Por que Haddad é a pessoa certa no lugar certo

Não é à toa que nunca uma proposta de reforma tributária foi tão longe

Fernando Haddad e Luiz Inácio Lula da Silva
Fernando Haddad e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)


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Uma proposta de marco fiscal ideal do ponto de vista da esquerda obviamente conteria poucas restrições ao aumento significativo dos investimentos, para o necessário enfrentamento das mazelas sociais do país.

Todos os que lutam pela melhoria da qualidade de vida do povo aplaudiriam regras fiscais com base nesse parâmetro. Contudo, tomando a realidade como medida das coisas, o problema é que essa proposta seria jogada na lata do lixo pelo Congresso Nacional de composição mais conservadora e reacionária da história.

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É aí que a habilidade política e o jeito cordato e conciliador do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fazem a diferença. Ciente de que a estabilização mínima da economia passa pela aprovação de projetos por parte de deputados e senadores de direita e extrema-direita, que hoje somam em torno de 2/3 do parlamento, Haddad vem optando pelo único caminho possível: a negociação exaustiva com os diferentes e até com os contrários.

Vejamos a questão dos juros escorchantes. Em tática certamente combinada com Lula, o ministro dialoga a exaustão e engole sapos, enquanto o presidente, atuando na raia política, critica duramente Roberto Campos Neto e a independência do Banco Central, mobilizando a sociedade.

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O êxito desta tabelinha pode ser notado pelo avanço em vários segmentos da convicção de que a atual política de juros sabota a economia e impede o país de crescer e gerar empregos.

Escrevo às vésperas da votação de um dos projetos mais caros ao governo, que é o da reforma tributária. Todos sabem o nível de complexidade desta matéria, uma babel de interesses conflitantes, cruzados e paralelos, que envolve ente federados, setores diversos do empresariado e trabalhadores.

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Não é à toa que nunca uma proposta de reforma tributária foi tão longe. Todas as iniciativas anteriores, em diversos governos, ou queimaram a largada, ou se perderam no meio do caminho, tragadas pelo cipoal de pressões e obstáculos políticos intransponíveis.

Tenho lido e ouvido algumas críticas de valorosos analistas do campo progressista sobre o conteúdo limitado do projeto de reforma tributária prestes a ser votado na Câmara dos Deputados, na forma de um relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro, do Centrão, que incluiu algumas modificações no texto original do governo.

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Não há dúvida de que as visões da esquerda são essenciais e só enriquecem o debate. Mas aqui cabe um esclarecimento: a estratégia do governo é aprovar a reforma tributária em duas etapas. Agora, antes do recesso parlamentar, a primeira parte trata da simplificação dos impostos e tributos.

Depois, no segundo semestre, é que “onça bebe água”, com as propostas de desoneração do consumo e da taxação de ganhos financeiros, patrimônio e riqueza, temas que encontrarão resistência no Congresso.

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Em síntese, navegando nas águas turvas e revoltas da economia e tendo que lidar com um parlamento que, em larga escala, comunga do ideário neoliberal, o governo não tem outra alternativa que não seja mirar no que é possível realizar.

É a tal da correlação de forças.

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