Paulo Guedes volta ao mercado e abre empresa de consultoria em Curitiba, a capital da "república de Moro"

Governo do Paraná prepara concessão de rodovias e a privatização da Copel, mas advogada garante que atuação do ex-ministro da Fazenda será na área educacional

Sérgio Moro e Paulo Guedes
Sérgio Moro e Paulo Guedes (Foto: Agência Brasil)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Depois da quarentena de seis meses, o ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes já prepara sua volta ao mercado. Ele acaba de abrir uma empresa de consultoria em Curitiba, a PG & A Consulting Ltda, em sociedade com a esposa, Maria Cristina Bolivar Drumond Guedes, e a filha, Paula Drumond Guedes.

Guedes tem 50% das cotas e filha, os outros 50%. A esposa aparece nos registros da Junta Comercial como administradora. A advogada responsável pela abertura da empresa, Anne Carline Marciquevik Alves, diz que a criação da PG & Consulting Ltda está ligada a projetos de Guedes na área educacional.

continua após o anúncio

"Um MBA em economia que será divulgado nas próximas semanas e um outro programa em sustentabilidade que também será divulgado neste semestre", afirmou Anne. Perguntei se a empresa dele na cidade estaria ligada à privatização da Copel e à concessão de rodovias.

"Ele não está atuando nesta dinâmica. O endereço está no Paraná por conveniência. Ele está trabalhando em projetos de educação, sem nenhuma referência com o poder público", respondeu a advogada.

continua após o anúncio

Guedes era muito próximo da chamada República de Curitiba, uma expressão positiva para muitos no passado, mas que hoje é associada a conluio judicial, depois que Sergio Moro foi julgado parcial e suspeito pelo Supremo Tribunal Federal.

Foi Guedes quem articulou a ida de Moro para o governo de Jair Bolsonaro, quando ele ainda era o juiz da Lava Jato. O próprio Moro conta em sua autobiografia que acertou a nomeação para o Ministério da Justiça com Guedes, em um churrasco na cidade de Curitiba, com a presença de apenas quatro pessoas.

continua após o anúncio

Além dos dois, estavam presentes um amigo do ex-ministro da Fazenda e um amigo de Moro, responsável pelo churrasco, possivelmente Carlos Zucolotto Júnior, que é advogado e lobista, e que foi definido por Rosângela Moro como um "excelente churrasqueiro".

O nome de Paulo Guedes também apareceu nas investigações da Lava Jato sobre suspeita de corrupção envolvendo a construtora Triunfo, que pertence a um primo de Rosângela Moro e detinha concessão de uma das rodovias estaduais do Paraná.

continua após o anúncio

Guedes era do Conselho de Administração da Triunfo e outra empresa de consultoria dele, a GPG Consultoria Econômica, sediada no Rio de Janeiro, depositou em agosto de 2007, na conta da empresa Power Marketing, o equivalente hoje a R$ 1,8 milhões (na época, eram R$ 560 mil).

A Power Marketing era do advogado e jornalista Carlos Felisberto Nasser, assessor do então prefeito de Curitiba, Beto Richa. Nasser fazia campanhas políticas no Paraná, e sua empresa tinha como cliente a Triunfo.

continua após o anúncio

No dia em que a empresa de Paulo Guedes depositou os recursos, Nasser fez o saque em dinheiro de quase toda a quantia. Para a equipe de Deltan Dallagnol, o que Nasser fazia era receber e pagar propina, dentro de um suposto esquema do grupo político de Beto Richa.

A denúncia contra Nasser foi feita pela Lava Jato em abril de 2018, num processo que teve repercussões políticas. Começava o desgaste de Beto Richa, então candidato a senador, e a ascensão de seus oponentes ligados ao grupo de Moro: Oriovisto Guimarães e Flávio Arns, que acabariam eleitos.

continua após o anúncio

Outro favorito naquela eleição, Roberto Requião, que tinha o apoio do PT, também perdeu.

O curioso é que o nome de Paulo Guedes não apareceu na denúncia do MPF, mas ele acabou arrolado como testemunha por outros denunciados.

continua após o anúncio

Em vez de ouvir Guedes, como pediam os acusados, Moro, num primeiro momento, encaminhou perguntas por escrito à empresa, e os denunciados acabaram desistindo de ouvir Guedes.

"Poucos dias depois, em 11 de junho, em resposta a pedidos dos advogados de defesa, Moro reconheceu a incompetência da 13ª Vara para julgar o caso, por não haver conexão direta com crimes da Petrobras, e o caso foi remetido para a 23ª Vara Federal de Curitiba, onde ainda tramita", informou a revista Época, em reportagem de agosto de 2019.

O que Época não menciona é que, depois de aceitar a denúncia contra Nasser e outros denunciados no caso Triunfo/Beto Richa, e concordar ou articular a blindagem de Guedes feita pelo MPF, Moro se tornou próximo do então homem forte da campanha de Jair Bolsonaro.

Tão próximo que, entre o primeiro e o segundo turno da eleição de 2018, Moro e Guedes selaram o acordo: o juiz iria para o governo Bolsonaro, com a promessa de que iria depois para o STF.

Quase cinco anos depois, Guedes agora tem empresa sediada em Curitiba -- ele tem CNPJ no Rio, São Paulo e até em Paraíso, mas será sua estreia na capital paranaense. Mas os ventos mudaram de direção, pelo menos no que diz respeito a Moro.

Caiu a farsa do juiz exemplar, construída, em grande parte, com apoio da mídia corporativa, e começa a se desvendar o que parece ser a verdadeira face de Moro, a partir de entrevistas de seus alvos: um chantagista que usou a toga para enriquecer e acumular poder.

A ficha cadastral da empresa recém-aberta
A ficha cadastral da empresa recém-aberta(Photo: Reprodução)Reprodução



iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247