Penoso regresso
"Se o Grão-Mestre confere um título a si mesmo, está como aqueles ditadores dos romances hispano-americanos, que, não havendo quem os louve, louvam-se a si mesmos. Um passo à vista, se a loucura continuar, será um coroamento capaz de transformá-lo num Napoleão de quarta ou quinta edição, sem séquito e sem prestígio, pois este se evaporou"
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Talvez para compensar o fiasco de sua viagem à Itália, onde deveria ter figurado entre os importantes dirigentes do G20, em seu penoso regresso, o Presidente Bolsonaro achou por bem conceder a si mesmo o título de Grão-Mestre do Mérito Científico. Havia uma lista de pessoas que se qualificariam para a homenagem, enquanto se excluíam outras. Houve protestos. Ao fim, os agraciados devolveram a honraria. Ele, Bolsonaro, aproveitara a Itália para fazer turismo. Não parecia muito disposto a sentar e trabalhar junto a dirigentes que, de fato, não o identificavam como digno de destaque. Assim, ao lado de sua comitiva e de um filho, aqui e ali, absorvendo a beleza da arquitetura de Roma, distraiu-se tanto que não conseguiu memorizar a grandeza de monumentos históricos, como a Torre de Pisa, que designou à imprensa como Torre de Pizza, ao mesmo tempo que confundia John Kerry com o comediante Jim Carey. Temos de rememorar, nesse particular, a esperteza de Garricha. Na Suécia, não conseguindo guardar os apelidos complicados, usava o expediente de chamar a todos por João. Mesmo assim, cabe reconhecer, na Itália, houve intervalos de tensões. Tirando um choque e outro com manifestantes e jornalistas (um deles levou um soco no estômago), é possível que o Presidente tenha descansado. O Haiti, que nos perdoe Caetano, não estava lá. O Haiti é aqui.
No filme Amargo regresso, de Hal Ashby, filmado em 1978, com Jane Fonda e Jon Voight, conta-se a história de um personagem que se ausenta, porque vai para o Vietnã. Na volta, se depara com uma situação amarga. A mulher, dedicando-se à assistência a veteranos, envolvera-se com um deles. Era a ruína dentro da ruína. Sem forçar demasiado, a comparação cai como uma luva. Estamos há algum tempo presos a impasses que resvalam para desastres cada vez mais acentuados, sem que nada nos indique, na linha do horizonte, que a administração, por talento, possa reverter os problemas e nos devolver a esperança. Se a houvessem construída aqui, a Torre de Pizza (!?) teria desabado e matado um número de vítimas, enquanto, de braços cruzados, um grupo de autoridades se divertiriam com a cena. Ao nosso Grão-Mestre do Mérito Científico faltam as qualidades de cultura e de conhecimento para a posição que ocupa. Ainda por cima, costuma privilegiar seu círculo de assessores por motivos ideológicos, o que, é óbvio, num país das dimensões do Brasil, não pode funcionar. E é uma estratégia injusta, porque, afinal, nas eleições, escolhemos gente que deve governar para todos. A ideia nos leva a perder excelentes quadros que, assim, ficam de fora da administração e não as enriquece.
Seja como for, a esta altura, já não nos é possível guardar ilusões. Se o Grão-Mestre confere um título a si mesmo, está como aqueles ditadores dos romances hispano-americanos, que, não havendo quem os louve, louvam-se a si mesmos. Um passo à vista, se a loucura continuar, será um coroamento capaz de transformá-lo num Napoleão de quarta ou quinta edição, sem séquito e sem prestígio, pois este se evaporou. Paralelamente, a ruína chega às raias do delírio, com o povo passando fome e lutando para dividir um caminhão de ossos, sob uma inflação cada vez maior e um ministro da economia em estado de paralisia. Dizem que o Grão-Mestre, de vez em quando, chora no banheiro. Pois que chore. A ele e a todos nós, motivos não faltam.
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