Político que apoiava tratamento precoce em Porto Feliz é internado com covid e pede que orem por ele
A cidade apresentada por Carlos Wizard como modelo de terapêntica com cloroquina sofre com explosão de óbitos e padre chora ao falar da pandemia, conta Joaquim de Carvalho
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O vereador de Porto Feliz Saulo Henrique Cândido surpreendeu a população da cidade hoje ao informar que foi internado com covid-19.
Saulo é do PTB, o mesmo partido do prefeito, o médico Cássio Prado, apresentado pelos bilionários bolsonaristas Carlos Wizard e Luciano Hang como exemplo bem sucedido do tratamento precoce, com distribuição de ivermectina e cloroquina.
"Infelizmente sou mais um acometido pela Covid, hoje o quadro piorou um pouco e estou internado. A doença está muito forte, se cuidem, se protejam, porque os sintomas são devastadores, incluindo a tosse incessante, dores na cabeça e no corpo e falta de ar. Conto com suas orações!”, escreveu o vereador na rede social.
No ano passado, quando estava em campanha pela reeleição, juntamente com o prefeito, ele postou uma foto em que anunciava seu apoio ao chamado “tratamento precoce”.
Saulo, de 32 anos, não tem comorbidade e ainda não recebeu nem a primeira dose da vacina.
Porto Feliz foi visitada pelo bilionário Carlos Wizard em junho do ano passado, quando ele era uma espécie de assessor informal do general Eduardo Pazuello, então ministro interino da Saúde.
Depois da visita, Wizard mentiu em entrevista que a cidade não tinha casos de Covid. Mais tarde, contestado, ele acabou dizendo que a média de óbitos em Porto Feliz era inferior à média nacional, o que também não é verdade, como demonstrou o infectologista Marcos Caseiro, em entrevista ao Boa Noite da TV 247.
Porto Feliz contabilizou nesta segunda-feira 121 óbitos por covid-19 desde o inicio da pandemia. A cidade tem cerca de 53 mil habitantes, o que dá a média de 226 óbitos por 100 mil moradores.
Na cidade vizinha Tietê, que tem 42 mil habitantes e não adotou o tratamento precoce como política pública, a média é menor: 206 por 100 mil habitantes.
Eu estive com o cinegrafista Eric Monteiro na cidade de Porto Feliz para produzir o documentário A História Secreta da Cloroquina, que será lançada no próximo sábado, e registramos flagrantes de aglomerações e do não uso de máscara.
O número de óbitos por covid-19 já estava explodindo e, em 20 dias, morreram mais 21 pessoas, o que dá a média de uma morte por dia.
Neste fim de semana, o padre Antonio Carlos Fernandes, de uma grande igreja local, a Nossa Senhora Mãe dos Homens, fez um apelo emocionado para que as pessoas sigam as orientações sanitárias de distanciamento social, uso de máscara e de lavar as mãos com água e sabão ou álcool em gel.
“É muito triste a gente sepultar paroquianos. É muito triste a gente ver a dor de paroquianos enterrando um pai, enterrando uma mãe, enterrando um filho e você não poder abraçar e dizer: olha, nós estamos aqui”, afirmou
Procurado na ocasião pelo 247, o prefeito Cássio Prado disse que estava sem espaço na agenda para entrevista, mas, alguns dias depois, deu entrevista a uma rádio que o apoia, e disse algumas algumas frases polêmicas.
“As pessoas não se contaminam no comércio, indo comprar um sapato e ficando dez minutos nas lojas”, afirmou.
Também responsabilizou os moradores pelo aumento da transmissão. “Aglomerações acontecem em casa, em festas em chácaras”, declarou.
Ele também garantiu que as transmissões em Porto Feliz aumentaram em razão de uma nova cepa do vírus, a indiana. Disse que a maior parte dos internados é de pessoas que não tomaram o "remédio profilático”, que não se cuidaram.
Será que o vereador do seu partido que defendeu o tratamento precoce, não tomou cloroquina, azitromicina e ivermectina?
Na cidade é muito fácil. Com apoio do Exército, foram montados dois postos de saúde especificamente para distribuir kit covid.
“São as pessoas que não se cuidam”, enfatizou. Ele também citou outro dado para defender sua política.
Em Porto Feliz, um dado tem chamado a atenção de epidemiologista, por ser muito diferente de outras cidades da região.
O número de infectados é grande, o que dá uma média de letalidade menor. Para o líder comunitário Fábio Corvo, artista de hip hop, esse dado precisaria ser auditado.
“Cheira manipulação”, disse Corvo. Hoje a cidade contabiliza 8.821 casos de covid-19. A vizinha Tietê tem 6.788.
O prefeito disse à rádio que o número elevado de casos se deve também à construção civil: haveria um número grande de pedreiros e serventes de outras regiões que trabalham em dois condomínios de luxo.
“Esse dado de letalidade deve ser visto com cautela. Em cidades onde a testagem foi grande, a tendência é que a letalidade seja menor. É por causa da testagem, não de remédios sem eficácia”, comentou o infectologista Marcos Caseiro, do Hospital Emílio Ribas.
O prefeito de Porto Feliz descarta adotar lockdown, medida que conteve a transmissão em países da Europa e mesmo no Brasil.
Em Araraquara, cidade administrada por Edinho Araújo (PT), o lockdown foi responsável pela redução acentuada da curva de contágio.
Porto feliz tem uma mortalidade equivalente a 226 por 100 mil habitantes. Em Araraquara, a mortalidade é de 206.
“Lockdown não resolve”, disse Cássio. “No comércio, as pessoas usam máscara e álcool em gel, a transmissão não ocorre lá.”
São frases que certamente soam como música aos ouvidos de empresários como Wizard e Luciano Hang.
Porto Feliz, cidade média, não é possível mais sustentar a farsa que, na avaliação da oposição, foi responsável pela reeleição do prefeito.
Ele teve 92% dos votos válidos, depois da intensa distribuição dos remédios ineficazes para covid-19, inclusive ivermectina, entregue de casa em casa por servidores da prefeitura.
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