Por que a conversa sobre a unidade da esquerda virou uma chatice

Antes era fácil encontrar um vilão: o maior partido desse campo, o PT, e o seu “hegemonismo” atávico. Agora, porém, o buraco é mais embaixo. Peguemos como exemplos as eleições municipais recentes nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro



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Toda eleição é a mesma lenga-lenga. Tanto faz que estejam em disputa as prefeituras das capitais, os governos estaduais ou a presidência da República, o roteiro é parecido: primeiro militantes e dirigentes da esquerda pregam a unidade como fator essencial para a vitória; na sequência passam a culpar uns aos outros pelo fracasso das negociações visando a unidade; por fim, com algumas exceções, os partidos resolvem correr em faixa própria no primeiro turno e lançam seus candidatos.

Antes era fácil encontrar um vilão: o maior partido desse campo, o PT, e o seu “hegemonismo” atávico. Agora, porém, o buraco é mais embaixo. Peguemos como exemplos as eleições municipais recentes nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro.

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Na capital paulista, o PSOL antecipou-se a qualquer tentativa de construção de uma candidatura unificada e lançou a forte chapa Boulos-Erundina. No Rio, embora o PT tenha sinalizado até com bastante antecedência seu apoio à pré-candidatura do deputado psolista Marcelo Freixo, as tratativas emperraram diante da rebelião do setor antipetista do PSOL. Freixo acabou desistindo e os dois partidos apresentaram suas candidaturas à prefeitura.

É importante destacar que não existem mocinhos e bandidos nesta história. Os partidos se movem por interesses políticos legítimos e por instinto de sobrevivência. As exigências da cláusula de barreira impõem a necessidade de os partidos menores se apresentarem nos pleitos com cara própria, sob pena de perderem o acesso aos fundos partidário e eleitoral e ao tempo de TV na propaganda gratuita, o que pavimentaria o caminho para a extinção.

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Os partidos merecem uma salva de palmas, portanto, quando todos esses obstáculos são superados e as alianças são sacramentadas. Dentre outros, podemos citar os casos da candidatura vitoriosa de Edmilson Rodrigues, do PSOL, em Belém, que contou com o apoio do PT e do PCdoB; de Manuela D’Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, cujo vice foi o petista Miguel Rosseto; e da chapa Benedita da Silva (PT) e Enfermeira Rejane (PCdoB) no Rio.

Mas essa não tem sido a regra. E tudo leva a crer que a eleição presidencial de 2022 siga na mesma toada. Haddad já está em campo como pré-candidato. Seria de uma ingenuidade atroz imaginar que o partido que venceu quatro eleições presidenciais consecutivas, chegou ao segundo turno e perdeu em duas (1989 e 2018) e alcançou a segunda colocação, mesmo não havendo segundo turno, em 1994 e 1998, deixasse de ter candidato próprio.

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Alguém duvida também que o sucesso da candidatura de Boulos à prefeitura de São Paulo, pleito no qual, a despeito da derrota eleitoral, obteve inegável vitória política, serviu como plataforma de lançamento para a refrega pelo Planalto em 2022? E o PCdoB? Está na cara que o partido não perderá a oportunidade de entrar no jogo com um quadro preparado e competente como Flávio Dino, governador do Maranhão, afinal, uma candidatura presidencial ajuda a puxar a chapa para o Congresso Nacional.

Mesmo que Lula recupere seus direitos políticos, esse ato de justiça teria potencial para aproximar provavelmente apenas o PCdoB, aliado histórico do PT, da eventual candidatura do ex-presidente. Isso porque o PSOL, além do antipetismo visceral de algumas de suas correntes, se pauta prioritariamente pela tática da construção partidária, para a qual a vitrine oferecida pelos processos eleitorais é um fator de suma importância.

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A unidade, contudo, pode ser perfeitamente alicerçada por meio das ações conjuntas de enfrentamento ao governo neofascista, de um pacto de apoio mútuo no segundo turno, além do compromisso de levar para as ruas na campanha a luta pelo resgate da soberania do país e dos direitos civis, sociais, econômicos e ambientais do povo brasileiro. Evitar ataques desnecessários no primeiro turno também contribui para a solidez da aliança no segundo turno. 

Para não perder tempo, não tratei aqui de Ciro Gomes, que, na minha visão, pertence a outro campo político e não o da oposição de esquerda.

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