Por que a eleição presidencial no Paraguai interessa ao Brasil?

'O Brasil é o principal destino das exportações paraguaias e é, ao mesmo tempo, o principal investidor estrangeiro no país', escreve a colunista Marcia Carmo

Santiago Peña (à esq.) e Efraín Alegre
Santiago Peña (à esq.) e Efraín Alegre (Foto: Reuters)


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Cerca de 4,5 milhões de eleitores paraguaios podem votar para presidente do país neste domingo, no primeiro e único turno da eleição presidencial. As pesquisas apontam empate técnico entre o candidato governista Santiago Peña, do longevo Partido Colorado, e Efraín Alegre, da coalizão chamada de Concertación Nacional. Alegre pertence ao Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), criado para combater a ditadura do general Alfredo Stroessner nos anos 1970. Peña foi ministro da Fazenda do ex-presidente e empresário Horacio Cartes, acusado de corrupto pelos Estados Unidos. Alegre foi ministro de Obras Públicas do ex-presidente Fernando Lugo, que não chegou a terminar o mandato. Esta é a terceira vez que Alegre disputa a eleição presidencial e, apesar do empate técnico, teria leve vantagem na corrida para este domingo (30), segundo as pesquisas de intenção de votos. Ele é um ferrenho opositor do Partido Colorado – legenda enraizada na história do Paraguai, fundada em 1887, que ainda reúne milhares de adeptos e que foi liderada por Stroessner.

Stroessner governou o país durante 35 anos, de 1954 a 1989, ampliando o isolamento e as tragédias do nosso vizinho que foi o alvo da Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), entre 1864 e 1870. País com cerca de 7 milhões de habitantes, abundante em terras e águas, sem ter mar, nosso vizinho registra, nos últimos anos, – exceto durante a pandemia – crescimento econômico contínuo de cerca de 4% anual. Neste ano, o Banco Central estima incremento de cerca de 4% e analistas apostam que a expansão poderia chegar até a 5%. Mas o Paraguai possui cerca de 27% de pessoas pobres e uma ampla classe média vulnerável e, como disse uma fonte de um organismo internacional da área social, “quase tudo por construir”. Um sistema de saúde frágil, como ficou evidente na pandemia, acessos difíceis por terra a lugares sequer muito distantes de Assunção, a capital do país, e o desafio de encarar o crime organizado em regiões da fronteira que compartilha com o Brasil.

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Nesta campanha eleitoral, porém, outro assunto ganhou força na troca de farpas entre os dois principais candidatos – a corrupção. Alegre tem dito que quer ser eleito para enfrentar a corrupção das entranhas do poder e do Partido Colorado, que também é sinônimo de poder por estar há décadas no Palácio presidencial de López – uma únicas exceções foi a gestão do ex-presidente Fernando Lugo (2008-2012). Em meio a escândalos por acusações de suas paternidades não admitidas publicamente, o ex-bispo Lugo não concluiu o mandato que no Paraguai é de cinco anos. O chamado ‘bispo dos pobres’ era a esperança de muitos paraguaios que através dele esperavam a inclusão social.

Mas por que esta eleição interessa ao Brasil? O Brasil é o principal destino das exportações paraguaias e é, ao mesmo tempo, o principal investidor estrangeiro no país. Os investimentos brasileiros já não se limitam aos setores do agronegócios. Passaram a ser diversos na área industrial nos últimos anos.

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E os dois países compartilham a hidrelétrica de Itaipu. Na reta final da campanha, concluída na quinta-feira (27), Efraín Alegre anunciou que reduzir os preços das tarifas de energia elétrica será sua primeira medida – que chamou de decreto. Com viés de esquerda, decidido a reduzir a pobreza no país, como tem enfatizado, o presidenciável opositor disse que defenderá a “soberania energética” do Paraguai. Para isso, pretende criar, caso eleito, uma “comissão pluripartidária” para analisar o acordo sobre o preço das tarifas de Itaipu para o Brasil. “Instalaremos uma mesa de negociação com a República Federativa do Brasil. Reivindicaremos nossa soberania energética e preço justo da nossa energia”, disse Alegre. Desde 2019, o presidenciável tem criticado o acordo “secreto” assinado entre o atual presidente Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, e o ex-presidente Jair Bolsonaro. “Foi um acordo por um preço absurdo que prejudica os interesses do Paraguai. Não corresponde aos interesses do Paraguai”, disse Alegre a poucos dias da eleição deste domingo. “O preço de 11 dólares (quilowatts hora) a 30 anos é uma traição contra a nossa pátria”, disse. Segundo analistas paraguaios, o fato de Lula ser o presidente do Brasil permitirá que as divergências sejam resolvidas através do diálogo. No caso do candidato governista Santiago Peña, a campanha foi mais voltada para ratificar que o país cresceu nos últimos anos, que a segurança pública é uma das suas bandeiras, assim como “a tradição e a família”. Político com víeis de direita, Peña tem recebido apoio de diferentes linhas do seu Partido Colorado, apesar dos rachas explícitos da legenda. Mas para Efraín Alegre, caso eleito, entende, as urnas também terão sido alimentadas com os votos dos políticos e eleitores do partido longevo e que não estão insatisfeitos. Um terceiro candidato surgiu nas pesquisas – Payo Cubas diz ser contra o sistema político. Se as pesquisas estiverem certas, ele chegaria em terceiro lugar neste domingo, aglutinando os votos dos que não querem os políticos com mais chances de governar o país, onde, apesar das dificuldades, mantém sua forte identidade. No Paraguai, o idioma guarani é ensinado nas escolas e quase todos falam guarani e espanhol – e, muitas vezes, português, no cotidiano. Enfim, um vizinho que neste domingo define seu rumo. A posse do sucessor de Mario Abdo Benítez será no dia 15 de agosto.

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