Pelas barbas do profeta! Forças do atraso vetaram Mozart

"É uma aberração existir uma bancada evangélica no Congresso de um estado laico e mais que isso: impor sua agenda retrógrada aos políticos. E os políticos têm culpa nisso porque sempre toparam essa aproximação, em troca de votos. Até que os evangélicos os dispensaram como intermediários e resolveram usar os votos em causa própria", critica o jornalista Alex Solnik sobre o veto ao nome de Mozart Neves Ramos para o Ministério da Educação

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Eu estava contente e até surpreso com a notícia de que Mozart Neves Ramos seria o ministro da Educação do futuro governo, com o qual ele, de fato, não combina. "Finalmente um ministro normal" pensei. "Finalmente um ministro que não vai dar vexame". Mas queimei minha língua. Enquanto eu pensava isso, forças do atraso da Câmara dos Deputados - a bancada evangélica - trabalhavam acintosamente contra a nomeação. Eles não admitem ministro moderado. Exigem a volta às catacumbas, ou seja, a implantação do Escola Sem Partido, a ideia mais idiota dos últimos tempos - que deve ter nascido na cabeça de quem não teve uma boa escola.

É uma aberração existir uma bancada evangélica no Congresso de um estado laico e mais que isso: impor sua agenda retrógrada aos políticos. E os políticos têm culpa nisso porque sempre toparam essa aproximação, em troca de votos. Até que os evangélicos os dispensaram como intermediários e resolveram usar os votos em causa própria.

A Igreja e o Estado estão separados em todo o mundo desde a Revolução Francesa – com exceção do Vaticano, de Israel e do Irã. O Brasil é laico desde 7/1/1890, quando foi promulgado, pelo Marechal Deodoro o Decreto n o. 119-A, escrito por Ruy Barbosa.

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Os motivos para a separação entre Igreja e Estado são óbvios. A religião se baseia em dogmas e crenças que são permanentes e inegociáveis; a política é dinâmica e se baseia em princípios e acordos que podem mudar e de fato mudam. A Igreja exige obediência dos fiéis; os cidadãos não são obrigados a obedecer ao estado. Os princípios da religião não são passíveis de discussão; os princípios da política são rediscutidos todo o tempo.

Segundo Celso Lafer, "o modo de pensar laico está na raiz do princípio da tolerância, base da liberdade de crença e da liberdade de opinião e de pensamento". A recíproca é verdadeira. Misturar Igreja e Estado levou a irracionalidades como a Inquisição, período em que a Igreja mandava queimar gente com consentimento do Estado.

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O grande responsável pelo ingresso da religião na política no Brasil é Edir Macedo. Deu o primeiro passo em 1989, obrigando seus fiéis a apoiar e eleger Fernando Collor. Depois exigiu em troca fazer uma oração evangélica na sua posse. Collor não topou – iria comprar uma briga sem fim com a Igreja Católica - mas abriu as portas do palácio para ele e sua Igreja Universal.

De lá para cá, Macedo fundou um partido – o PRB – e agora comanda, como grande eminência parda, a sua bancada evangélica, que desafia e afronta o estado laico.

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Em meio ao burburinho da posse de Collor, no Palácio do Planalto, Macedo tirou os sapatos e as meias. Ao amigo que o acompanhava e que não entendeu o gesto, ele explicou o que seria um ensinamento bíblico:

"A gente tem que pisar com os pés o território que pretende conquistar".

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