Política é disputa, disse Lula

"Lutar para ganhar essa disputa significa, antes de tudo, ganhar votos para triunfar no primeiro turno e impedir qualquer aventura golpista", escreve Emir Sader

(Foto: Ricardo Stuckert)


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Por Emir Sader

A coisa mais fácil – e preguiçosa – a fazer é dizer: Vai haver golpe. Ninguém pode jurar que não vai haver. Ele quer. Mas ele pode? A realidade é tão linear? Se não, ele já teria dado o golpe.

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Ele quer? Certamente. Por mais que se engane, já se deu conta, pela reiteração das pesquisas nos últimos meses, que no voto ele perde. Lula com 45% e ele com 31% no primeiro. Diferença de 20 pontos, se houver segundo turno. No primeiro e/ou no segundo turno, ele perde. Resta o golpe para ele. Mas de querer a poder, há um trecho, às vezes intransponível.

Com quem ele conta? Com os grandes empresários, que tem grana, mas não tem voto. Com militares, que não tem voto, mas têm armas. Com evangélicos, divididos pela metade.

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Custa especular? Custar, não custa. Mas tem um preço. Povoar a internet com certezas de que haverá golpe, contribui para que haja golpe. Naturaliza o golpe. Porque desmoraliza e desmobiliza.

A realidade é sempre contraditória. E, como recordou o Lula, a política é disputa. As forças a favor e contra o golpe estão em disputa. O golpe tem a força das manipulações que ele promove e conta - conforme as versões -, com maior ou menor apoio militar. Mesmo este, pode se comprometer com um golpe sem o apoio dos Estados Unidos? Que não são democráticos, mas na cabeça do Biden ronda o fantasma do Trump, aliado do cara daqui. Está, por isso, contra um golpe por aqui. 

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A democracia brasileira é ainda frágil. Mas as forças democráticas e antibolsonaristas têm grande peso já. O ato do Lula e seus efeitos – inclusive o da atualização da linda música da campanha – demonstraram essa força. Lula é forte para convocar mobilizações e resistência a tentativas de golpe.

Na política, ninguém ganha de véspera. Ainda mais numa realidade dinâmica como esta. Até antes do ato do Lula predominava o pessimismo. O ato levantou de novo uma onda de otimismo que faz que mais e mais gente acredite que o Lula vai ganhar, governar e mudar o Brasil para melhor.

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Provavelmente ele tentará todas as formas de golpe, mas muito provavelmente não terá as condições para colocá-lo em prática. Denunciar sempre suas tentativas de golpe. Mas nunca dar o golpe como seguro, nem como provável.

A política é a arte da disputa. O destino do Brasil está em disputa. A convergência entre as denúncias de golpe, a certeza – de alguns – de que haverá golpe – e a vontade do governo de dar o golpe, criou um clima de naturalização do golpe. Há mesmo quem diga que há tradição golpista no Brasil. Outros que recomendam guardar dinheiro diante do golpe que vem por aí.

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Tudo favorece o golpe, o clima do golpe, os projetos do golpe? E no entanto há força mais do que suficiente para resistir e derrotar o golpe. Para eleger o Lula, garantir sua posse e seu governo. E para que o país volte a mudar, a mudar para melhor. Lula tem liderança popular e nacional para convocar a resistência e a derrota do golpismo.

Subestimar essas forças é não se dar conta dos avanços que o Brasil teve quando, em democracia, conseguiu eleger e reeleger governos que colocaram em prática políticas que favoreceram a grande maioria da população. É não confiar na força da democracia.

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Uma vez mais, a esperança se enfrenta à direita, ao golpe, ao desânimo, ao desalento. É hora da política como capacidade de convencimento da massa da população de como a democracia é indispensável para que a maioria decida o futuro do Brasil. Hora de derrotar a força, a violência, a truculência, as ameaças. 

Uma disputa que decidirá quem presidirá o Brasil, com que apoios, com que força. Nada está decidido, embora nem tudo seja possível. Lutar para ganhar essa disputa significa, antes de tudo, ganhar votos para triunfar no primeiro turno e impedir qualquer aventura golpista.

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