Pelo bem do Brasil!

Ao contrário do que poderia pensar a oposição, ela lucraria muito ao demonstrar que está colocando o país acima de suas ambições políticas. Ao governo caberia reconhecer a colaboração da oposição



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O país levou a política às últimas consequências e o resultado está aí: de economia promissora e inclusiva em que a mobilidade social garantiu que passasse quase incólume por cerca de seis anos da maior crise econômica mundial da história, estamos à beira de mergulhar em uma das recessões mais profundas das últimas décadas, com tendência a piorar.

E o mais espantoso é que chegamos a isso em míseros seis meses.

Os setores mais racionais da vida nacional – sejam governistas, sejam oposicionistas – já reconhecem, em uníssono, que a economia não está reagindo devido à política. Há cerca de seis meses que a agenda nacional gira em torno dessa guerra política, agravada pela eleição de uma Câmara dos Deputados cuja marca tem sido a irresponsabilidade.

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Em pé-de-guerra, a oposição à direita vem se recusando a aceitar o resultado da eleição presidencial enquanto que, pela esquerda, oposição e parte do governismo perderam-se em um alheamento da realidade que acredita que é possível a economia retomar o prumo sem ajustar as contas públicas, estraçalhadas pelo desaparecimento do investimento privado por conta, justamente, da instabilidade política.

Até 2013, o Brasil financiou o crescimento da economia, do emprego e da renda através do investimento privado, que vinha crescendo. Com o país atraindo investidores estrangeiros e estimulando os investidores nacionais a apostar nos negócios, foi possível criar mais de uma década de melhora das condições de vida do povo.

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A partir da conflagração do país no ensaio de guerra civil que eclodiu naquele ano, a retração do investimento (nacional e estrangeiro) colocou a economia em coma. Paramos de crescer.

O governo apostou no investimento público, aprofundando a renúncia fiscal como forma de animar o empresariado a manter o nível de emprego e os investidores a abrirem a carteira.

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Eis que a política entra em cena a partir da insurreição do Ministério Público e da Polícia Federal, que, estimulados pelas condenações draconianas e suspeitas dos réus do mensalão, passaram a ignorar o Estado de Direito e a promover operações espetaculosas em que o show substituiu a circunspeção exigível em investigações policiais.

Nesse momento, fanáticos de ultradireita se animaram a mostrar a cara – e as garras – após décadas de hibernação forçada pela redemocratização do país. Eis que a sede de poder da centro-direita partidária e midiática decidiu dar corda aos fanáticos para que fizessem o trabalho sujo, contemporizando até com o fascismo, que saiu do Facebook e ganhou as ruas.

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Com a ascensão de um despachante histórico das corporações à Presidência da Câmara dos Deputados, ocorreram dois fenômenos: o primeiro foi o Brasil descobrir quanto poder tem o presidente daquela Casa e, o segundo, foi a transformação desse enorme poder em instrumento de chantagem de pseudo "sócios" do governo e de vingança da oposição.

O resultado do autismo da esquerda e da má fé da direita já se reflete de forma avassaladora na economia. O ajuste fiscal de 66 bilhões de reais não será alcançado. Com isso, uma crise que poderia terminar este ano já estende seus tentáculos sobre 2016.

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Enquanto o país não ajusta as contas públicas (receita maior que despesa) e o governo é mantido manietado pelo alheamento ou pelo oportunismo de aliados e "aliados" e pela fúria descontrolada dos inimigos políticos, a garantia de prolongamento da crise é cada vez mais sólida.

A meta de economia de 1,1%do PIB não será atingida. Talvez metade dela. Desse modo, um ajuste que poderia se circunscrever a 2015 prosseguirá em 2016 – e que ninguém se engane, ou o Brasil atinge a meta e, assim, atinge a condição de despesa menor que receita, ou o país vai afundar ainda mais em recessão e desemprego.

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Quanto mais a política (à esquerda e à direita) dificulta o ajuste fiscal, quanto mais armadilhas o Congresso, liderado pelos presidentes encrencados das duas casas, sabota e/ou chantageia o governo criando "bombas fiscais" como aprovação de despesas maiores para pagamento de aposentados e outras medidas que não têm cobertura financeira, mais a crise se prolonga e mais os brasileiros sofrerão agruras econômicas.

Chegamos a um ponto limite. A ameaça de Eduardo Cunha de "explodir o governo" é, na verdade, ameaça de explodir o país, ou melhor, de explodir a economia.

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Quem paga por isso? Você, caro leitor.

Se quem lê estas palavras for antipetista, a reação provável será a de subir em um banquinho e discursar contra os (supostos) pecados dos governos petistas que conduziram a economia a essa situação. Se for da esquerda caviar, discursará sobre "estelionato eleitoral" e sobre a necessidade de uma desnecessária "crítica pela esquerda" que nada mais é do que colaboração com o golpismo e com o afundamento da economia.

Chega de politicagem. Os 200 milhões de brasileiros não querem saber disso. O país precisa sair dessa. Até mesmo para a oposição não interessa herdar uma massa falida, caso vença em 2018.

O golpe não acontecerá como pensa a direita golpista. Haverá uma guerra política antes. Nesse interim, quem chegar ao poder encontrará um país economicamente arrasado e terá que dar respostas que a parcela da população que apoia o golpe espera que sejam dadas.

O golpe não acontecerá ou acontecerá após uma luta fratricida e, nesse contexto, os setores da sociedade que condescendem com tal estupro da democracia acreditam que bastará tirar o PT do poder para tudo se resolver como por mágica.

Não será assim. Quem assumisse agora encontraria uma crise muito pior do que a que há neste momento e demoraria para dar alguma solução a ela, se é que daria. Afinal, a sabotagem mudaria de lado. O ajuste fiscal, agora, teria que ser muito mais duro e quem herdar o butim estará esperando uma farra com a chave do cofre que lhe cairá nas mãos.

A única solução viável, neste momento, é um pacto político. Caberia às lideranças do governo e da oposição, aos movimentos sociais, ao empresariado, à mídia e até ao Ministério Público, à Polícia Federal, ao Judiciário e a quem mais puder colaborar, sentarem-se todos para discutir uma agenda mínima.

Pelo lado das investigações de corrupção, a partir de agora deveriam ocorrer discretamente. Não se propõe que sejam abandonadas, mas devem deixar de ser espetáculo. Já.

Pelo lado do Congresso e dos partidos, é chegada a hora de aprovar medidas, com celeridade e eficiência, para equacionar receita e despesa.

Pelo lado da mídia e das lideranças políticas à direita e à esquerda, seria tranquilizador para o país se todos aparecessem publicamente comunicando à nação que diferenças serão postas de lado até que a economia se estabilize.

Ao contrário do que poderia pensar a oposição, ela lucraria muito ao demonstrar que está colocando o país acima de suas ambições políticas. Ao governo caberia reconhecer a colaboração da oposição, recompensando-a publicamente pela atitude madura e responsável.

À mídia, caberia parar de colocar lenha na fogueira, desfazendo a imagem de golpista e de abutre com que é vista por amplos setores da sociedade.

A oposição já ganhou discurso para 2018. E se atuar para que o país saia da crise, terá esse ativo a seu favor. O governo e o PT, poderão argumentar que não hesitaram em compartilhar decisões com os representantes da minoria, em um gesto de desprendimento e republicano. A mídia, finalmente poderia demonstrar sua utilidade.

A alternativa a iniciativas republicanas a serem adotadas por TODOS os agentes políticos e econômicos é o caos, é o estabelecimento de uma situação imprevisível que certamente irá surpreender inclusive àqueles que pensam que estão ganhando o jogo.

A situação econômica do país já começa a mudar de patamar. É como se o paciente tivesse que tomar uma colher de sopa de um remédio amargo todos os dias, mas como só aceita tomar uma colherinha de café a doença, além de não ceder, ameaça piorar. Ou esse paciente para de agir como criança ou sua gripe irá se transformar em pneumonia.

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