Pedro e a pedra filosofal
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I
Sob Pedro há uma pedra.
Pedro e a pedra existem, mas só Pedro sabe de si – e da pedra.
Pedro e a pedra resistem, mas só Pedro sabe de si – e da perda.
Sobre Pedro há uma pedra.
II
Pedro,
que existe para si,
olha, fixamente,
para a pedra,
que existe
para o outro.
Pedro, trêmulo, fecha os olhos.
A pedra lembrada por Pedro, imagem.
A pedra desejada por Pedro, miragem.
Miragem mole, pedra dura.
Duro, Pedro só estala.
Dura, a pedra só está lá.
Em si, a pedra é dura, tangível e inanimada.
(O outro de pedra, corpo.)
Em Pedro, a pedra, animadíssima, é mole e tangível.
(O outro da pedra, aura.)
Seria o desejo o quem da pedra?
Seria o desejo alguém na pedra?
III
Pedro pode olhar para a pedra.
A pedra não pode olhar para Pedro.
Pedro, alado pela consciência, perpetua a liberdade.
Pedro não pode matar a pedra.
A pedra pode matar Pedro.
Pedro atado à consciência: prisão perpétua.
IV
Pedro pode olhar para a pedra.
A pedra não pode olhar para Pedro.
Pedro pode olhar para si mesmo
(Pedro é sujeito e objeto de si mesmo).
Pedro existe para si mesmo
(Pedro, sendo uno, é duplo).
Pedro existe em si mesmo.
(Pedro é um outro para si mesmo).
A pedra não pode olhar para si mesma.
A pedra existe para o outro.
A pedra, sem o olhar de Pedro, existe em si mesma?
Intangível, a consciência de Pedro pode olhar.
Tangível, a pedra cega não tem consciência.
Para a consciência de Pedro (sujeito),
o corpo de Pedro é algo exterior
como a pedra (objeto):
como uma ponte,
a consciência (sujeito-objeto) une
as margens do ser.
V
Possuído pela fúria, Pedro se vinga com a pedra.
(Pedra do louco.)
Possuído pela culpa, Pedro é a vingança da pedra.
(Louco de pedra.)
VI
Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei o meu reino:
“Pedras da lei!” – decreta Pedro, o revolucionário.
“Leis de pedra!” – vocifera Pedro, o torturador.
Onde está a lápide do meu filho, Pedro?
VII
Tu és pedra, e sobre este Pedro edificarei o meu reino:
“Pedras da lei!” – discursa Pedro, o revolucionário.
“Leis de pedra...” – balbucia Pedro, o torturado.
Onde está a lápide do meu filho Pedro?
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