Por dentro da mente de Dilma
No jogo político de Dilma, a corda parece ser mantida sempre esticada – seja na relação com empresários, seja com os aliados e até mesmo com o PT. Mas é assim que ela tem avançado e pretende continuar avançando
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“Tem gente que vem aqui e reclama que eu sou exigente? Uai, mas queriam que eu não fosse?”, questiona Dilma Rousseff, aos interlocutores que, ao visitá-la, enxergam certo contraste entre uma cordialidade cada vez mais mineira e a fama de durona, que ressalta sua alma gaúcha. Dilma explica o motivo das cobranças: “A Presidência da República tem prazo determinado, isso aqui tem começo, meio e fim, é um período muito curto, que exige o melhor de mim e de todos que estão aqui”.
Uma demonstração do “estilo Dilma” se deu nos recentes leilões de aeroportos e também na concessão da chamada “rodovia da soja”. Antes das disputas na BM&FBovespa, Dilma vinha sendo acusada de ter rompido todos os canais de diálogo com o empresariado e de tentar tabelar as margens de lucro do setor privado – o que estaria afugentando investidores daqui e de fora. No auge da pressão, ela se mantinha calma e apontava certo “chororô”, típico dos momentos que antecedem grandes leilões. “Estou nesse negócio de leilão faz tempo e sei como funciona.” Quando os envelopes foram abertos, o Galeão teve 294% de ágio. Na BR-163, o corte na tarifa foi de 52%, o que significa que grandes grupos empresariais, associados a parceiros internacionais, decidiram investir alto para obter retornos ainda menores do que aqueles colocados nos editais.
Por que isso aconteceu? “Porque o Brasil é uma das grandes oportunidades do mundo”, enfatiza Dilma, antes de explicar como funciona sua relação com os capitães da indústria. “Existe diálogo, mas numa relação de cooperação. Nem o Estado pode querer subordinar o empresário, nem o empresário pode querer subordinar o Estado.” Evidente que há quem não goste – especialmente grupos empresariais que se acostumaram a manter uma relação, digamos, mais azeitada com o poder. Entre estes, alguns têm saudade de FHC; outros, de Lula. A barreira institucional colocada por Dilma incomoda, mas, como se viu nos casos recentes, produz ágios maiores e tarifas menores.
Questionada sobre o “fogo amigo”, ela retruca e aponta “fogo inimigo”, mas não indica a origem. O fato inquestionável, porém, é que ela tem avançado nas últimas semanas, obtendo vitórias que ajudam a arrefecer movimentos pela volta de Lula. Ao também se manter distante da polêmica sobre a Ação Penal 470 e os eventuais abusos cometidos nas prisões de ex-dirigentes do PT, ela marca mais uma diferença em relação ao antecessor. A quem a questiona sobre o motivo, Dilma diz ser “presidenta de todos os brasileiros e não da militância do PT”.
No jogo político de Dilma, a corda parece ser mantida sempre esticada – seja na relação com empresários, seja com os aliados políticos e até mesmo com o PT. Mas é assim que ela tem avançado e pretende continuar avançando.
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