Pesquisa que se autorealiza

 "Pesquisa do Ibope que aponta para crescimento do conservadorismo 'em todos os habitantes do Patropi, de todas as faixas etárias e de renda' deixou perguntar ao eleitor o que ele pensa do Bolsa-Família, da Reforma da Previdência, e de Lula", escreve o colunista do 247 Paulo Moreira Leite; "Com um alvo de interesse limitado a temas como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e segurança pública, a pesquisa apurou aquilo que sabia que iria encontrar", acrescenta PML; "A rápida recuperação da aprovação de Lula, combinada a decomposição a jato do governo Michel Temer, mostra que ninguém fará boas análises se ignorar a memória política da maioria dos brasileiros"  

 "Pesquisa do Ibope que aponta para crescimento do conservadorismo 'em todos os habitantes do Patropi, de todas as faixas etárias e de renda' deixou perguntar ao eleitor o que ele pensa do Bolsa-Família, da Reforma da Previdência, e de Lula", escreve o colunista do 247 Paulo Moreira Leite; "Com um alvo de interesse limitado a temas como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e segurança pública, a pesquisa apurou aquilo que sabia que iria encontrar", acrescenta PML; "A rápida recuperação da aprovação de Lula, combinada a decomposição a jato do governo Michel Temer, mostra que ninguém fará boas análises se ignorar a memória política da maioria dos brasileiros"
 
 "Pesquisa do Ibope que aponta para crescimento do conservadorismo 'em todos os habitantes do Patropi, de todas as faixas etárias e de renda' deixou perguntar ao eleitor o que ele pensa do Bolsa-Família, da Reforma da Previdência, e de Lula", escreve o colunista do 247 Paulo Moreira Leite; "Com um alvo de interesse limitado a temas como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e segurança pública, a pesquisa apurou aquilo que sabia que iria encontrar", acrescenta PML; "A rápida recuperação da aprovação de Lula, combinada a decomposição a jato do governo Michel Temer, mostra que ninguém fará boas análises se ignorar a memória política da maioria dos brasileiros"   (Foto: Paulo Moreira Leite)


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    Profissional com reconhecida experiência no debate sobre pesquisas de interesse nacional, o colunista José Roberto de Toledo publicou no   Estado de S. Paulo (22/10/2016) uma coluna onde se reafirma uma visão consagrada do atual momento político   -- a noção de que os valores do conservadorismo estão em alta no mundo inteiro e também no Brasil.

    A partir de dados do Ibope, Toledo escreve que "os conservadores aumentaram em todos os habitantes do Patropi de todas as faixas etárias e de renda, em ambos os sexos, em todas as regiões e níveis educacionais." Parece uma verdade fora de dúvida para muitas pessoas, salvo por um detalhe: a pesquisa que o Estadão divulgou não perguntou ao eleitor o que ele pensa sobre Bolsa Família, sobre a Reforma da Previdência, sobre a memória deixada por Lula. O resultado prático é uma pesquisa que se auto realiza -- um levantamento que demonstra aquilo que se queria demonstrar. 

    Fica fácil imaginar, nessa situação, que dados apresentados como descobertas de natureza científica possam sustentar a visão de que ocorre uma conversão à direita do eleitorado, que poderia anunciar o nascimento de um novo ciclo ideológico no país.

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     O Ibope apurou o "conservadorismo" do brasileiro a partir de uma agenda de cinco pontos, e aponta para um aumento do "conservadorismo" com base numa comparação com  levantamento, idêntico, realizado em 2010. Os pontos utilizados para o diagnóstico podem ser divididos em dois blocos.

    Um deles diz respeito a legalização do aborto e casamentos entre pessoas do mesmo sexo. O outro bloco trata de questões ligada à segurança pública -- pena de morte, prisão perpétua e redução da maioria penal de 18 para 16 anos. Em todos estes assuntos, o levantamento aponta  para o crescimento -- em margens variadas   -- de opções contrarias à ampliação de direitos individuais e liberdades. Mas nem sempre é assim. O aborto, tema que ganhou destaque em debates nos anos recentes, é um ponto fora dessa curva. Em 2010, 10% dos entrevistados era favorável a sua legalização. Este número saltou para 17%, agora. Matematicamente, um crescimento de 70%.    

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     Mesmo admitindo que estamos falando de temas  importantíssimos para  definir o perfil do eleitorado de um país,  vamos combinar que estes cinco pontos estão longe de esgotar a diferença entre visões "conservadoras" ou "progressistas". Afinal, vivemos num universo político amplo e conflituoso, onde o eleitorado está longe de formar blocos monolíticos e coerentes e os próprios partidos políticos são conhecidos pelo aspecto particularmente gelatinoso. Estas questões  talvez possam servir para tatear o terreno das visões de mundo em países de economia avançada, onde questões que remetem a vida privada ocupam um espaço gigantesco no debate político. Apesar de sua importância universal, não tem o mesmo peso num país como o Brasil.

    Aqui, como se sabe, uma imensa parcela de cidadãos pode ser classificada como "progressista" num segmento do debate político -- como o programa Bolsa Família, que uma visão reacionária define como estímulo à preguiça -- e "conservadora" quando discute pena de morte. O PT possui uma forte base eleitoral entre católicos -- adversários ferrenhos de medidas que envolvem mudanças na área de comportamento assumidas por uma parcela importante do partido.  

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    Desde as pesquisas do final da década de 1980  do antropólogo Antonio Flávio Pierucci sobre a classe média de São Paulo se sabe que respostas duras a temas de segurança são parte obrigatória dos programas de partidos conservadores  desde o final da ditadura militar. Já naquela  época, os órfãos políticos do aparato repressivo do antigo regime passaram a culpar programas de direitos humanos como principais responsáveis pelos índices de criminalidade elevada das grandes cidades brasileiras.

 O ponto central é outro. Uma pesquisa que, em 2016, colocasse questões sobre a Reforma da Previdência, ou sobre a PEC 55 ou mesmo sobre candidatos preferidos para o pleito de 2018, iria encontrar respostas inteiramente diversas,  que dificilmente seriam chamadas de "conservadoras". A PEC dos gastos, o mais claro e radical  programa conservador já elaborado no país, é rejeitada por mais de 63% dos brasileiros. A reforma da Previdência é condenada por uma margem ainda maior. Conforme o Data Folha, o  candidato favorito a Presidente, ao menos no primeiro turno,  é Luiz Inácio Lula da Silva.

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 A pesquisa foi feita numa situação política específica. Dois meses depois da derrota arrasadora sofrida pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições municipais, o debate sobre a visão de mundo do eleitorado brasileiro é um ponto essencial das análises e das projeções para o futuro. A pergunta que cabe fazer é clara: o eleitorado votou em função de uma conjuntura específica,  num ambiente de decepção real e massacre ideológico contra o maior partido operário já construído no país; ou a votação reflete uma mudança de fundo, de caráter ideológico, que aponta para uma reconfiguração profunda das opções dos brasileiros ? 

    Ao definir um campo de trabalho limitado a temas bem definidos, a pesquisa apurou aquilo que sabia que iria encontrar, pois a escolha de perguntas condicionava, obviamente, o horizonte das respostas.

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    Pelo levantamento, descobre-se que a preferência conservadora no universo específico definido pela pesquisa já era bastante acentuada em 2010  -- e mesmo assim, Dilma Rousseff, uma candidata sem a menor experiência eleitoral anterior,  conseguiu uma vitória espetacular contra o senador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-governador  José Serra. Não há dúvida que o país de 2010 não é o mesmo de 2016 e certamente não será o mesmo em 2018. A rápida recuperação da aprovação de Lula, combinada a decomposição a jato do governo Michel Temer, mostra que ninguém fará boas análises se ignorar a memória política da maioria dos brasileiros.

     

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