Paz na Ucrânia

A guerra travada está longe de acabar

(Foto: State Emergency Service of Ukraine/Reuters)


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A guerra travada pelos Estados Unidos e pela OTAN (países subordinados da Europa) contra a Rússia tendo os ucranianos como carne de canhão, está longe de acabar. É ainda uma miragem distante que se desfaz e refaz a cada momento, sem nenhuma base real de concretização. Enquanto isso quem mais sofre é o povo ucraniano, uma parte em diáspora pelo mundo, outra a sofrer privações de todo tipo, como a falta de energia no rigoroso inverno e os bombardeios russos.

O Brasil, com o novo governo democrático do presidente Lula, começou se apresentado ao mundo como defensor da paz, a ideia ressoou bem, sugerindo a formação de um grupo de países neutros, os quais, por sua neutralidade, são (ou seriam) os mais indicados a intermediar a paz. Justa proposta que pode render frutos, cedo ou mais tarde. Mas vamos confrontar a proposta com as ações e a realidade.

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Na primeira oportunidade que o Brasil teve de se manifestar deforma concreta sobre o assunto, quando, comemorando um ano da guerra, os EUA propuseram na ONU através dos europeus, mais uma resolução sem eficácia, condenando a Rússia pela invasão da Ucrânia e exigindo sua retirada total; o Brasil votou a favor. Não se absteve, como era de se esperar, como aliás fizeram todos os países dos BRICS, articulação multicontinental formada ao tempo do governo Lula anterior.

Ora, quem toma partido, apoia uma parte contra outra, enfraquece sua neutralidade, debilitando, pois, a possibilidade de intermediar a solução do conflito. Note-se que, antes do voto anti-Rússia na ONU, um porta voz daquele país havia informado que a Rússia estava estudando a proposta do Brasil. Depois, foi o próprio presidente Putin quem declarou que a Rússia não necessitava da intermediação do Brasil para negociar o fim da guerra, pelo menos por enquanto. Claro que a posição russa expressa por seu presidente não decorre apenas do voto brasileiro na ONU, foi decidida sob influência de vários fatores.

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Mais recentemente, em conversa telefônica com o presidente ucraniano Zelensky, Lula teria declarado que defende a integridade territorial da Ucrânia. Diante da afirmativa vem a pergunta: o que é a Ucrânia, qual seu verdadeiro território? A Criméia, é parte da Ucrânia ou da Rússia? E os territórios do Donbass, de população russa, que pelos acordos de Minsk de 2015 ganharam relativa autonomia, e foram, ao longo de anos, bombardeados pelos nazistas do Batalhão Azov, provocando milhares de vítimas, é território ucraniano? Os acordos de Minsk foram de mentirinha apenas para ganhar tempo e fortalecer a Ucrânia como apêndice da OTAN, como hoje reconhecem Ângela Merkel e François Hollande que então o assinaram? Indo mais ao passado: a própria origem da nação russa, não começou em Kiev ao tempo final das invasões mongóis?

Perguntas desse tipo estarão na mesa de negociação de uma conferência de paz que seja verdadeira e pretenda solução duradoura. E qualquer posição ortodoxa que não aceite discutir estes pontos como princípio de tudo, inviabiliza qualquer negociação. 

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Agora vejamos a realidade da guerra. 

Ao iniciar sua operação especial contra a Ucrânia, a Rússia, que já tinha como questão resolvida a reincorporação da Crimeia (província que ao tempo da União Soviética foi colocada sob administração da Ucrânia), destacou três objetivos maiores: destruir as forças nazista (Batalhão Azov) que agia criminosamente contra as populações de origem russa com o apoio do governo Zelensky; garantir o cumprimento dos acordos de Minsk que davam autonomia à região do Donbass e impedir a incorporação da Ucrânia à OTAN. 

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Ora, se fizermos um balanço hoje, passados doze meses de guerra, temos de reconhecer: a Rússia foi vitoriosa em seus objetivos. E não se pode pedir paz –em nenhuma guerra jamais foi assim –, exigindo que o vitorioso abra mão de sua vitória. Os crimes de guerra precisam ser apurados e condenados, claro. Por certo o lado russo os cometeu vários. Quem cometeu mais, não sei. Mas se os crimes do Batalhão Azov, praticados há quase uma década forem conferidos do lado ucraniano, por certo que estes foram muito mais significativos. 

Vejamos cada um dos objetivos russos. O Batalhão de Azov foi aniquilado principalmente após a vitória russa na conquista do porto de Mariupol. Grande número de nazistas foram aprisionados e levados à Rússia para julgamento. Por certo muitos ficaram refugiados em Kiev sob guarda de Zelensky, mas o nazismo perdeu sua grande força ucraniana. Os territórios do Donbass compostos das hoje repúblicas de Donestsk e Lugansk, foram ocupados pela Rússia, que ainda avançou em outras áreas, estas plenamente ucranianas, como a de Kherson. Por fim, no que diz respeito ao desejo do império de integrar a Ucrânia a seu grupo de guerra denominado OTAN, embora, de fato, tenham feito da Ucrânia uma tipo de colônia especial (recebe as armas e trava a guerra por procuração), mas o próprio “estado de guerra” impede a incorporação formal do país ao Tratado belicista. 

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Esta questão – levar a aliança de guerra da OTAN até a fronteira russa – é o ponto mais importante a considerar no mundo atual se se quer paz verdadeira. Lembram-se da crise dos mísseis em Cuba de 1962? Ora, era justo que os Estados Unidos bloqueassem Cuba e ameaçassem bombardeá-la até a destruição dos mesmos? Era justo que os EUA não admitissem armas nucleares em seus calcanhares? Se assim foi, é justo hoje que os EUA coloquem suas armas nucleares na mais extensa fronteira com o coração da Rússia? E é justo que os EUA reneguem todos os acordos, compromisso e palavras de quem se esperava que tivesse palavra, de não promover a expansão a leste de sua máquina de guerra da OTAN após o fim do Tratado de Varsóvia e da União Soviética? Tudo isso não demonstra que o principal objetivo dos EUA e de seu instrumento, a OTAN, é liquidar a Rússia como potência, tornando-a mais um estado títere como é a maioria da Europa? E neste caso, tem ou não a Rússia, o direito de defender-se?

Quem e o mais interessado hoje na paz? Deveria ser a Ucrânia, derrotada no campo militar e no objetivo de seu opositor. Mas a Ucrânia tem autonomia para decidir seu interesse próprio? Quem decide seu interesse, é Zelensky ou ele é um mero títere do ocidente?

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Ora, a Rússia iniciou conversações de paz na Bielorrússia logo depois de iniciada a guerra. Quem a bloqueou foram os EUA poucos dias depois. Mais tarde, novas negociações foram intermediadas pela Turquia, mas estas foram bloqueadas desta vez pelo vassalo estadunidense, a Inglaterra. Então, quem está impedindo negociações de paz senão o dito “ocidente”?

A quem está interessando a continuidade da guerra? O país que está mais lucrando é os Estados Unidos, que, ao fazer dos ucranianos mera bucha de canhão, fortalecem seu complexo industrial-militar, sustentáculo maior da combalida economia do império. Já foram 33 grandes remessas de armas, (US$ 50 bilhões no total) a última das quais de 400 milhões de dólares! E que morram os ucranianos! Para que terminar a guerra sem conquistar o objetivo de destruir a Rússia?

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A maioria das armas que chegam à Ucrânia são destruídas pelos mísseis russos, não mudando o equilíbrio militar onde os russos têm levado clara vantagem. Kiev já perdeu a guerra, como bem avalia o general Sandor, chefe da inteligência tcheca em recente declaração.

As sanções econômicas contra a Rússia não tiveram maior efeito, mas provocaram dois grandes problemas para o ocidente: a falta de combustíveis, inflação etc na Europa e por outro e mais grave: fortaleceu a multipolaridade do mundo e está acabando com o dólar como moeda “universal”. E o ucranianos? Continuam sofrendo, sem ver uma luz ao fim do túnel, enquanto cresce o descontentamento, inclusive nos meios militares, contra o desempenho do presidente Zelensky comotítere do ocidente.

O Brasil precisa pensar bem no que faz, não pode cair nas armadilhas da experiente diplomacia dos EUA. A neutralidade plena é a única saída honrosa a favor de um mundo de paz!

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