Percival, Fleury e a Folha de S. Paulo
É essa gente que contava com os préstimos da Folha de S. Paulo para caçar, torturar e matar.
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“Autópsia do Medo” é uma contextualização dos Anos de Chumbo escrita com primor pelo jornalista Percival de Souza. A primeira edição é do ano 2000. Agora, quando o nome do biografado por Percival, o monstruoso delegado Sérgio Paranhos Fleury, volta à baila por suas ligações com a Folha de S. Paulo, vale rememorar a obra.
Percival leu tudo que havia sido publicado a respeito dos porões da ditadura até então, mas não se satisfez, disse a este colega anos atrás. “Eu vi pessoas posando de heróis, e nem todas eram heróis. Vi embates violentos, mortes, torturas, e resolvi usar meu know how profissional”, contou-me.
Na ditadura militar, Percival trabalhava no Jornal da Tarde. Cobriu roubo a banco, o atentado ao Consulado Americano, o atentado ao Quartel General do 2º Exército, o assassinato de Carlos Marighela, a prisão dos padres dominicanos. “Essas coisas, ninguém precisava me contá-las, porque estive lá, in loco. Eu vi o corpo do Marighela dentro do Volkswagen na Alameda Casa Branca. Depois escutei tantas versões distorcidas sobre tudo isso que resolvi escrever ‘Autópsia do Medo’”.
Percival fez uma lista de 117 pessoas e conversou com todas elas, além juntar documentos.
O surgimento do Cabo Anselmo como serviçal da ditadura decorreu de um trabalho de espionagem de altíssimo nível feito pelo delegado Fleury, que capturou um militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), prendeu-o, fez-lhe uma lavagem cerebral, transformou-o em seu informante e o fez continuar a manter os contatos com os revolucionários como se nem tivesse sido preso, e a partir disso localizou pessoas, prendeu-as e matou-as.
Percival conheceu Fleury no Deic, antes de ele assumir o Dops (Departamento de Ordem Política e Social). “Era basicamente um caçador de ladrões, não era o Fleury da repressão política. Quando começaram os primeiros atentados a bomba, o Dops passou a incorporar policiais como ele e outros, que antes combatiam delinquentes comuns. E o Fleury foi para o Dops usando os mesmos métodos que usava no Deic. Por exemplo, pau de arara e choque elétrico”, relatou-me o jornalista.
Certa vez, na Delegacia de Roubos, Percival notou uma fila imensa. Descobriu tratar-se da fila do pau de arara. No elevador de entrada havia uma placa com os seguintes dizeres: “Contra a Pátria não há direitos”. Essa metodologia do Deic foi para o Dops com o Fleury.
Antes de ser cooptado como prestador se serviços da ditadura, Sérgio Paranhos Fleury liderava o Esquadrão da Morte, o dos policiais que matavam. Por investiga-los e denunciá-los, Percival sofreu pressões da polícia e de entidades de classe (delegados, investigadores). “Tive de tirar minha mulher de casa no oitavo mês de gravidez por segurança e levá-la para a casa de um amigo”, recordou.
É essa gente que contava com os préstimos da Folha de S. Paulo para caçar, torturar e matar.
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