Por que a Globo não poupa Mourão?
Jornalista Moisés Mendes diz que a Globo poderia poupar o vice Hamilton Mourão e os generais do primeiro escalão do governo Bolsonaro, como fez com Sergio Moro e Paulo Guedes. "Em nome da estabilidade, das reformas ou da sua própria história de cumplicidades. Mas não dá mole aos generais", afirma
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Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia
A Globo vem batendo com força em Hamilton Mourão. Essa semana mostrou que, por ignorância ou manobra diversionista, o general acusou um servidor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de divulgar dados negativos sobre o fogaréu na Amazônia.
Mourão disse apenas que é “alguém lá de dentro que faz oposição ao governo”, sem apontar o denunciado. Soltou uma acusação contra os quadros técnicos de um instituto respeitado no Exterior, mas odiado por Bolsonaro e pelos militares por alertar para a destruição da floresta.
Para desmentir Mourão, o Jornal Nacional mostrou que qualquer um pode ter acesso aos dados do Inpe sobre o monitoramento da devastação e das queimadas. E ainda denunciou que dados recentes e ‘positivos’ de Mourão sobre focos de incêndio estavam errados.
Fica claro demais que Mourão não tem há muito tempo direito a habeas corpus na Globo. O general é desqualificado pela organização toda vez que fala como presidente do Conselho Nacional da Amazônia.
O Jornal Nacional informa sem volteios que Mourão comete erros graves ao tratar de meio ambiente. É uma tentativa de mostrar, sem fazer muito esforço, que o general não domina o assunto ou está enrolando.
Essa postura pode significar problemas na relação com Mourão e apenas com ele? Mas a Globo também desqualifica o trabalho de Eduardo Pazuello.
O general foi tratado até agora como ministro interino da Saúde, só efetivado depois de quatro meses como provisório. A Globo fazia questão de apresentá-lo sempre como um improvisado no lugar errado.
A pauta ambiental tem cobertura exemplar da Globo há décadas. Podem dizer que é o bom contágio do espírito de Washington Novaes, o jornalista que ensinou gerações de repórteres, dentro da própria Globo, a se apegarem ao tema.
Novaes morreu em agosto. Sua bravura é reconhecida, mas não deve ter sido suficiente para convencer sozinha uma organização como a Globo a gostar de bichos, florestas e ar puro e a debochar de generais.
O certo é que o ambientalismo faz bem à imagem dos Marinho, que mantêm jornalistas do primeiro time como militantes da causa.
Mas isso não explica o embate com Mourão e as reportagens que tratam das suas barbeiragens e da subserviência aos pontos de vista de Ricardo Salles.
Não é porque gosta de índios e de água pura que a Globo trata Mourão com desprezo.
As críticas a Pazuello talvez não surpreendam. É um burocrata das Forças Armadas em cargo de alto risco. Pazuello vai, acreditem, falar de restrições ao aborto esta semana no Senado.
Almas fardadas e penadas de ditadura não devem entender nada do que está acontecendo.
Um general fala de aborto, outro consegue fazer com que o mico-leão-dourado se mude da Mata Atlântica para a Amazônia e um terceiro é autor de um grande plano de recuperação do investimento público, que está engavetado há três meses.
Mas a Globo poderia poupá-los, como sempre poupou Sergio Moro e continua poupando Paulo Guedes. Em nome da estabilidade, das reformas ou da sua própria história de cumplicidades. Mas não dá mole aos generais.
A Globo serve, publicamente, cafezinho gelado aos generais (inclusive a Augusto Heleno). Por quê? Para se livrar de qualquer suspeita de restabelecimento de laços com seu passado?
O que a Globo pediu e não ganhou dos generais fiéis a Bolsonaro? Estamos perdidos como micos-leões-dourados na floresta do bolsonarismo.
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