Pedro Guimarães não faz ideia do que seja ética
Ao discursar que teve a vida inteira "pautada pela ética", exibindo sua família, o agora ex-presidente da Caixa citou números e resultados
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Por Gisele Federicce
No evento de lançamento do Plano Safra, onde Pedro Guimarães surpreendentemente compareceu nesta quarta-feira (29), mesmo depois das escandalosas denúncias de assédio sexual contra ele divulgadas na noite anterior pelo Portal Metrópoles, o até então presidente da Caixa Econômica Federal revelou, pelo discurso que fez, não ter qualquer ideia do que seja ética.
Guimarães fez questão de ir acompanhado da esposa - é praxe dos abusadores terem uma "família tradicional brasileira", de preferência com filhos e um longo casamento, para se blindar caso sejam flagrados em seus crimes. E em sua fala, além de ignorar as denúncias, citar a esposa e os "quase 20 anos juntos", disse ter "uma vida inteira pautada pela ética". Em seguida, deu o que para ele seria um exemplo desta trajetória.
“Tanto é verdade que quando assumi (o cargo), o banco tinha os piores ratings das estatais, dez anos de balanço com ressalvas. Uma série de questões que todos vocês sabem. E hoje a gente é um exemplo. Então eu tenho muito orgulho do trabalho de todos vocês e da maneira como eu sempre me pautei em toda a minha vida”, declarou.
Vamos agora ao significado da palavra ética, especificamente no ambiente corporativo (é a síntese de textos de sites de carreira, empresas ou universidades):
A ética profissional refere-se a princípios que regem o comportamento de um trabalhador e da sua equipe no ambiente de trabalho. São “caminhos” de como uma pessoa deve agir em relação a outras pessoas e instituições, incluindo a própria empresa onde trabalha. Mesmo que cada um possua valores próprios, todos os membros de determinado time vão usar dos mesmos princípios éticos profissionais.
No Código de Ética da Caixa Econômica Federal (acesse aqui), o banco passa por quatro tópicos: respeito, honestidade, compromisso, transparência e responsabilidade. Pedro Guimarães infringe claramente dois pontos do tópico “respeito”:
- Na Caixa, as pessoas são tratadas com ética e respeito. Repudiamos todas as atitudes de preconceito relacionadas à origem, raça, gênero, cor, idade, religião, credo, classe social, incapacidade física e quaisquer outras formas de discriminação.
- Preservamos a dignidade de dirigentes, empregados e parceiros, em qualquer circunstância, com a determinação de eliminar qualquer situação de provocação e constrangimento no ambiente de trabalho.
O que Pedro Guimarães fazia com as funcionárias não era apenas “desagradável” ou “constrangedor”. Assédio sexual é crime no Brasil, definido no artigo 216-A do Código Penal, passível de 1 a 2 anos de detenção. E sequer precisa ser físico. O Ministério Público do Trabalho, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho, na cartilha “Assédio Sexual: Perguntas e Respostas”, define o assédio sexual no ambiente de trabalho como “a conduta de natureza sexual, manifestada fisicamente, por palavras, gestos ou outros meios, propostas ou impostas a pessoas contra sua vontade, causando-lhe constrangimento e violando a sua liberdade sexual”.
De acordo com um estudo do LinkedIn em parceria com a consultoria de inovação social Think Eva, divulgado em outubro de 2020, quase metade (47%) das mulheres afirmaram já ter sofrido assédio sexual no trabalho. Entre elas, 15% pediram demissão do trabalho após o assédio. E apenas 5% delas recorrem ao RH das empresas para reportar o caso.
O tema, no entanto, ainda é tabu dentro das empresas e o risco de impunidade aos assediadores é o principal motivo alegado como barreira para a denúncia por 78,4% das 414 mulheres entrevistadas em todo o país. Outras 63,8% alegaram políticas ineficientes para combater o assédio e o medo foi maior para 63,8% delas.
Pedro Guimarães desconhece o que seja ética e também que tenha cometido crimes. Ou pior: tinha conhecimento e seguiu em frente mesmo assim.
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