PMDB rejeita ministérios por temer Lava Jato
Os ministérios deixaram de ser atraentes desde a eclosão da Lava Jato. Ficou muito mais difícil fazer qualquer negócio por baixo do pano desde que Sergio Moro assumiu o posto de celebridade número 1 do Brasil na pele do “carrasco de Curitiba”
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Tenho cá minhas dúvidas se a estratégia de entregar mais ministérios ao PMDB vai atender aos dois objetivos principais da presidente Dilma: aprovar o ajuste fiscal, sem o que governar em 2016 ficará inviável e proteger-se de um suposto processo de impeachment.
Em tese, levando-se em conta o que aconteceu no passado, ela fez a lição de casa corretamente: em troca de altos cargos no primeiro escalão a retribuição que o governo espera são aprovações aos seus pleitos no Congresso.
Suspeito, porém, que alguma coisa mudou.
O primeiro sinal estranho veio dos caciques do PMDB, Temer, Cunha e Renan que se negaram terminantemente a discutir nomes, investidos, subitamente, na condição de vestais.
Onde já se viu o PMDB recusar-se a conversar a respeito de uma fornada ministerial, principalmente por fazer parte dela o robusto Ministério da Saúde? Não é normal.
Mas, tudo bem. O governo insistiu, então, com as sub-estrelas e parece ter dado certo. O líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani mordeu a isca e nomes foram jogados na mesa da presidente. Vitória do governo, alguns analistas comemoraram. Uma boa notícia em meio a tantas ruins. Mas será que foi mesmo?
Ninguém estranhou o fato de que na lista de nomes de Picciani não há um peixe grande? Apenas lambaris? Por que será? Por que os tubarões do PMDB não estão nessa? Por que não querem comandar um ministério importante como o da Saúde, por exemplo?
Talvez haja mais de uma explicação. Os peixes grandes não querem associar sua imagem a um governo em decomposição. Pode ser. Os peixes grandes desconfiam que o governo não vai durar muito. Pode ser.
Mas a explicação que eu acho mais plausível é que os ministérios deixaram de ser atraentes desde a eclosão da Lava Jato. Ficou muito mais difícil fazer qualquer negócio por baixo do pano desde que Sergio Moro assumiu o posto de celebridade número 1 do Brasil na pele do “carrasco de Curitiba”.
Pior do que isso: num clima em que delatores ocupam as manchetes da imprensa nacional, assumir um ministério tornou-se um gesto de alto risco, que pode levar a desdobramentos imprevisíveis, tais como puxar uma cana e outros vexames. A Lava Jato transformou ministérios em territórios minados. E ninguém tem um detector de minas.
Não sei se os nomes inexpressivos que o PMDB colocou na mesa da presidente terão autoridade, liderança e competência para arrastar a bancada a favor do governo. Temo que não.
Temo que o caminho melhor seria inaugurar um governo com ministros indiscutíveis, unanimidades nacionais, suprapartidárias, o que passaria ao país e ao mercado financeiro a ideia de que o governo está se esforçando para ter uma gestão melhor, mais confiável, mais forte, que é do que o país precisa.
Acho que não vai dar certo, mas tomara que dê.
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