Pega, mata e esfola no JN

"O estilo das entrevistas do JN destina-se mais a manter a imagem de dureza de Bonner do que a extrair propostas dos candidatos", diz Helena Chagas

William Bonner e Renata Vasconcellos
William Bonner e Renata Vasconcellos (Foto: Divulgação/Globo)


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Ao fim e ao cabo, o Jornal Nacional não elege ninguém - assim como nenhum telejornal. Mas pode levar o sujeito a perder pontos decisivos se cometer alguma gafe - que, nesses tempos de redes sociais, acabará disseminada Brasil afora. Apesar do risco, todo mundo vai, e não só pela razoável audiência que o telejornal ainda tem, mas sobretudo para não encarar a pecha de fujão.

Mais do que o início da propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio, no próximo sábado, e o primeiro debate em televisão, no domingo, o que vem tirando o sono dos candidatos à presidência esta semana é a rodada de entrevistas do Jornal Nacional - que começa nesta segunda com Jair Bolsonaro e receberá  eu principal adversário, o ex-presidente Lula, na quinta-feira.

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O estilo "pega, mata e esfola" das entrevistas do JN destina-se muito mais a manter a imagem de dureza de William Bonner e seu telejornal querem cultivar junto ao público do que a extrair propostas concretas de governo dos candidatos.  Ao longo das últimas quatro eleições presidenciais, ao menos desde o fim dos governos de Fernando Henrique, não há um ex-candidato presidencial - inclusive entre os eleitos - que não tenha reclamado das perguntas, sempre focadas em questões destinadas a desconstruir o entrevistado.

Nas eleições de 2018, por exemplo, o normalmente tranquilo e pacífico Geraldo Alckmin, que concorria pelo PSDB, revoltou-se após ser apertado em sua entrevista ao JN. Na saída, virou-se para os editores do telejornal e disse: "Se vocês estão querendo eleger o Jair Bolsonaro, vão conseguir com essas entrevistas".

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Querendo ou não o JN, concretizou-se o vaticínio de Alckmin - embora o capitão, em sua passagem pelo telejornal, tenha batido boca com os apresentadores. Falou mal da Globo, citou Roberto Marinho nos tempos da ditadura e ainda perguntou o salário de Renata Vasconcelos.

A grande curiosidade desta rodada é se Bonner vai manter o estilo matador - e se alguém vai se beneficiar dele. Lula não deve alimentar maiores esperanças de não levar pancadas, mas enfrentou-as antes e se saiu razoavelmente bem. Tem o couro grosso. Vamos ver se consegue manter a leveza.

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Bolsonaro tanto pode vir com tudo contra a Globo, para agradar sua bolha, ou apresentar um jairzinho mais paz e amor, se for inteligente. Mas é bom que Bonner e Renata vistam seus coletes à prova de balas também.

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