Parem de matar os jovens da Boate Kiss

"A declaração do deputado bolsonarista apenas é juntada ao que vem acontecendo, enquanto matam as universidades", escreve o colunista Moisés Mendes

Deputado Bibo Nunes afirmou que universitários de Santa Maria (RS) sejam queimados vivos
Deputado Bibo Nunes afirmou que universitários de Santa Maria (RS) sejam queimados vivos (Foto: Bruno Peres/PSL)


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Por Moisés Mendes, para o 247

A cobertura da tragédia da Boate Kiss, em 2013, abalou jornalistas veteranos. Eu integrei a equipe de Zero Hora que esteve em Santa Maria. Por muitos dias, depois que voltei a Porto Alegre, fiquei acompanhando no jornal os nomes dos que morriam.

Não havia muito o que noticiar sobre os sobreviventes. A notícia diária era essa: morreu mais um estudante e mais outro e mais outro. E eu sabia os nomes de muitos deles.

Eram moças e rapazes cujas famílias haviam passado o dia 27 de janeiro procurando informações no Hospital de Caridade. Eu passei uma tarde com eles, dentro do hospital.

Me lembro dos nomes de muitos dos procurados. Procuravam por Andrielli. Onde está Andrielli? Ela é morena, bonita, tem um piercing na boca.

E Andrielli morreria dias depois. Procuravam por Allana. E Allana também não sobreviveu. Procuravam pelo Deives, pela Driele, pelo Herbert, pela Flávia.

A cada dia morriam mais e mais jovens. Morreram 242. Muitos deles semanas e meses depois do incêndio. Morreram Igor, Jarlene, Douglas, Evelin, Helena. Morreram três Lucas, três Leonardos e três Letícias.

E todos os 242 mortos continuam morrendo todos os dias pela incompetência do sistema de Justiça, incapaz de oferecer uma resposta reparadora e consoladora.

Maltratam suas famílias e suas memórias pela incapacidade da reparação. O sistema de Justiça não consegue nem mesmo consolar os que sobreviveram.

O júri de dezembro do ano passado, que condenou quatro réus, foi anulado. Até falhas primárias no sorteio dos jurados foram alegadas para a anulação.

Dos 242 jovens que a Justiça continua matando com seus erros, sem que existam condenados pelas mortes até hoje, 107 eram estudantes da UFSM.

Andressa de Moura Ferreira, Augusto Cezar Neves, Isabela Fiorini, Benhur Retzlaff Rodrigues e Carolina Simões Corte Real eram estudantes da UFSM.

Emili Contreira Nicolow, Henrique Nemitz Martins, Helena Dambroz, Leonardo Schoff Vendrúsculo, Lucas Foggiato, Mariana Comassetto do Canto e Guido Ramón Brítez estudavam na UFSM.

E agora aparece o deputado Bibo Nunes, a bordo da sua imunidade parlamentar, dizendo que os estudantes da UFSM devem ser consumidos vivos pelo fogo.

Só porque protestaram contra a destruição das universidades federais por Bolsonaro. É uma ofensa aos 107 estudantes da UFSM mortos no incêndio da Boate Kiss. CENTO E SETE estudavam na UFSM.

Mas todos os 242 são ofendidos, porque viviam, trabalhavam ou tinham parentes ou passeavam em Santa Maria. A cidade vive por seus vínculos com a UFSM. Todos dependem da universidade atacada sistematicamente pelo fascismo.

A extrema direita odeia a UFSM e por isso quer mais fogo. E desde 2012 o fogo é trauma insuperável de Santa Maria. Um ano depois da tragédia, na noite em que saíram às ruas para homenagear os jovens mortos, mais de 10 mil pessoas levavam balões brancos.

A Santa Maria das procissões da Medianeira e das rezas não podia carregar velas. E agora a cidade é obrigada a ouvir que um político não reeleito e em fim de mandato deseja a morte de estudantes da UFSM. Que sejam queimados vivos.

O que esperar de instituições acovardadas pelos negacionistas, pelos milicianos e pelos incendiários? Quase nada. Não esperem.

Apelem a juízes, promotores, procuradores, desembargadores e ministros das mais altas instâncias. Mas não esperem nada.

Não há o que esperar, depois de 10 anos de omissões. Matam e continuam matando os 242 jovens da Boate Kiss todos os dias.

A declaração do deputado bolsonarista apenas é juntada ao que vem acontecendo, enquanto matam as universidades, o ensino público, o SUS, as instituições e o próprio sistema de Justiça.

O descaso, os erros provocados pelo descaso, a resignação, a alienação, a covardia e o fascismo matam os 242 jovens da Boate Kiss cotidianamente. E cada vez com mais crueldade.

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