Pasmem! Racionamento no berço das águas
Nenhum de nós deixou sua terra natal e veio viver em Brasília acreditando que pudesse ocorrer, o que está prestes a acontecer, já e agora: viver sob o racionamento de água anunciado nesta quinta-feira pelo governador Rodrigo Rollemberg
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Os brasilienses pioneiros e os que aqui nasceram e conhecem a história da origem de Brasília estão perplexos. Angustiados.
Nenhum de nós deixou sua terra natal e veio viver em Brasília acreditando que pudesse ocorrer, o que está prestes a acontecer, já e agora,: viver sob o racionamento de água anunciado nesta quinta-feira pelo governador Rodrigo Rollemberg.
Absurdo dos absurdos onde chegamos. Em 57 anos conseguimos comprometer seriamente uma das maiores riquezas do Planalto Central e, por que não afirmar, do Brasil: nascentes de suas maiores bacias hidrográficas.
Aqui nascem rios que correm para o norte e o sul formando parte da Bacia Amazônica e da Bacia Platina.
O que viu lá do céu a comitiva da primeira viagem de Juscelino Kubitschek ao Planalto Central ao olharem o Cerrado foram centenas de nascentes afloradas, minúsculas lagoas brilhando a luz do sol.
Além de segurança estratégica, a existência de abundância de água aqui sempre foi, desde o Império, razão para fundamentar a transferência da capital para o Planalto Central.
E o que nos resta hoje das belezas anotadas por botânicos e geógrafos de então?
Ao chegarmos hoje à capital vemos muito mais asfalto, muito mais prédios e muito mais altos, que definitivamente não cabiam no sonho de Niemayer e Lúcio Costa.
Enxergamos milhares de quadradinhos azuis, piscinas de centenas de condomínios espalhados criminosamente pela grilagem de terras públicas ou privadas nas colinas dos arredores de Brasília.
Construídos desordenadamente sobre áreas de preservação ambiental e nascentes, grande parte de seus moradores praticam sem serem incomodados pela fiscalização a cultura irresponsável dos poços artesianos.
Esse morador de Brasília, que fugiu para os condomínios como alternativa de moradia diante dos preços extorsivos das grandes construtoras no Plano Piloto e proximidades, sequer imagina que a falta d'agua, aquele conversa chata de ambientalista exagerado, é um futuro que já chegou.
Não percebem que furar o terceiro poço artesiano mais fundo, quando o primeiro e o segundo já secaram para lavar calçadas carros e aguar gramados gratuitamente é cavar o buraco de seus próprios filhos.
Imaginem, se de 1960 para cá, a Estação Ambiental de Águas Emendadas, que é uma área protegida, perdeu cerca de 60% de suas nascentes, o que aconteceu com o resto do DF, onde por muito tempo vigorou a praxe vergonhosa da distribuição de lotes.
Governos se elegeram trocando votos pelo inchaço do DF. E a população sofre com menos segurança, menos saúde, e com agora com o racionamento de água.
Quando o lençol freático de uma região baixa como um todo não apenas as nascentes deixam de brotar na terra e desaparecem como danos muito maiores podem ocorrer.
Pasmem, mas é isso mesmo: aquelas camadas de terra existentes acima do lençol, freático - que varia de profundidade conforme a região, 4, 5, 6 metros - é sustentada pelo montante de água existente no lençol e se ele abaixa muito, o nível do solo também caí, comprometendo as estruturas das casas ali construídas.
No lugar de cobrar de uma hora pra outra da população a conta, 40% a mais – o que atinge a todos e mais ainda aqueles cidadãos que honestamente não tem poços artesianos em casa – o GDF deveria fazer uma campanha educativa sobre a importância da economia de água para o futuro de Brasília.
Como deputado distrital faço aqui um compromisso público de iniciar na Câmara Legislativa, um sério debate sobre a mudança e o aperfeiçoamento da legislação de uso de águas no DF, para um melhor uso, maior fiscalização e a previsão de um planejamento do uso dos recursos existentes para as próximas décadas.
É urgente. É grave. É vida. Se nada fizermos, a conta não virá da Caesb, já bastante salgada, mas da mãe natureza. Esta não perdoa.
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