Por que Lula incomada tanto?
Lula, que não é santo, incomoda tanto porque nos mostra faltar na nossa caminhada a necessária atenção aos miseráveis e aos pobres
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“Incomodar” - Verbo
ü Verbo transitivo direto e intransitivo e pronominal - causar (a) ou sentir incômodo, físico ou não; indispor, importunar, estorvar, perturbar;
ü Verbo transitivo direto e pronominal - causar ou sentir desgosto, aborrecimento, irritação; aborrecer(-se), desgostar(-se), exasperar(-se), irritar(-se).
Escrevo esse artigo pensando no meu último encontro com o senhor Wanderley Brigone, cliente querido, empresário octogenário, dono de um sorriso poderoso que nos dá certeza da vida eterna.
Vamos lá. O Instituto Datafolha indicou que 55% dos eleitores rejeitam Bolsonaro, contra 35% de Lula.
A pesquisa ouviu 2.556 pessoas nos dias 22 e 23 de junho, em 181 cidades brasileiras; a margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
Mesmo assim, o que percebo nos ambientes pelos quais circulo, social e profissionalmente, é o enorme incomodo que Lula causa, a palavra que cabe é incomodo.
Acredito que Lula incomoda a classe média e a elite, não por causa da corrupção que ocorreu também no seu governo, mas principalmente porque ele não faz parte de suas hostes, porque sua luta não é pela elite, porque sua luta é pelos miseráveis, pelos pobres, pelos trabalhadores e pela classe média; sua luta é contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças do mal, contra a acumulação que escraviza e mata tantos.
Lula não é filho da elite, nem seu vassalo.
Para explicar a afirmação acima recorro a Joseph Schumpeter (1883-1950), um dos mais influentes pensadores liberais.
A verdade é que os liberais das redes sociais, incautos, mas de boa-fé, não sabem que liberalismo deseja e defende uma democracia de mentirinha. Segundo Schumpeter a democracia, na teoria clássica liberal, não passa de uma utopia, algo que poderia ser, mas não é.
A democracia liberal seria apenas um método de escolha entre candidatos pertencentes às próprias elites. Ao povo caberia, apenas o papel de votar, de tempos em tempos, deixando os representantes das classes dominantes a participação política efetiva, ou, nas suas palavras: "A democracia não significa e não pode significar que o povo realmente governa (...). A democracia significa apenas que o povo tem a oportunidade de aceitar ou recusar os homens que os governam".
Pasmem, Schumpeter, um liberal, olhava o cidadão comum como um fantoche nas mãos da imprensa e da máquina de propaganda dos "razoáveis", pressupondo que esses estão comprometidos com o mercado.
A competição política, segundo ele, deveria ocorrer dentro de um "leque restrito de questões, de maneira a jamais colocar em jogo as estruturas da sociedade e os pontos de consenso entre as elites".
Lula coloca “sob risco” os interesses da “faria lima”, pois, colocou o pobre no orçamento e das ações.
Esse pensamento de Schumpeter sintetiza o que pensam aqueles que defendem as “liberdades” e a democracia liberal, ao invés da democracia real e da “igualdade” e fraternidade.
A democracia não pode ter como ponto central os interesses e valores e interesses da “faria lima” apenas.
Acredito que não existe possibilidade de democracia quando os interesses do mercado estão no centro das decisões, os valores de humanidade e dignidade humana devem estar na centralidade das políticas públicas de Estado.
Nós da classe média jamais seremos convolados em elite só porque jogamos pelas suas regras, pelas regras do sistema. Por quê? Porque não temos bilhões de dólares, da elite fazem parte banqueiros, industriais, latifundiários e rentistas em geral. Nós, profissionais liberais, pequenos empresários, pequenos industriais, pequenos empreendedores e comerciantes, assim como os trabalhadores, somos peças no tabuleiro do sistema, só isso.
Por isso é de uma inconsciência enorme a ascensão conservadora a partir da classe média e a reação negativa aos movimentos sociais e às políticas sociais inclusivas.
Quanto menos pobres e miseráveis, quanto mais pessoas de classe média, pequenos e médios empresários e industriais, trabalhadores bem remunerados e profissionais liberais conscientes, maior será a nossa chance de ver Democracia tendo o ser humano no centro de atenção e das decisões.
Há um vírus que precisamos vencer: o vírus da injustiça social, da desigualdade de oportunidades, da marginalização e da falta de proteção dos mais fracos.
Como me disse outro dia o Senhor Wanderley Brigone o Evangelho deve nos orientar, não pode faltar a opção preferencial pelos pobres (Exortação apostólica Evangelii gaudium) na nossa caminhada e não se trata de uma opção política, ideológica ou de partidos, não se trata de esquerda e de direita, a opção preferencial pelos pobres está no coração do Evangelho.
Antes que algum bobo venha dizer que estou comparando Lula a Cristo, evidentemente não se trata disso.
Nós católicos e cristãos em geral, temos que nos despojar de nós próprios, olharmos e trabalharmos pelo outro, na extensão da nossa compreensão e possibilidade, afinal, no Reino de Deus os pobres são bem-aventurados (Mateus 5, 3; Lucas 6,20) e Ele sempre esteve em meio aos enfermos, aos pobres, aos excluídos, mostrando-lhes o amor misericordioso de Deus. Exatamente por isso foi julgado como um homem impuro, porque ia aos enfermos, aos leprosos, os quais, segundo a lei da época, eram impuros. Ele se arriscou para estar perto dos pobres.
Os verdadeiros seguidores de Jesus são reconhecidos pela proximidade com os pobres, com os pequenos, com os enfermos e presos, com os excluídos, com os esquecidos, com os que são desprovidos de comida e de roupas (Mateus 25,31-36), os adoradores da “faria lima” estão longe do ideal de justiça social.
Lula, que não é santo, incomoda tanto porque nos mostra faltar na nossa caminhada a necessária atenção aos miseráveis e aos pobres, nos falta atitude, nos falta dar um passo além da esmola, da caridade, um passo que nos liberte do individualismo e leve onde vive o amor.Essas são as reflexões e minha homenagem ao senhor Wanderley Brigo.
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