Pobreza

(Foto: Oswaldo Forte/Agência Belém)


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Definir a pobreza como a qualidade daquele que não tem dinheiro seria, por si só, lançar uma definição muito pobre sobre a própria pobreza. Ter dinheiro, a rigor, não lhe garante sair da pobreza sobre inúmeros aspectos. 

Já na Grécia Clássica falava-se sobre o ”Homem endinheirado” que era pobre em caráter, pobre em honestidade, pobre em moral, pobre em beleza, pobre em inteligência, pobre em amigos, pobre em compaixão, pobre em destreza…

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Mas a atual sociedade se esforça em reduzir o conceito de pobreza tão somente à incapacidade de um não obter acesso ao dinheiro enquanto o conceito de riqueza seria apenas a capacidade de alguém obter muito dinheiro. Dessa forma, mais e mais a sociedade simplifica um conceito muito mais abstrato do que concreto no intuito de se dividir o mundo entre pobres e ricos.

Obviamente, os endinheirados da atual sociedade reivindicam ser ricos invertendo o conceito: “sou rico porque fui inteligente, tive garra, fui lutador, tive integridade, tive boa educação, tive amigos que me orientaram, tive carácter, etc.” Muitas vezes se esquecem de mencionarem que também foram herdeiros… No fim, essa é uma estratégia nuito pouco perspicaz que se constrói depois de já se ter muito dinheiro.

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Assim sendo, quem não tem dinheiro - poderíamos deduzir - não possui nenhuma das qualidades proclamadas pelos endinheirados. Como a pobreza atinge a cifra dos bilhões e a dos muito endinheirados a cifra das centenas, poderíamos concluir que o gênero humano é pobre como regra com uma pequeníssima exceção daqueles que mereceriam ser chamados de “homo ricos”.    

Mas por que e quando se iniciou esse processo de empobrecimento do próprio conceito da pobreza e da riqueza? 

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Aconteceu justamente com o avanço das atuais relações sociais de produção que se concretizaram ao longo do século XIX. A racionalização do processo produtivo envolve a necessidade da exploração máxima da força de trabalho, legando ao trabalhador apenas o mínimo para a sua sobrevivência, que se define como a capacidade do mesmo ter suficiente dinheiro apenas para ter a ingestão de suficiente quantidade de caloria para retornar ao trabalho no dia seguinte.

Essa racionalização (leia-se otimização) da produção não é uma opção sádica e cruel dos donos dos meios de produção, mas uma necessidade dos mesmos. Todos devem assim atuar para enfrentar a guerra econômica cotidianamente travada entre diferentes empresas para obter o máximo de lucros. A isso chamamos de “lei da concorrência” : o vencedor permanece vivo, o derrotado vai à falência e é devorado pelos sobreviventes.

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Para que isso seja implementado o sistema atual precisou destruir de forma impiedosa tudo o que antes era considerado “elementos consagrados” nas qualidades de um ser humano, para substituir por uma nova definição de ser humano forjada pela fria e cruel lógica do lucro.

Como a própria concorrência tem a tendência em parametrizar as milhares diferenças de qualidades de trabalho em uma massa homogênea de salário e os trabalhadores em uma massa homogênea de despossuídos, perdeu-se completamente as referências de valor do ser humano. Hoje quase tudo e todos se medem tão somente pelo dinheiro que possuem.

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Um produto deve ser melhor do que um similar porque é mais caro, uma pessoa deve ser mais “competente” do que outra porque é mais rica ou ganha um maior salário, etc. 

Na verdade, um produto pode custar mais caro que outro por inúmeras razões, entre elas o “status” que esse objeto pode conferir ao seu usuário, dando-lhe a impressão de ser uma pessoa com mais dinheiro do que de fato tem.

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Por outro lado um salário, em regra, é determinado pelo mercado de trabalho, não tendo nenhuma relação com o potencial de riqueza que um trabalhador possui. Para exemplificar, nos últimos anos - onde o governo federal cortou de forma brutal verbas para a ciência - tivemos uma enorme “fuga de cérebros” para outros países que pagam valores melhores ou simplesmente pagam qualquer coisa aos nossos pesquisadores, pois esses países valorizam mais a ciência.         

Assim, ao longo dos anos, décadas e até há quase dois séculos, fomos edificando cada vez mais grandes oligopólios, gigantescas instituições bancárias, monstruosas empresas que possuem seus tentáculos em quase todos os países do mundo que geraram multibilionários que possuem milhares de imóveis, participam do mercado financeiro como investidores e que na prática possuem mais poder do que qualquer chefe de Estado. 

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Do outro lado, temos bilhões de seres humanos na luta contra a pobreza, escravizados por dívidas bancárias, temerosos com a perda de emprego e com sua saúde física e mental, que parece se esvair a cada dia.

Nunca tivemos tanto dinheiro, fruto exclusivo da exploração daqueles que trabalham e que cai nas mãos daqueles que são os donos dos meios de produção. Atualmente esses donos não apenas colocaram as cordas na cabeça dos trabalhadores, mas também na dos Estados Nacionais, cujo as dívidas com os banqueiros já se aproximam do total da riqueza produzida por esses países. 

E quem paga a conta?

Como sempre os mais pobres, os trabalhadores... Mais direitos lhe são retirados, os salários são arrochados por não haver nem mesmo reajuste inflacionário, a carga tributária invisível e visível é aumentada e o tempo para se aposentar se coincide cada vez mais com o dia dos seus velórios.

Taxar grandes fortunas? Cobrar impostos sobre o mercado financeiro? Isso são propostas que soam, para aqueles que colocaram as cordas na cabeça de toda a sociedade, uma piada de mal gosto… pois eles não vão nunca aceitar pagar uma dívida que foi contraída por um terceiro com eles mesmos. 

Claro que se esquecem que a dívida veio do fato de que criaram uma sociedade onde sugaram toda a riqueza daqueles que trabalham de forma impiedosa se valendo do apoio comprado de políticos que deram as chaves de suas nações para que um verdadeiro extermínio das economias privadas das forças produtivas fosse possível.

Isso é o que está por detrás das cortinas desse sistema econômico e de toda a parafernália ideológica para tentar construir um senso de justiça na riqueza e na pobreza, no interior de um sistema que é o mais desigual e injusto da História da humanidade.

E a pobreza?

Nesse sistema, como colocamos, ela está generalizada e soterrada sob várias camadas de concreto que impedem com que se restabeleça a humanidade aos seres humanos. Apenas o rompimento dessas camadas e desse sistema poderá libertar os Homens que poderão superar a pobreza e ter sua riqueza reconhecida de forma íntegra, ou seja substancialmente de forma social e livre.

Enquanto isso não ocorre, estaremos fadados em ser uma sociedade da pobreza absoluta: há aqueles que são pobres com dinheiro e aqueles que são pobres sem dinheiro… tudo isso em um mundo raso, solitário e árido onde nada mais, nada menos vale mais do que a mínima unidade do que nos resta.

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