Pela construção de uma cultura de paz
O Brasil, por seu turno, quebrou um recorde indesejado, teve o maior número de pessoas assassinadas em um ano, segundo dados divulgados pelo o Mapa da Violência 2014 que compila dados de 2012, ao todo foram 56.337 mortes
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"Matar uma pessoa é como matar toda a humanidade"
Thierno Sylla (muçulmano que vive em Caxias, RS sobre ataques em Paris)
Sob o titulo “Sobre a humanidade em tempos sombrios” Hannah Arendt fez um discurso por ocasião da aceitação do Prêmio Lessing, na cidade Livre de Hamburgo. Tomo emprestado o titulo do discurso para refletir sobre a barbárie dos nossos dias, tanto a barbárie que nos indigna, quando aquela que as vezes passa despercebida por razões que não sei exatamente quais são.
Vivemos tempos de barbárie, tempos sombrios... Vamos a alguns exemplos.
A guerra na Síria já provocou mais de 191 mil mortes, segundo a ONU (mas há outra contagem que anuncia 318.910 mortes documentadas), bem todos nós temos amigos sírios e libaneses, mas esse fato não repercute como deveria entre nós. O numero de mortos na Síria reflete a barbárie humana e tudo acontece na terra natal dos meus amigos Fawaz e Nawaf, onde vivem seus irmãos e irmãos, sobrinhos e sobrinhas; um conflito interno que estaria sendo fomentado e financiado por interesses ocidentais, segundo o presidente sírio, mas independentemente dessa consideração entre 120 mil a 250 mil civis morreram nesse conflito, mulheres, crianças e idosos.
Na Guerra do Iraque pelo menos 112.000 civis morreram desde 2003... Isso mesmo 112.000 desde a invasão de 2003, liderada pelos Estados Unidos, que derrubou Saddam Hussein. Dados da ONU. E incluindo os combatentes de todos os lados do conflito, assim como os civis mortos sobre os quais não existe documentação, o número chega a 174.000, de acordo com o grupo Iraq Body Count, com sede na Grã-Bretanha.
O Brasil, por seu turno, quebrou um recorde indesejado, teve o maior número de pessoas assassinadas em um ano, segundo dados divulgados pelo o Mapa da Violência 2014 que compila dados de 2012, ao todo foram 56.337 mortes (o maior número desde 1980). O total de assassinatos no Brasil em 2012 superou, por exemplo, o de vítimas no conflito da Chechênia, que durou de 1994 a 1996.
Em 2014 na faixa de Gaza a Palestina foi submetida, durante 51 dias, à mais dura ofensiva militar por parte de Israel desde 2005. A operação militar deixou 2.205 palestinos mortos, dos quais 1563 eram civis, incluindo 538 jovens e crianças, tudo de acordo com o “Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários nos Territórios Palestinos Ocupados”, ou seja, são dados oficiais. Pelo lado de Israel os foguetes das milícias palestinas matou 71 pessoas, sendo seis civis.
De volta ao Brasil é impossível não comentarmos sobre o rompimento das barragens em Mariana-MG. Um desastre social, com mais de dezena de mortos e duas dezenas de desaparecidos. E há outra face da barbárie, outra face igualmente trágica: o desastre ambiental provocado pelo rompimento das barragens é irremediável, especialistas afirmam que o Rio Doce está morto. Uma análise laboratorial encomendada após o desastre encontrou na água do rio partículas de metais pesados como chumbo, alumínio, ferro, bário, cobre, boro e mercúrio...
E na França explosões e tiroteios simultâneos deixaram 112 mortos na capital francesa, além de dezenas de pessoas terem ficado feridas em outros pontos da cidade, segundo a polícia parisiense. A presidente Dilma Rousseff no discurso em reunião do grupo dos Brics, na Turquia, corretamente condenou a "barbárie da organização terrorista Estado Islâmico" nos ataques em Paris e foi dura ao dizer que a "barbárie" do Estado Islâmico precisa ser combatida.
O Papa Francisco, se pronunciou sobre os atentados. Ele disse que os atentados são uma parte do que ele disse anteriormente ser a 3ª Guerra Mundial, para ele não há justificativas para o que aconteceu em Paris, não há justificativa nem humana nem religiosa.
Concordo com o Papa Francisco, penso que para os fatos citados acima pode haver explicação, mas não há justificativa, não há justificativa para a barbárie, para a falta de humanidade nesses tempos sombrios.
Temos de refletir e agir na construção de uma cultura de paz.
Pedro Benedito Maciel Neto, 51, advogado, sócio da MACIEL NETO ADVOCACIA, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.
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