Paulo Guedes volta ao mercado e abre empresa de consultoria em Curitiba, a capital da "república de Moro"
Governo do Paraná prepara concessão de rodovias e a privatização da Copel, mas advogada garante que atuação do ex-ministro da Fazenda será na área educacional
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Depois da quarentena de seis meses, o ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes já prepara sua volta ao mercado. Ele acaba de abrir uma empresa de consultoria em Curitiba, a PG & A Consulting Ltda, em sociedade com a esposa, Maria Cristina Bolivar Drumond Guedes, e a filha, Paula Drumond Guedes.
Guedes tem 50% das cotas e filha, os outros 50%. A esposa aparece nos registros da Junta Comercial como administradora. A advogada responsável pela abertura da empresa, Anne Carline Marciquevik Alves, diz que a criação da PG & Consulting Ltda está ligada a projetos de Guedes na área educacional.
"Um MBA em economia que será divulgado nas próximas semanas e um outro programa em sustentabilidade que também será divulgado neste semestre", afirmou Anne. Perguntei se a empresa dele na cidade estaria ligada à privatização da Copel e à concessão de rodovias.
"Ele não está atuando nesta dinâmica. O endereço está no Paraná por conveniência. Ele está trabalhando em projetos de educação, sem nenhuma referência com o poder público", respondeu a advogada.
Guedes era muito próximo da chamada República de Curitiba, uma expressão positiva para muitos no passado, mas que hoje é associada a conluio judicial, depois que Sergio Moro foi julgado parcial e suspeito pelo Supremo Tribunal Federal.
Foi Guedes quem articulou a ida de Moro para o governo de Jair Bolsonaro, quando ele ainda era o juiz da Lava Jato. O próprio Moro conta em sua autobiografia que acertou a nomeação para o Ministério da Justiça com Guedes, em um churrasco na cidade de Curitiba, com a presença de apenas quatro pessoas.
Além dos dois, estavam presentes um amigo do ex-ministro da Fazenda e um amigo de Moro, responsável pelo churrasco, possivelmente Carlos Zucolotto Júnior, que é advogado e lobista, e que foi definido por Rosângela Moro como um "excelente churrasqueiro".
O nome de Paulo Guedes também apareceu nas investigações da Lava Jato sobre suspeita de corrupção envolvendo a construtora Triunfo, que pertence a um primo de Rosângela Moro e detinha concessão de uma das rodovias estaduais do Paraná.
Guedes era do Conselho de Administração da Triunfo e outra empresa de consultoria dele, a GPG Consultoria Econômica, sediada no Rio de Janeiro, depositou em agosto de 2007, na conta da empresa Power Marketing, o equivalente hoje a R$ 1,8 milhões (na época, eram R$ 560 mil).
A Power Marketing era do advogado e jornalista Carlos Felisberto Nasser, assessor do então prefeito de Curitiba, Beto Richa. Nasser fazia campanhas políticas no Paraná, e sua empresa tinha como cliente a Triunfo.
No dia em que a empresa de Paulo Guedes depositou os recursos, Nasser fez o saque em dinheiro de quase toda a quantia. Para a equipe de Deltan Dallagnol, o que Nasser fazia era receber e pagar propina, dentro de um suposto esquema do grupo político de Beto Richa.
A denúncia contra Nasser foi feita pela Lava Jato em abril de 2018, num processo que teve repercussões políticas. Começava o desgaste de Beto Richa, então candidato a senador, e a ascensão de seus oponentes ligados ao grupo de Moro: Oriovisto Guimarães e Flávio Arns, que acabariam eleitos.
Outro favorito naquela eleição, Roberto Requião, que tinha o apoio do PT, também perdeu.
O curioso é que o nome de Paulo Guedes não apareceu na denúncia do MPF, mas ele acabou arrolado como testemunha por outros denunciados.
Em vez de ouvir Guedes, como pediam os acusados, Moro, num primeiro momento, encaminhou perguntas por escrito à empresa, e os denunciados acabaram desistindo de ouvir Guedes.
"Poucos dias depois, em 11 de junho, em resposta a pedidos dos advogados de defesa, Moro reconheceu a incompetência da 13ª Vara para julgar o caso, por não haver conexão direta com crimes da Petrobras, e o caso foi remetido para a 23ª Vara Federal de Curitiba, onde ainda tramita", informou a revista Época, em reportagem de agosto de 2019.
O que Época não menciona é que, depois de aceitar a denúncia contra Nasser e outros denunciados no caso Triunfo/Beto Richa, e concordar ou articular a blindagem de Guedes feita pelo MPF, Moro se tornou próximo do então homem forte da campanha de Jair Bolsonaro.
Tão próximo que, entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018, Moro e Guedes selaram o acordo: o juiz iria para o governo Bolsonaro, com a promessa de que iria depois para o STF.
Quase cinco anos depois, Guedes agora tem empresa sediada em Curitiba -- ele tem CNPJ no Rio, São Paulo e até em Paraíso, mas será sua estreia na capital paranaense. Mas os ventos mudaram de direção, pelo menos no que diz respeito a Moro.
Caiu a farsa do juiz exemplar, construída, em grande parte, com apoio da mídia corporativa, e começa a se desvendar o que parece ser a verdadeira face de Moro, a partir de entrevistas de seus alvos: um chantagista que usou a toga para enriquecer e acumular poder.
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