Pingo nos Is

Cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE - 16/08/2022
Cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do TSE - 16/08/2022 (Foto: Antônio Augusto/Secom/TSE)


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Talvez ele mesmo, Jair Bolsonaro, não tenha imaginado, ao seguir para a posse de Alexandre de Moraes na presidência do TSE, o que encontraria pela frente. Temeu por algo, consultou assessores, parentes, filhos e partiu porque, não comparecendo, transmitiria a imagem de medroso. E ele se recusa a vestir a carapuça do covarde. No entanto, como diria Carlos Drummond de Andrade, “Tinha uma pedra no meio do caminho, / Tinha uma pedra / No meio do caminho tinha uma pedra”. Aquele com quem os brasileiros tropeçaram em 2018, carregando nossos ouvidos de grosserias, recusando-se a fornecer vacinas durante a epidemia e, finalmente, contestando as urnas testadas e confiáveis, de repente, viu que alguma coisa lhe faltava. A impressão que se ficava era que a posse de Moraes representava o desfecho surpreendente e necessário. Ele ocupava uma cadeira ao lado do jurista. Riam e brincavam. No entanto, no púlpito, o magistrado, com delicadeza e firmeza, estampou aos presentes e à nação a natureza de seus propósitos. Não assumia o cargo para brincar. Punha os pingos nos is.

O plenário de dois mil presentes aplaudiu de pé, durante e no encerramento da fala. Enquanto isso, aquele que se sentara a seu lado, exibia a expressão da contrariedade. A multidão exultava; ele, não. Devia ser a tal pedra que se lhe ergueu no meio do caminho, porque lhe apertava os sapatos e impedia a visão de um horizonte favorável. Eram os pingos nos is. No meio do auditório, sentado para demonstrar que não se entusiasmava, Carlos Bolsonaro torcia as mãos para a infelicidade... Tornava-se evidente que as artimanhas guardadas para o período pós-eleitoral, vindo a perder nas urnas, reservava pouco espaço de protesto com o qual limparia a cara da humilhação. Detalhe importante: os embaixadores que convocara para lhes exibir um conjunto de interpretações falsas, também de pé e aplaudindo, avaliavam, sem dúvida, a má qualidade do nosso dirigente e o perfil de mau perdedor. Ele se achava disposto a fazer de tudo para não sair do cargo. Gostou das pompas e das circunstâncias. Se nada desse resultado, militares na rua! – aguardaria suando de calor.

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Por sorte, a perspicácia do nosso poeta estava lá, registrando os fatos e as trapalhadas com que o primeiro mandatário precisou engolir a refeição amarga. Se não tomar cuidado, engolirá a pedra que, por enquanto, apenas aguarda que se retire do caminho. Num paralelo inevitável, na primeira fila diante da mesa, Dilma, Sarney e Lula, convidados de honra, também aplaudiam. Lula, saudado onde chega como autêntico Chefe de Estado, aprendeu na pobreza, mas com inteligência, que basta esperar. Falta pouco. O destino lhe retirou do caminho as pedras que lhe ergueram e que a própria vida se encarregou de remover. Bolsonaro? Que se cuide. Experimente analisar o chão. É o que lhe aguarda.

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