Plano Haddad não tem narrativa popular e ameaça Lula

“Ele joga na defensiva. Não vende confiança”, diz César Fonseca

Fernando Haddad e Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília 9/12/2022
Fernando Haddad e Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília 9/12/2022 (Foto: REUTERS/Adriano Machado/File Photo)


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Ele joga na defensiva. Não vende confiança; a bolsa subiu na quinta mas na sexta caiu; o velho truque de fazer dinheiro na especulação não significou nada mais nada menos que o jogo de esquentar e esfriar preços de papéis para fazer liquidez rápida e rasteira; dar atenção mais à capacidade de ajuste aos parâmetros neoliberais do Plano Haddad do que a capacidade dele de promover desenvolvimento sustentável e combater com energia o desemprego é a manobra da mídia corporativa para deixar no ar a dúvida de que o governo ainda não é confiável aos credores o suficiente para diminuir os juros e retomar a produção e o consumo. 

A economia continuaria asfixiada; o plano Haddad não abre novas expectativas, por isso não dispõe de uma narrativa simples e compreensível capaz de arregimentar adeptos; a percepção da sociedade de que as novas regras fiscais não fedem nem cheiram, ou seja, não mudam o panorama do ponto de vista qualitativo, não criam otimismo, mas desconfiança quanto à melhoria quantitativa de bem estar da população dominada por presságios negativos que produzem frustrações.

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Trata-se, portanto, de ceticismo decorrente de um plano que não vende a confiança necessária que a sociedade requer para apoiá-lo. Não se vendeu que o Plano Haddad distribui renda, mas, ao contrário, vai contrair a renda global; se a despesa não pode ultrapassar 70% da receita, haverá contração em cadeia no contexto do orçamento geral da União(OGU), exceto para pagar juros da dívida pública remunerada pelos juros Selic de 13,75%, os mais altos do mundo.

A punição será severa: se a meta dos 70% não for obedecida, será rebaixada para 50%, piorando o cenário. No Congresso, onde os parlamentares já estão de olho nas eleições municipais de 2024, tenderão a queimar Haddad cujo plano reduz os orçamentos dos parlamentares para abastecer prefeitos e vereadores e garantir vitória futura no legislativo; as pressões sobre Haddad podem ser irresistíveis se o Plano não puxar a produção e o consumo para aumentar arrecadação e investimentos. E os governadores e prefeitos combaterão reforma tributária se as transferências de recursos caírem com Plano Haddad.

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O limite para Haddad será dado pelos líderes dos partidos da Frente Ampla; se o plano ferir interesses políticos de Lula relacionados às eleições municipais e a sucessão presidencial, pode acontecer com Haddad o que aconteceu com Palloci; foi descartado pelo nacionalista Guido Mantega, que, por sinal, já faz críticas ácidas ao arcabouço de perfil neoliberral. 

Política x economia

O norte será sempre a política; não é à toa que Lula disse que a política mandará na economia; com o plano Haddad isso não acontece; Haddad vestiu o perfil do economista, não do político, até o momento; a vitória eleitoral exige não neoliberalismo mas a social-democracia; sem gerar novas expectativas de retomada do crescimento, o futuro político de Lula ficará comprometido; por isso, o produto que lhe interessa agora não é arrocho fiscal, que o Plano Haddad vende, mas o crescimento econômico. As dúvidas e desconfiança não vendem a palavra magica crescimento, mas deixam no ar o perigo de recessão, arrocho salarial etc.

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O plano tem que vender crescimento por uma política de comunicação agressiva. Esse é que tem de ser popularizado e não ofuscado pelo discurso do medo que perde substância para a política do ódio; só a volta do crescimento será capaz de afastar a política do ódio que se alimenta do receio e da desconfiança.

O gradualismo econômico, que passa a ser a marca registrada do ministro da Fazenda não dá votos; o limitador de gastos diante das receitas, pode ser guilhotina eleitoral dos 70%; o centro da discussão política não é o que Lula sonhou: o debate nacional e intenso de plano robusto de crescimento; está amarrado por um plano que só tem uma perna, a do ajuste fiscal e monetário, enquanto a do desenvolvimento econômico com distribuição de renda foi amputada.

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Lula já está buscando alternativa mais confrontacionista do que de acomodação com o Banco Central ultra-neoliberal, que para o país; ele terminaria seu primeiro ano com crescimento zero e uma regra restritiva ao desenvolvimento prometido em campanha eleitoral. Se o Plano Haddad não vende votos, Lula terá que articular forças no Congresso para vencer os neoliberais; a vantagem lulista é que os oposicionistas deixam de crer no neoliberalismo que destrói suas bases políticas regionais e se abrem para maior apoio ao Estado interventor para salvar a economia do neoliberalismo financeiro.

Ou seja, o Congresso pode ser maior adversário do plano Haddad.

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Favoreceria ou não os interesses de Lula?

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