Perdas e ganhos
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O capitalismo trouxe uma característica marcante, organizando e sufocando todas as demais: a competição. Ficou para trás o projeto de um sistema estável, capaz de privilegiar a segurança e a confiança entre as pessoas. Tal princípio caiu por terra. Difundiu-se a vulnerabilidade das questões. E as relações com os nossos semelhantes viraram, frequentemente, inimizades. Às vezes, são duras as condições a serem enfrentadas, mostrando por parte de seus participantes a noção de uma tenacidade invejável, para não falar na capacidade de resistência. Aqui vale a pena destacar duas pessoas: Dona Vanna (falecida aos 95 anos), antiga dona da Livraria Leonardo da Vinci, no Rio de Janeiro; e Elza Soares, notável cantora que acabou de nos deixar com 91 anos. Esta começou num programa de auditório com Ary Barroso. Perguntada de que Planeta viera, ouviu: “O mesmo que o seu. O Planeta fome.”
Dona Vanna Piraccini, fundadora, com o marido, da conhecida livraria, enfrentou a repressão da ditadura, que pôs fogo na loja e executou um de seus funcionários. Para recuperar-se, fez-se uma arrecadação que lhe garantiu a sobrevivência. Elza Soares e Vanna Piraccini foram duas vitoriosas nessa área de risco a que chamamos vida. No terreno das perdas, ganharam.
É o que se pode dizer de Lula. Preso injustamente e sem provas, ressurgiu da infelicidade cheio de vida, com força para disputar o poder. São derrotas que se transformam em vitórias.
O filme Perdas e danos (Damages), de Louis Malle, com Jeremy Irons e Juliette Binoche, narra uma relação de amor fora dos eixos, porque entre um político conservador e a namorada do seu filho. Os dois vivem um envolvimento suspeito. Haviam sido pegos pelas armadilhas do destino. Sabiam que pisavam em terreno minado e, pela força do que os unia, passaram a ser vítimas de suas ações. Aqui, não se trata de ganhar, mas de perder – e muito – quando as perdas põem em risco o que se havia construído. No entanto, falar em perder ou ganhar, fica aquém do verdadeiro significado da obra, na qual se encontra o ensinamento fundamental, dito em determinado instante: “Cuidado com as pessoas que sofreram; elas sabem que podem sobreviver”. Perder, ganhar, sobreviver – são desafios que importam.
Do outro lado da tela, não é sempre que se tomam os cuidados necessários. Ciro Gomes (PDT), cresceu contra um jornalista do Brasil 247, Luís Costa Pinto. Irritado pelo teor das perguntas, o candidato atacou o órgão de imprensa, alcunhando-o de “panfleto do PT, financiado com dinheiro sujo”. Usava a fórmula, empregada de má-fé contra o jornal Última Hora, de Samuel Wainer. O veneno da competição manchou a performance do político. Ele feriu os princípios que deveriam nortear um debate. Em vez de responder, difamou. Não passou de um coronel típico da sociedade patriarcal. Além de todas as comparações, cabe dizer que ficam bem na foto Elza Soares e Vanna Piraccini, ou mesmo Lula, uma vez que, nas agruras, mostram-se vitoriosos.
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