Poetas nordestinos contra Bolsonaro no sertão
Ora, contra a fala de Bolsonaro, o poeta Lamartine dos Passos e Silva na inédita Antologia dos poetas do Pajeú, que tenho em arquivo, escreveu versos numa premonição
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Dos jornais na quinta-feira primeiro de outubro:
“O presidente Jair Bolsonaro desembarcou nesta quinta-feira (1º), em São José do Egito, no sertão do estado, para inaugurar a segunda etapa do Sistema Adutor do Pajeú”.
Nesse giro, de cabeça e ausência de caráter, Bolsonaro inaugurou obra inaugurada por Lula e Dilma. A primeira etapa da adutora foi inaugurada em 2013, no governo Dilma. Antes, a captação das águas no Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco foi inaugurado no governo Lula. Mas o presidente de improviso e seus seguidores em caráter de traição, como o senador Fernando Bezerra Coelho, pensam que calam a voz da consciência. Sobre eles, falaram antes os poetas de São José do Egito, terra fértil da poesia popular.
No discurso – na falta de melhor palavra -, Bolsonaro teve dificuldade para lembrar o nome do município e pediu para os moradores buscarem bons candidatos nas eleições deste ano. Alguns trechos da fala do boneco de Trump na presidência, em São José do Egito:
“Vamos caprichar para escolher prefeitos e vereadores. Vamos escolher gente que tenha deus no coração....”
Ora, contra essa fala, o poeta Lamartine dos Passos e Silva na inédita Antologia dos poetas do Pajeú, que tenho em arquivo, escreveu estes versos numa premonição:
O DEUS CAPITAL
E assim, do níquel, fez-se o verbo santo;
Eclodia o poder do capital.
Triunfante miséria social
Envolveu os humanos com seu manto;
Proclamando a riqueza e o seu encanto,
Congelando justiça e consciência.
E, abolindo da terra a inteligência,
Faz-se Deus de poder universal;
Gera um mundo tão vil, tão desigual;
Joga os homens na vala da indecência.
É o único Deus que oferece
Paraísos reais aqui na terra
É quem diz quando há paz ou quando há guerra;
É quem diz quem progride ou quem padece.
Sua fonte é o trabalho que arrefece
O espinhaço do proletariado.
Seu destino, entretanto é projetado,
Sobre os cofres repletos da nobreza
Condenando o mais pobre a mais pobreza
Dando, assim, mais desgraça ao desgraçado.
É o sustento dos Deuses-fantasia;
Compra fé do mais justo ao mais tirano;
Borda d’ouro e cristais o vaticano;
Encarcera e profana o Deus-poesia.
Em seu nome a verdade principia;
Em seu nome a verdade se extravasa.
Onde lança os tentáculos arrasa,
Como um polvo gigante, soberano,
Ditador imortal desse oceano
De ganância, cinismo e mente rasa.
Dele o poder emana, é sua cria;
Pelo dinheiro, o poder mancha o nome;
Pra minoria farta se consome
(podre paródia de democracia).
E os baluartes da demagogia,
Com um Deus no bolso, roubam toda a massa;
Esses ladrões, depois que o pleito passa,
Voltam pro trono longe da miséria.
Enquanto o pobre tomba na matéria
Que, em breve tempo, só será carcaça.
Mas sem saber onde pisava, sem conhecer o pensamento e sentimento da voz poética dos sertanejos, o boneco de faixa de presidência cometeu mais esta ignorância:
“Deus foi tão abençoado que nos deu até a hidroxicloroquina para quem se acometer da doença”
A isso responde a poeta Carmen Beatriz dos Passos e Silva, na mesma Antologia dos poetas do Pajeú, com este certeiro soneto:
PROCURA-SE DEUS
São em vão os caminhos palmilhados
Por quem faz neste mundo a violência.
Tantas guerras, humanos humilhados
Por pessoas de grande prepotência.
Buscam Deus nos lugares mais errados
Onde reina a injustiça, a incoerência,
Onde a paz e o amor são enterrados
Ante o ódio, a maldade e a indecência.
Rezam aos céus pra pedir dinheiro e fama
E a grandeza da alma é esquecida;
A moral e a bondade jogam à lama...
Quando alguém por justiça ainda clama,
Viram as costas pra voz já tão sofrida,
Apagando os sinais da santa chama.
Mas o fascista no poder não se recupera, surdo e cego que é para a poesia, e tenta recuperar um lema integralista, a versão do fascismo brasileiro:
“que tenham na alma o patriotismo e queiram de verdade o bem do próximo. Deus pátria e família”.
Para tal patriotismo Deus-Pátria-Família, Simone dos Passos e Silva Leite , uma das vozes poéticas de São José do Egito assim lhe responde:
HINO ÀS AVESSAS
Bradam forte os heroicos da nação
Para ver da justiça a clava erguida,
Ao lutar, desbravar bosques da vida,
Ver nascer liberdade neste chão.
Mas as flores que brotam são em vão,
Desfolhadas de forma infame e vil.
E o penhor da igualdade no Brasil
É esquecido por esta Pátria Amada,
Sem razões pra gritar “Terra Adorada”,
Pois não é dos seus filhos Mãe Gentil.
E as estrelas do lábaro ostentado,
Ofuscadas no breu do sofrimento,
Vão perdendo no azul do firmamento
O poder de luzir manto sagrado.
Só restou o colorido desbotado
Do que foi o pendão da esperança.
Hoje é pavilhão de insegurança
De um país sem orgulho da bandeira,
Com o progresso e a ordem brasileira
Sucumbindo e ficando na lembrança.
Nosso hino nasceu desafinado
Entoando uma falsa liberdade,
Que na pauta da vil desigualdade,
Chora as notas de um povo aprisionado.
Se o arranjo não foi bem orquestrado
Resta, em versos, lutar pela utopia,
Libertar dos grilhões a poesia
E trazer esperança à brava gente,
Pra poder transcender eternamente
Novos sons imortais da sinfonia.
Então o arremedo de presidente seguiu para outros lugares, a espalhar o seu vírus. A sua única imunidade è aos poetas de São José do Egito, que cantam na voz de Gilmar Leite:
Quando as águas tremulam na corrente
São poemas do audaz de Rogaciano,
Que cantou contra o mundo desumano
Na defesa dos pobres e oprimidos,
Que nas margens soltavam os gemidos
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