Pobres Cunhas
Que diabos de Cunha é você, se a sua senhora jamais terá aulas de tênis com o professor da Sharapova? Como Cunha? Que Cunha, amigo, se a única Suíça que o senhor conhece é a limonada? Somos milhões de Cunhas, orgulhava-se a faixa durante as raves cívicas. Pobres Cunhas, faltou emendar
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Cunha, como se sabe, é um sobrenome.
sabemos, também, que esses milhões de Cunha autodeclarados naquela faixa não são da família do encrencado parlamentar.
hhmmm. então por que diabos? você se pergunta.
Cunha, filho do homem, nesse caso é uma alcunha, um qualificativo.
e porque queriam ser Cunha aquela multidão de revoltados? ora, porque estavam sobre o torpor da midiotia.
ser Cunha aí era ser contra a corrupção, era ser ético, era ser a favor da família, da heterossexualidade, do mercado, de Deus e do dinheiro.
e, sobretudo, ser contra o PT.
e por que usar o epíteto Cunha assim, metonimicamente?
a mídia explica.
não faz muito tempo, qual o nosso inesquecível Pixuleco, a mídia inflou Cunha, um boneco vivo que cresceu a olhos vistos.
manchetes de jornalões e revistonas alardeavam o seu "súbito poder" aos quatro ventos estocados; que Cunha era um herói, um "sabotador da República", um homem-bomba, um salvador da pátria, the impeachment man.
certa vez ele fez uma manobra canalha e, à sombra, encaixou um jabuti dando isenção fiscal à igrejas.
os jornalões disseram que ele agiu de forma inteligente, conhecedor profundo da legislação, e blá, blá, blá.
passaram a requalificar suas malandragens, ressignificá-las.
inflavam o boneco.
fariam dele o perfeito boneco de ventríloquo.
seria a voz terceirizada da grande mídia, dos grandes perdedores e do grande capital; a voz do golpe, cheia de verniz e adornada com a cosmética semântica.
para deixar claro que ele crescia como um ícone, João Roberto Marinho, o infante, lhe permitiu uma visita no dia 20 de julho.
ambos tiveram um longo encontro na casa de um amigo comum.
Marinho também se deixou fotografar apertando-lhe a mão no plenário da Câmara, gesto artificial, tramado e de forte simbolismo.
esse é o nosso homem, queria dizer.
por isso, os midiotas adotaram Cunha por antonomásia.
Jesus os perdoaria. eles de fato não sabiam o que estavam a fazer, o faziam bovinamente.
algum "ativista" muito ativo e liberal já estava a confeccionar máscaras Cúnhicas para o carnaval.
grana certa.
estavam todos inebriados pela droga que a mídia lhes aplicava homeopaticamente.
a explicação é essa.
os barões da mídia - que falam por ventriloquia - não deram tantas qualidades a Cunha por ingenuidade, mas por esperteza.
todos sabiam que Eduardo chegara ao poder nos braços de PC Farias e já chegou pecefarando.
era uma criatura de submundos, que não andava sob o sol para que ninguém percebesse que era um homem sem sombra.
sua sombra agia pelos subterrâneos da criminalidade, esfregando-se pelas paredes, enquanto sua alma orava, cinicamente, num templo imundo e seu corpo disfarçava purismo e puritanismo para as câmeras e para a Câmara.
enquanto isso, em corpo, sombra e alma, sua esposa e filha flanavam mundo afora, deslumbradas e gastãs, esfregando cartões de crédito em fendas de maquininhas luxuosas.
um vício.
mas aí, da Suíça veio a luz que tirou Cunha das sombras.
e atentai bem, não são ilações de torturados psicologicamente a fazer deduração premiada em uma cela imunda, só na saliva.
agora são documentos, provas físicas, concretas, assinaturas, notas, rastros...
fedeu.
com mil diabos, dizem ex-Cunhas.
agora, não se pode mais cunhar Cunha como uma alcunha qualificativa.
porque Cunha, agora, é pejorativo.
passou de alcunha a vulgo.
portanto você, que por ingenuidade, analfabetismo político ou, mesmo, por caradurismo, cunhou; descunhe-se.
desculpe-se, reconheça, diga a seu cunhado ainda hoje no churrascão dos amigos: cara, cunhei, mas já descunhei, me desculpa.
e lhe dê um abraço.
ele também lhe dirá que caiu na real.
afinal, que raios de Cunha é você aí num churrasco onde cada um traz o que vai beber.
que diabos de Cunha é você, se a sua senhora jamais terá aulas de tênis com o professor da Sharapova?
como Cunha? que Cunha, amigo, se a única Suíça que o senhor conhece é a limonada?
somos milhões de Cunhas, orgulhava-se a faixa durante as raves cívicas.
pobres Cunhas, faltou emendar.
palavra da salvação.
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