Políticas identitárias, uma ilusão?

(Foto: Reuters)


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Política identitária ou identitarismo refere-se a posições políticas baseadas nos interesses e nas perspectivas de grupos sociais com os quais cidadãos se identificam, elas visam a moldar ações de agentes públicos e privados para que determinados grupos tenham suas reivindicações atendidas, ganhem respeito e visibilidade social. 

Tais grupos podem se formar a partir de uma grande quantidade de sinais identitários, tais como idade, gênero, orientação sexual, religião, classe social, raça, língua, nacionalidade etc. 

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O tema é delicado, mas merece reflexão de todos que acreditam na unidade das ações como método necessário ao aperfeiçoamento da sociedade e para a conquista da igualdade. 

Bem, os críticos afirmam que a política identitária é uma ação da direita, usada para sequestrar e acabar com os movimentos sociais verdadeiramente transformadores, dizem ainda que essa política fragmenta a luta nacional-popular e são entraves à unidade. Essa é a posição do PCO.

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O presidente do PCO até reconhece que as questões identitárias são justas e tem que ser patrocinadas, afinal, as mulheres são perseguidas, os negros são a parte mais vulnerável da sociedade, os jovens tem demandas muito especificas, a comunidade LGBTQI sofre todo o tipo de selvageria e discriminação, e cada uma dessas minorias precisam ser protegidos, mas (quando essa conjunção está presente, cuidado) não são questão central, pois, a soma desses interesses identitários não representa o todo do interesse nacional e o interesse nacional seria a chave para uma reconciliação entorno do que unifica e atende a maioria da população.

Dizem ainda que os movimentos identitários são causadores da fragmentação e desagregação da esquerda, e abrem espaço para que a direita, em especial a extrema-direita, adote um falso discurso de “união nacional” e “defesa das maiorias” (falso porque a direita defende a “minoria”, sistema financeiro internacional).

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Essas críticas poderiam fazer algum sentido se a questão identitária fosse artificial ou não estivesse contida em questões mais amplas.

Já os apoiadores das políticas identitárias, começam criticando a palavra “identitarismo”, porque ela não daria conta de fazer entender o que é o movimento por direitos e representação de segmentos invisibilizados.

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“Identitarismo” seria um termo preconceituoso, pois, transforma o movimento feminista, negro, trans, favelado etc. em algo guetizado, ou seja, passaria a impressão que esses movimentos só lutam por suas identidades e não por uma sociedade mais justa e igualitária.  

Ocorre que o movimento identitário garantiu a imensa vitória para cargos parlamentares daqueles que carregam essas bandeiras e que não tinham espaço na política tradicional; negros, negras, mulheres, LGBTQIA+, etc., engajados nesses movimentos vem realizando uma verdadeira revolução, ampliando a representação parlamentar, especialmente nos partidos de esquerda que abrigam essas candidaturas. 

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Mas há uma parcela razoável de pessoas - que se apresentam de esquerda - que acha que este movimento é despolitizado. A que os defensores do identitarismo respondem dizendo que a politização não emerge de cartilhas formais, nem do debate acadêmico ou de dogmas centenários, mas a partir da experiência de vida e da dor das injustiças, acredito nisso.

Ademais, críticas dessa natureza existem desde a década de 80 quando surgiram as primeiras lideranças parlamentares sindicalistas, que vinham do chão de fábrica; eles eram tidos, pela mesma esquerda que critica o identitarismo e pela também direita, como “despreparados”.

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Acredito que essa resistência faz parte do preconceito estrutural que existe mais forte na direita, mas que também encontramos na esquerda.

O PSOL tem se conectado melhor com este universo. Outros partidos tentam, mas tem dificuldades, apesar de ser evidente que o movimento identitário está contido na construção da sociedade de iguais, fraterna e livre. 

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O olavobolsonarismo percebeu que a esquerda não está unificada em relação ao identitarismo e Bolsonaro, apoiado por Steve Bannon e o finado Olavo, disse num de seus discursos de campanha que o Brasil é das “maiorias”, dizendo isso disse - de forma subliminar - que a esquerda se preocupa com guetos e não com o país.

Nos EUA, o professor Mark Lilla, um intelectual de centro-esquerda, se tornou o grande campeão das críticas ao identitarismo. Lilla publicou um artigo no New York Times no qual atribui a vitória de Trump à fragmentação produzida pelo identitarismo nas hostes do Partido Democrata. O artigo foi o mais lido do New York Times em 2016, e foi ampliado no livro: “O progressista de ontem e o do amanhã: Desafios da democracia liberal no mundo pós-políticas identitárias”.

O fato é que o identitarismo chegou para ficar e também é verdade que as lutas identitárias nem sempre são compreendidas como universais pela população, e o fascismo contido no olavobolsonarismo sabe e usa isso a seu favor e, num só movimento, desqualifica a esquerda e o identitarismo dizendo “o mundo está muito chato”, “isso é coisa de esquerdalha”, “querem destruir os valores da família tradicional”, etc. 

Outro aspecto relevante: apenas o discurso político, identitário ou não, é insuficiente para o mundo melhorar, precisamos materializar nossas ideias, são necessárias ações concretas, sem isso perde respeito e credibilidade.

Devemos discutir e implantar políticas públicas de amplitude nacional, como a questão do emprego, o salário, renda, inflação, desenvolvimento, dignidade da pessoa humana etc., sem perder de vista que as demandas identitárias são legitimas e devem estar em contidas nas políticas públicas democráticas.

Essas são as nossas reflexões.

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