PMDB: de volta para o passado, sem candidato e sem projeto
"Nem Lula está querendo compor oficialmente com o PMDB traidor, nem FHC está vetando aliança com os peemedebistas, sócios dos tucanos no golpe", avalia a colunista Tereza Cruvinel; "Para quem deu um golpe apostando num “projeto próprio de poder”, como diziam os peemedebistas, o papel que a sucessão reserva ao PMDB é deprimente. Mais uma vez, será um mero coadjuvante, sem candidato e sem projeto", diz Tereza
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O artigo dominical do ex-presidente FHC, exortando os tucanos a deixarem o governo Temer, e a declaração pouco feliz do ex-presidente Lula, concedendo perdão aos golpistas, deram um empurrão no jogo sucessório. Estes movimentos são aparentemente opostos mas apontam no mesmo sentido. Nem Lula está querendo compor oficialmente com o PMDB traidor, nem FHC está vetando aliança com os peemedebistas, sócios dos tucanos no golpe. Lula terá que ganhar alguma fração do centro e para isso poderá fazer alianças pontuais e informais com algumas áreas do PMDB. Caso de Alagoas e Ceará, por exemplo. Ainda mais se o PDT seguir com Ciro, cada vez mais hostil ao PT, e o PC do B mantiver a candidatura Manuela. Não precisava, entretanto, ter dito isso agora e usando a palavra inadequada. FHC, por seu turno, pregou o desembarque do governo porque Temer é contagioso e o PSDB precisa andar mais para o centro. Lá na frente, entretanto, o PSDB disputará com o PT o apoio de setores do PMDB, hoje o partido mais perdido entre as grandes siglas.
Além de não ter candidato a presidente, em que estado o PMDB estará bem eleitoralmente? Vai levar uma surra no Rio Grande do Sul, onde o governo de José Ivo Sartori é altamente impopular. Vai desaparecer do Rio de Janeiro, onde Sergio Cabral e Eduardo Cunha estão presos, enquanto Pezão e Eduardo Paes enfrentam denúncias cabeludas. Já sumiu do DF, com o declínio de Joaquim Roriz. Não existe em São Paulo, onde podem ficar com Alckmin, embora somando pouco. Acabou-se em Goiás com o declínio de Iris Resende. Salva-se em Minas na aliança com o governador petista Fernando Pimentel. Vai bem em Alagoas e no Ceará. Nestes três estados, o PMDB deve ficar com Lula.
O destino do PMDB, em 2018, portanto, é ser canibalizado pelos candidatos e partidos que terão chances. Hoje eles são Lula, Bolsonaro e Alckmin, pois outro nome os tucanos não vão encontrar, como disse FHC nesta terça-feira, falando à consultoria Arko Advice. Depois de ter golpeado a democracia para ficar com o governo, depois do desastroso retrocesso social e do entreguismo conduzidos por Temer, o PMDB estará de volta a seu passado. Continuará sendo, como sempre foi, um mero ajuntamente de caciques com interesses divergentes, empenhado em apoiar governos alheios que lhes permitam pilhar o Estado. Vale recordar o que fez o PMDB nas últimas sucessões.
Não é improvável que venhamos a assistir, daqui a alguns meses, a uma escaramuça entre alas rivais do partido, como aquela ocorrida antes da eleição de 1998. O partido estava rachado entre os que defendiam o apoio à reeleição de Fernando Henrique e os que preferiam a candidatura própria do ex-presidente Itamar Franco, que foi humilhado na convenção por uma tropa de choque pró-FHC, comandada por Michel Temer, Eliseu Padilha, Henrique Alves e outros que hoje estão no governo. Claques de aluguel, levadas por caciques como Joaquim Roriz e Iris Resende, vaiaram e xingaram Itamar Franco, não permitindo que ele sequer concluisse o discurso em defesa de sua candidatura. No final, o PMDB impediu a candidatura própria mas não conseguiu formalizar o apoio a FHC, embora tenha garantido boa participação em seu segundo governo.
Em 2002 o PMDB casou de papel passado com o PSDB, oferecendo Rita Camata como vice de José Serra mas os caciques mais importantes apoiaram Lula, que foi o vencedor. Em 2006, a convenção novamente refugou a candidatura própria (depois que Garotinho derrotou Germano Rigotto em prévias muito confusas) e a maioria apoiou Lula, vindo a integrar oficialmente a coalizão de apoio ao governo no segundo mandato. Em 2010, a aliança formal com o PT garantiu a Temer o lugar de vice na chapa de Dilma Rousseff e foi reeditada em 2014 mas, logo depois da posse, começou a conspiração que terminou no golpe do impeachment de 2016.
O PMDB rompeu com o PT e aliou-se ao PSDB pensando numa aliança que seria vitoriosa em 2018. A eles juntaram-se os partidos do chamado centrão conservador que, tal como faziam nos governos petistas, têm vendido caro seu apoio e não se conformam com o papel secundário em relação aos tucanos, que tentam enxotar do governo. Algumas coisas, entretanto, não saíram como o planejado por tucanos e peemedebistas, que esperavam uma recuperação econômica mais exuberante, com aprovação das reformas a toque de caixa, e não contavam com a ruína moral de Temer e sua impopularidade campeã. É isso que incomoda FHC e não a “confusão com o peemedebismo dominante”. Importante agora é deixar o governo. Lá na frente, alianças informais com o PMDB poderão ser reeditadas.
Para quem deu um golpe apostando num “projeto próprio de poder”, como diziam os peemedebistas, o papel que a sucessão reserva ao PMDB é deprimente. Mais uma vez, será um mero coadjuvante, sem candidato e sem projeto.
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