Pedagogia da liberdade



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Escrevemos esse artigo em oposição ao artigo do Ilustre Vereador Nelson Hossri, que no último domingo fez referência nada elogiosa ao mais ilustre educador brasileiro e nenhuma referência negativa é justa quando direcionada a Paulo Freire.

Registro necessário. Paulo Freire é o alvo mais ilustre da guerra cultural do bolsonarismo, mas segue mais vivo do que nunca, resistente e teimoso, apesar do objetivo traçado por Olavo de Carvalho, guru do presidente da República, de banir o pensamento freiriano do ambiente educacional brasileiro.

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O seu centenário, completado esse ano, vem trazendo celebrações sobre sua vida e obra, em todo país, para desespero de analfabetos funcionais e imbecis, como o ex-ministro olavo-bolsonarista Abraham Weintraub. 

Usando seu vocabulário de habitué fréquent des bordels Bolsonaro chamou Freire de “energúmeno”, prometeu substitui-lo como patrono da educação; uma das barbaridades que promete para manter a estupidez e a incivilidade vicejantes na extrema-direita.

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Alguns projetos foram apresentados no congresso nacional com este objetivo, mas nada foi adiante, por enquanto a sanidade congressual vence a barbárie.

Mas quem foi de fato Paulo Freire?

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Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, formou-se em direito, mas viveu para o magistério. Suas ideias pedagógicas se formaram da observação da cultura dos alunos - em particular o uso da linguagem - e do papel elitista da escola. 

Em 1963, em Angicos, RN, chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês, chamou atenção do mundo e coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do governo João Goulart.

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Com o golpe de 1964 passou 70 dias na prisão antes de se exilar no Chile; deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos; com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. 

Pelo seu trabalho e sua obra foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas.

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Ele nos deixou em 1997, sua obra é uma reflexão sobre o significado da educação, uma concepção de educação embutida numa concepção de mundo. 

Conhecido principalmente pelo método de alfabetização de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedagógico assumidamente político, não dissimulado e covarde como a alienante “Escola sem partido”.

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Para Freire, o objetivo maior da educação é conscientizar, levar o aluno a conhecer e compreender sua condição e agir em favor da própria libertação, exatamente como fazia o baiano Milton Santana na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, para desespero do catolicismo burguês.  

O principal livro de Freire é a “Pedagogia do Oprimido”, escrito no Chile, os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra.Propôs uma prática de sala de aula que desenvolvesse a criticidade dos alunos, condenou o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas, na qual o professor deposita conhecimento num aluno “receptivo e dócil”; ele propôs a ruptura com a escola alienante (e não menos ideologizada do que a que ele propunha), para despertar a consciência dos alunos.Sua tônica fundamentalmente reside em despertar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educação freireana tem a intenção de inquietar o aluno, desenvolver a consciência e a capacidade de formular ideias, não apenas reproduzi-las.Para ele a missão do professor é possibilitar a criação e a produção de conhecimentos; previa para o professor um papel diretivo e informativo - portanto, ele não pode renunciar a exercer autoridade.Segundo o pensador pernambucano, o profissional de educação deve levar os alunos a conhecer conteúdos, mas não como verdade absoluta, pois “ninguém ensina nada a ninguém, mas as pessoas também não aprendem sozinhas. Os homens se educam entre si mediados pelo mundo", isso implica um princípio fundamental para Freire: o de que o aluno, alfabetizado ou não, chega à escola levando uma cultura que não é melhor nem pior do que a do professor, essa concepção é revolucionária.Em sala de aula, os dois lados aprenderão juntos, um com o outro - e para isso é necessário que as relações sejam afetivas e democráticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar. Uma das grandes inovações da pedagogia freireana é considerar que o sujeito da criação cultural não é individual, mas coletivo. Seu método propõe a identificação e catalogação das palavras-chave do vocabulário dos alunos - as chamadas palavras geradoras. Elas devem sugerir situações de vida comuns e significativas para os integrantes da comunidade em que se atua, como por exemplo "tijolo" para os operários da construção civil.

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Diante dos alunos, o professor mostrará lado a lado a palavra e a representação visual do objeto que ela designa. Os mecanismos de linguagem serão estudados depois do desdobramento em sílabas

A partir das palavras geradoras, a descoberta surge em diferentes possibilidades silábicas e permite o estudo de todas as situações que possam ocorrer durante a leitura e a escrita. É um método que favorece a pessoa incorporar as estruturas linguísticas do idioma materno. 

O uso de palavras geradoras continua em uso com sucesso em programas de alfabetização em diversos países do mundo.O aprendizado se torna mais rápido e acessível e habilita o aluno a "ler o mundo", na expressão famosa do educador: “Trata-se de aprender a ler a realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)”.A alfabetização é, para o educador, instrumento de libertação e consciência, de igualdade e ética, um modo de todos romperem o que chamou de "cultura do silêncio", transformando a própria realidade, "como sujeitos da própria história" e não como mero coadjuvantes.

Essas são as reflexões.

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