionista – pois suas associações de classe já declararam, publicamente, que cabe à imprensa fazer oposição –, a economia brasileira “vai mal”.

Claro que só acredita nisso quem quer. Sim, é a economia que mantém o PT eleitoralmente forte. Ao longo da era petista, o desemprego foi exterminado e os salários se tornaram polpudos ao ponto de que, hoje, qualquer subalterno disputa o consumo de massas com as classes historicamente mais favorecidas.

Para o povo brasileiro, portanto, a economia, onde lhe interessa – emprego e renda –, vai muito bem, obrigado, a despeito do que digam Miriam Leitão, Carlos Alberto Sardemberg e outros pretensos “luminares” do noticiário econômico. O tal “pibinho” é encarado com ceticismo por uma sociedade que vem sentindo sua vida melhorar ano após ano.

Mas será só por isso que a sociedade, pelo menos até 2012 – quando o PT se tornou o partido mais votado do país –, seguiu dando uma banana para o noticiário, para o STF e para a oposição? Será só pela excelência da economia brasileira que esse partido segue colhendo sucessivas vitórias eleitorais?

Quando se vê o noticiário sobre a consumação da vendeta jurídico-midiática contra o PT, com a prisão de José Dirceu, José Genoino e tantos outros réus do julgamento do mensalão, percebe-se que o que mantém os brasileiros “espertos” é a arrogância dessa mídia e desse judiciário em relação ao povo. Esses poderes discricionários acham que todo mundo é trouxa.

Todos sabem que político, no Brasil, nunca foi parar na cadeia. Sobretudo políticos de grande estatura, como os dois Josés que ora se encontram encarcerados. Todos percebem, portanto, que há algo errado. A Justiça brasileira só puniu, em toda sua história, o PT.

Ora, todos sabem que não há corrupção só no PT. Todos têm visto escândalos imensos surgindo contra o PSDB e não é de hoje. Todo mundo sabe que as privatizações foram danosas ao país, razão pela qual os tucanos, a cada eleição, procuram se desvincular da pecha de privatistas. E todos sabem quem privatizou de fato o Brasil. E a preço de banana.

Para tentar conferir um ar de lisura ao julgamento de exceção que, no dizer de grandes e eminentes juristas, condenou réus sem provas, a mídia tratou a prisão dos “mensaleiros” como início de uma “nova era”, mas sempre ressalvando que não se deve esperar “milagres”, ou seja, que os tucanos e demos, hoje atolados em denúncias de corrupção contra seus governos estaduais e municipais, sejam tratados da mesma forma.

Em verdade, a mídia tenta criar hoje o clima do impeachment de Fernando Collor, que prometia passar o país a limpo e depois se viu que foi apenas um ponto fora da curva, como tem sido qualificado o julgamento do mensalão. Ou alguém acredita que o STF ou qualquer instância da Justiça vá atuar contra tucanos e demos da forma como atuou contra o PT?

Vale repetir, pois: a teoria da “nova era” de fim da impunidade após o julgamento do mensalão é uma farsa como o impeachment de Collor.

Do ano passado para cá, porém, não deu mais para segurar. PSDB e DEM tiveram suas vísceras expostas como nunca.

Durante o escândalo do Cachoeira, em Goiás, o país viu o “mosqueteiro da ética” inventado pela revista Veja, o ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO), assim como o governador tucano Marconi Perillo, ambos de calças arriadas e se promiscuindo com o bicheiro goiano. Descobriu-se que, ao longo dos governos tucanos em São Paulo, bilhões de reais foram roubados. E viu-se como esse roubo tornou infernal o transporte na capital paulista.

Agora, o país vê o que PSDB e DEM operaram na prefeitura de São Paulo entre 2005 e 2012, ainda que a mídia tente o impossível, ou seja, convencer as pessoas de que a roubalheira nos governos desses dois partidos é culpa do PT.

Com tudo isso, as pessoas veem que só quem vai para a cadeia são petistas. Não há processos ou ao menos acusações da mídia aos figurões do PSDB, a um Alckmin ou a um Serra, em cujos governos bilhões foram roubados.

A “ética”, pois, já se mostrou um campo de luta política infrutífero. Tão infrutífero que o marqueteiro que o PSDB contratou para tentar eleger Aécio Neves – ou José Serra – presidente no ano que vem já deu a dica em entrevista à Folha de São Paulo, afirmando que fustigar o PT com o mensalão, com ou sem prisão de Dirceu e Genoino, não irá funcionar.

O que se viu nos últimos dias no país, portanto, não passou de mais do mesmo, daquele circo todo que se mantém armado desde 2005 e que já colheu tantos fracassos de bilheteria – em 2006, 2010 e 2012. Foi muito mais uma vendeta, uma vingança que levantou o moral combalido das hostes oposicionistas, tanto das assumidas quanto das enrustidas.

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