Pesquisas criam cabeça d'água favorável a Lula

"São rompidas margens e leitos dos rios sem forças para resistir as avalanches; aí nascem opções para posicionamentos logo no 1° turno", escreve César Fonseca

Lula com trabalhadores
Lula com trabalhadores (Foto: Ricardo Stuckert)


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Por César Fonseca 

É conhecido o fenômeno político da cabeça dágua; de repente, diante da falta de expectativa de vitória, os partidos desacreditados pelas suas posições frente ao eleitorado, que perde confiança neles, são, irresistivelmente, atraídos pelas trombas dágua que se arrastam com pesquisas que contrariam suas previsões; são rompidas margens e leitos dos rios sem forças para resistir as avalanches; aí nascem opções para posicionamentos logo no primeiro turno; esses estão sendo os casos de partidos como o PSDB, DEM, PDT, PMDB e demais frações partidárias burguesas que se sentem incapazes de se juntarem para formar terceira via de modo a fazer frente à polarização lulismo x bolsonarismo; João Dória, PSDB-SP; Simone Tebet, MDB-MS; Ciro Gomes, PDT-CE;  ACM Neto, DEM-BA; Luciano Bivar, União Brasil, PE, etc mostram-se cada vez mais impotentes; somados, mal chegam aos 15%; não ameaçam nem Lula(45%) nem Bolsonaro(31%); seu eleitorado se sente órfão; pagam o preço da opção desastrosa de 2018 de ter abandonado a social democracia lulista, com Haddad, no segundo turno, para ir de encontro ao social-fascismo bolsonarista, como foi o caso do Centrão; este, como prêmio, levou o poder de roldão; mas, até quando o Centrão suportaria a enchente, como sinalizam os números e projeções eleitorais?; agora, nos estados dos principais colégios eleitorais, como São Paulo e Minas Gerais, a sinalização de possibilidades de vitória de Lula no primeiro turno, faz crescer o fenômeno cabeça dágua; a torrente irresistível esvazia o PSDB, o DEM, o MDB e o PDT; por outro lado, enche a cabeça dágua lulista e cia ltda;  a estratégia de Lula de seguir com a política de frente partidária que preserva para ele  escassos executivos estaduais estratégicos, como, especialmente, São Paulo, enquanto abre-se aos demais estados os espaços reivindicados pelos aliados, deixa o próprio PT sem condições de exercitar hegemonias, onde, supostamente, julga ter capacidade de lançar suas próprias candidaturas.

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DF: LABORATÓRIO POLÍTICO LULISTA

O fenômeno cabeça dágua tem a sua experimentação mais característica, nesse momento, no Distrito Federal; cabeça de Lula vai numa direção, mas a do PT, em outra ; aqui, Lula quer cabeça de chapa para o PV, integrante da frente com a qual trabalha a nível nacional; os aliados petistas se escalpelam entre si; por isso, ainda, não têm candidato na Capital da República, pois são obrigados a se renderem às ordens da Executiva nacional; e que ordens seriam estas?; petistas distritais mais atilados desconfiam de acordos ocultos entre Lula e o governador do DF, Ibaneis, MDB, especialmente; estariam ativos nessa articulação expoentes do MDB, como senador Renan Calheiros e ex-presidente Sarney, cujo filho é secretário do Meio Ambiente do DF, Sarney Filho; Lula descartaria candidato do PT para o Distrito Federal, abrindo espaço para candidato do PV, aliado dele na Frente de oposição, para ser cristianizado em favor da reeleição do governador Ibaneis; os petistas se enlouquecem, mas para Lula o mais importante é garantir o MDB do Norte e do Nordesde, sobre o qual Sarney e Renan têm influência decisiva etc; Ibaneis, aparentemente, não estaria brigando contra Bolsonaro, mas seria beneficiado por disputar com candidato sem chances vencê-lo; seria, apenas, candidato adversário faz-de-conta; vale dizer, o PT do DF tem pouca importância para a estratégia nacional de Lula.

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DIREITA SE PERDEU NO FASCISMO

A democracia, como todos sabem, é o regime, historicamente, construído pela burguesia; ele abriga, dialeticamente, a social democracia e o fascismo; o regime burguês é intrinsecamente instável no processo de permanente sobreacumulação de capital; quando a conjuntura está relativamente estável, ele suporta as pressões dos trabalhadores por meio da social democracia; abrem-se às expectativa sociais; porém, quando as contradições se acirram, a burguesia resiste à social democracia e abre-se ao fascismo, que, essencialmente, é a propensão do regime à destruição dos trabalhadores; aos fascistas só uma coisa interessa: destruição das conquistas e organizações da classe trabalhadora; o fascismo ganhou a parada em 2018 com Bolsonaro, depois do golpe de 2016 que derrubou a social democracia petista com a qual a burguesia aceitava conviver; o consumo interno aumentou substancialmente com os sociais democratas no poder; com Lula e demais partidos pequenos burgueses, ampliaram-se e se consolidaram, aparentemente, os direitos sociais e econômicos trabalhistas, com a Constituição de 1988; a política salarial reformista de reajustar salários pela inflação, acrescida do crescimento do PIB nos dois anos anteriores,  criou escala de rendimentos crescentes por categorias sociais; a distribuição da renda, ao elevar o poder de compra da população, favoreceu possibilidades de industrialização, com melhora da educação e da saúde dos trabalhadores.

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PODER CONSTITUCIONAL SOCIAL DEMOCRATA SE DESFAZ NO FASCISMO

O artigo 5º da Constituição, com seu rosário de conquistas sociais e trabalhistas, produziu raízes na consciência social; elevou-se, dessa forma, defesa de novos e mais avançados progressos, especialmente, no campo da representação política; ampliou-se o sonho da divisão de poder, com reformas políticas, trabalhistas e administrativas; a burguesia, então, sentiu que, com Lula e suas raízes populares, seriam, dialeticamente, ampliadas conquistas sociais democráticas, com vieses socialistas; por isso, partiu para o golpe; derrotar o Estado social democrata virou prioridade para o regime burguês tupiniquim, ancorado no capital externo; o golpe de 2016, seguido da pregação do fim do Estado gastador, para permitir, com restrição dos gastos fiscais, ampliação dos investimentos, virou novo mote golpista; o arrocho salarial, o fim das aposentadorias das categoriais mais pobres, dado que se tornou impossível cumprir exigências para garantir sobrevivência futura com as novas regras previdenciárias, resultaram em redução do poder aquisitivo da população; as restrições impostas pelas reformas neoliberais – trabalhistas e previdenciárias – instauraram subconsumismo; somada diminuição da renda disponível para o consumo, via teto de gastos sociais, acompanhado do seu oposto, ou seja, liberação dos gastos financeiros, ocorreu o óbvio: desigualdade social, diminuição do consumo, redução dos investimentos produtivos, desvalorização da moeda, câmbio desestruturante, aumento do desemprego, da fome e da inflação; os empresários, com diminuição do consumo e dos investimentos, reduziram produção e elevaram os preços para manter constante e em elevação a taxa de lucro.

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ASCENSÃO FASCISTA DESTRÓI PARTIDOS SOCIAIS DEMOCRATAS

O golpe neoliberal de 2016, de clara ascendência fascista, para derrotar social-democracia, levou os partidos sociais democratas à sinuca de bico e consequente desmoralização; entre defender conquistas trabalhistas e reformas políticas e sociais, para democratizar o poder, ou apoiar os fascistas ultradireitistas, os golpistas preferiram atrair a classe média medrosa das reformas para o bolsonarismo ultrafascista; como não deu certo e a economia mergulhou no ambiente mais pavoroso do ponto de vista dos trabalhadores, os sociais democratas que se aliaram aos fascistas em 2018 se encontram em 2022 desacreditados, como acontece, claramente, com o PSDB; o efeito cabeça dágua está chegando agora com a propensão popular de marchar com Lula no primeiro turno, como apontam as pesquisas; Lula, beneficiário desse fenômeno, arrebanha os desgarrados da democracia.

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