Por que Lula 3 está diferente de Lula 1 e Lula 2

"Hoje Lula sabe que não vale a pena sacrificar determinadas convicções em nome do pragmatismo político", diz Bepe Damasco

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: José Cruz/Agência Brasil)


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Lula será sempre um negociador. Formado politicamente nas refregas do movimento sindical, prefere o acordo ao confronto, embora tenha liderado greves históricas na região do ABC que mudaram o panorama do sindicalismo brasileiro.

Contudo, para tudo na vida há limites. Quando o presidente da República em viagem à Argentina e ao Uruguai se refere a Michel Temer como “o golpista Temer” e defende com veemência o princípio da autodeterminação dos povos, para cobrar respeito à autonomia de Cuba e da  Venezuela, resta claro que os episódios verificados nos últimos anos na política brasileira operaram algumas transformações no ser político Lula.

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Lula nunca deixou de ser solidário com Cuba e Venezuela, registre-se. Mas, nos dias que correm, seria cômodo para ele se render às circunstâncias da conjuntura que o levaram a liderar uma frente ampla para derrotar eleitoralmente o fascismo e evitar temas controversos e espinhosos. Especialmente porque boa parte dessa frente é formada por partidos e políticos que apoiaram o golpe contra a presidenta Dilma e corroboram da tese de que Cuba e Venezuela são ditaduras que precisam ser relegadas ao isolamento.

Só que não. Hoje Lula sabe que não vale a pena sacrificar determinadas convicções em nome do pragmatismo político. Afinal, seu estilo cordado e conciliador não impediu o impeachment sem crime que vitimou Dilma, a caçada contra ele e seu partido, a prisão de 580 dias depois de consumada uma farsa processual sem precedentes, além das mortes de sua esposa, seu irmão e seu neto, enquanto padecia no cárcere injusto.

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Depois de ter vivido este calvário, Lula teria todos os motivos do mundo para abrigar na alma sentimentos de ódio e desejos de vingança. Mas aí falou mais alto o compromisso com o povo brasileiro, pois, caso se deixasse envenenar pela mágoa, estaria escancarado o caminho para a consolidação da extrema direita no Brasil.

Aliás, tudo que muitos adversários queriam eram ver Lula fazendo política de gueto e rejeitando qualquer aliança com quem se acumpliciou com seus algozes por ação ou omissão.

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Em vez disso, temos a melhor versão do maior líder popular do país. Como diz o jornalista Breno Altman, Lula representa atualmente a esquerda da frente ampla. E preservando as pontes com o mundo político, essenciais para assegurar sua governabilidade.

Do alto de sua reconhecida sabedoria política, ele tem consciência de que bater na tecla da denúncia do golpe é importante para que não mais aconteça e que a política de integração da América Latina que prega não teria o menor sentido sem Cuba e Nicarágua. Por isso, Lula se lixa para o esperneio dos reacionários do continente.

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E mais: nem nos governos Lula 1 e Lula 2 o presidente se mostrou tão assertivo e contundente em relação às críticas ao mercado financeiro, denunciando sua insensibilidade social e seu parasitismo. Outro dia, em entrevista à GloboNews, fulminou um dos dogmas do neoliberalismo mais caros à mídia comercial brasileira: “A independência do Banco Central é uma bobagem.”

Bingo, presidente.

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