Pôr boneco infamante a Lula na ponte da Folha faz todo sentido

Então ficamos assim: levar uma difamação caluniosa e injuriosa à rua contra alguém que não foi condenado a nada e que, portanto, detém direito à preservação da própria imagem, até por ter sido presidente da República, pode; reagir à agressão, não pode



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Não poderia ser mais apropriada a escolha da ponte Octavio Frias de Oliveira (fundador falecido da Folha de São Paulo) para que um bando de energúmenos endinheirados atacassem a honra do ex-presidente Lula com um boneco inflável de 300 quilos e 12 metros altura, confeccionado ao custo de 12 mil reais – dinheiro que não se sabe de onde veio.

A Folha, vale lembrar, é o único órgão de imprensa do país que tem uma ponte para chamar de sua. Inaugurada em 2008 pelo então prefeito Gilberto Kassab, a ponte da família Frias, vulgo “ponte estaiada”, custou à viúva 184 milhões de reais e mais 40 milhões para sinalização de trânsito no local.

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Detalhe: a ponte tem baixíssima utilização.

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Enfim, a chamada da matéria de capa sobre o boneco na edição da Folha do dia seguinte ao ato infamante deixa claro por que a ponte do jornal foi escolhida para o ato. A manchete: “Operação pixuleco”.

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A reportagem feita em tom jocoso tanto quanto outras de veículos de linha editorial antipetista análogas reflete o oposicionismo militante do jornal desde que, há pouco mais de 12 anos, durante a campanha eleitoral de 2002, Luladeixou falando sozinho o filho do fundador do jornal (Otavio Frias Filho, o “Otavinho”) durante em almoço em que este ofendeu aquele que naquele ano se elegeria presidente da República – o dono da Folha queria saber como Lula poderia ousar querer ser presidente sem ter diploma universitário e sem falar inglês. O então candidato a presidente se levantou da mesa e deixou o herdeiro de velho Frias falando sozinho.

Desde então, a Folha protagonizou os ataques mais baixos contra a honra de Lula que se possa imaginar, tendo como ponto alto a publicação de uma matéria que acusava o petista de ter tentado estuprar um colega de cela quando esteve preso durante a ditadura militar.

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O mais interessante em tudo isso é a inversão de valores que vivemos. Se Lula fosse presidente da República ou ocupasse qualquer cargo público, confeccionar o caríssimo boneco e gastar uma nota preta para transportá-lo e montá-lo não deixaria de ser um crime contra a honra, mas por certo a Justiça entenderia que um governante tem que suportar esse tipo de coisa por ser um gestor público. Porém, atualmente Lula é só um cidadão comum. Não tem que aguentar isso.

O boneco não faz uma crítica, comete uma calúnia. Lula não foi condenado a nada. A investigação contra ele no Ministério Público é só uma ação preparatória para apurar sabe-se lá o que. Não há fato concreto contra o ex-presidente, apenas uma especulação de que as palestras que deu para empreiteiras envolvidas na Lava Jato poderia ser produto de algum tipo de acordo envolvendo os crimes que essas empresas cometeram.

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Não há acusação de quando, onde, como e por que haveria sido pago algum tipo de propina. A investigação em curso no MPF baseia-se em notícias de jornal sem um fato determinado que as justifiquem, até onde se sabe.

O que espanta é o alto custo para fazer esse tipo de manifestação caluniosa, difamatória e injuriosa. Os responsáveis pela criação do boneco contrataram frete para transportá-lo até São Paulo – foi lançado em Brasília, nos protestos de 16 de agosto último. A operação de transporte e montagem do boneco é complexa, pois requer um grande gerador e um potente ventilador.

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Para completar o quadro de inversão de valores, a estudante de Direito Emmanuelle Thoazielo, de 21 anos, integrante do movimento União da Juventude Socialista, simpatizante de Lula e do PT, foi “presa” por “suspeita” de ter “esfaqueado” – e, portanto, esvaziado o boneco inflável durante uma contramanifestação de simpatizantes de Lula, que se revoltaram com a iniciativa infamante e foram ao local protestar.

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A mídia vem considerando mais grave “esfaquear” um boneco do que atirar uma bomba contra o Instituto Lula. Colunistas como Merval Pereira e Ricardo Noblat fizeram tal afirmação.

Então ficamos assim: levar uma difamação caluniosa e injuriosa à rua contra alguém que não foi condenado a nada e que, portanto, detém direito à preservação da própria imagem, até por ter sido presidente da República, pode; reagir à agressão, não pode.

O mais grave é o enfrentamento entre grupos pró e anti Lula nas ruas por causa desse episódio. Após o boneco ser furado na ponte estaiada, os seus proprietários rapidamente o consertaram e o levaram para diante da prefeitura, onde ocorreu o enfrentamento.

Como a esquerda já começa a ir às ruas contra os golpistas, é previsível que comecem a ocorrer nas ruas choques entre petistas e antipetistas cada vez mais virulentos. É mais do que previsível, pois, que é uma questão de tempo para que pessoas acabem feridas e até mortas nesses choques, pois a polícia não estará sempre nos locais em que venham a ocorrer.

Enquanto isso, a mídia trata de pôr lenha na fogueira – como se vê na primeira página da Folha deste sábado.

De vez que a violência comece, vai ser duro fazer com que reflua. Além de todos os problemas econômicos que a crise política está causando, a mídia e esses movimentos fascistas vão acabar desencadeando uma (literal) guerra civil nas ruas do país. E que não se enganem os que desejam essa situação. Dos dois lados haverá gente disposta ao enfrentamento.

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